Como em 1964, a tentativa de um golpe, ou de impeachment paraguaio da presidente Dilma, não se improvisa. E custa caro, muito caro. Também não custa lembrar que foi a Fiesp quem pagou um dos maiores centros de repressão e tortura do país – a Operação Bandeirantes, a Oban.
Tijolaço
Por Fernando Brito
Irretocável artigo de Joana Monteleone e Adriano Diogo, hoje, no
Painel Acadêmico, do Uol, para ver se alguns ingênuos ainda acham que há
algo de moral e cívico nas manifestações golpistas. Como disse Brizola
sobre 64:os militares serviram para amarrar a vaquinha para muita gente
mamar…
A Fiesp e a revolução dos patos
Joana Monteleone e Adriano Diogo
Hoje, na avenida Paulista, alguns poucos paulistanos carregavam
um gigantesco pato de borracha. O Pato faz parte de uma campanha da
Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo) contra a volta da CPMF
sobre as transações financeiras. Nos últimos meses ele tem frequentado
não apenas a avenida Paulista, mas também as praias cariocas, a
esplanada dos ministérios e outros cenários turísticos do país. Apesar
do apoio massivo de publicidade e assessoria de imprensa, ninguém estava
dando a menor bola para o Pato de borracha cego dos olhos.
Nas manifestações deste dia 13 de dezembro de 2015, no entanto, o
pato da Fiesp acabou por se tornar símbolo do pedido de impeachment da
presidenta Dilma.
Esse movimento não tem nada de ocasional. Da mesma maneira que o
ato convocado para hoje, 13 de dezembro, rememora o Ato Institucional
número 5 que prendeu, torturou e assassinou os que se opunham ao regime
ditatorial, o Pato símbolo do impeachment lembra a todos o papel da
Fiesp no golpe militar – um papel do qual a Fiesp, pode-se ver hoje, se
orgulha, quando deveria envergonhar-se.
Da mesma maneira que em 1964 a Fiesp pagou para que os golpistas
se organizassem e derrubassem o presidente eleito João Goulart –
comprando armas, alugando petroleiros, pagando viagens de oficiais das
forças armadas –, hoje a Federação das Indústrias de São Paulo está
aliada ao ainda presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha
(PMDB-RJ), na tentativa de derrubar a presidente Dilma Rousseff.
Com o Pato na rua, a aliança da Fiesp com os golpistas ficou mais
do que clara – ficou evidente, óbvia, escancarada. Só não vê quem não
quer. As poucas pessoas que rodeavam o Pato não apenas sabiam dessa
ligação espúria, mas a apoiavam e aplaudiam os feitos e o dinheiro gasto
para planejar o golpe hoje curso.
O Pato da Fiesp é o nosso Cavalo de Troia, traz dentro de si o
que há de pior na política brasileira. Um Pato que não é só um Pato:
todos os dias a Fiesp, contrariando a lei da cidade limpa, faz
propaganda contra o governo federal, num show de luzes brega montado no
próprio prédio pelo senhor Paulo Skaff. Prédio este, aliás, erguido com
muitas facilidades governamentais na década de 1970, os anos mais
sanguinários do regime militar.
Um dos aspectos menos conhecidos do golpe de 1964 foi a
participação civil na derrubada do regime e a instauração da ditadura. O
apoio de empresários, de boa parte do judiciário e da grande parte da
classe média – sem falar da elite reunida em diversas entidades
empresariais e institutos “de pesquisa” – e da mídia foi fundamental
para dar legitimidade aos golpistas de então.
Foi a Fiesp, através do anticomunista descontrolado Henning
Boilesen, quem montou o Centro de Integração Empresa/Escola em 1964,
para domesticar ideologicamente trabalhadores. Em 1968, mais uma vez,
foi o então presidente da Fiesp, Theobaldo de Nigris, ao lado de Luis
Eulálio Bueno Vidigal, dono da Cobrasma, quem mandou a ditadura reprimir
violentamente os trabalhadores em greve em Osasco, dando início ao
clima político que desembocaria no AI-5.
Como em 1964, a tentativa de um golpe, ou de impeachment
paraguaio da presidente Dilma, não se improvisa. E custa caro, muito
caro. Também não custa lembrar que foi a Fiesp quem pagou um dos maiores
centros de repressão e tortura do país – a Operação Bandeirantes, a
Oban.
De inocente o Pato da Fiesp não tem nada.
* Joana Monteleone é historiadora. Adriano Diogo é geólogo e
ex-presidente da Comissão Estadual da Verdade Rubens Paiva, da
Assembleia Legislativa de SP.
Fonte Tijolaço
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