Os jornais já tinham perdido o pudor em relação ao jornalismo tão desiquilibrado e parcial que praticam.
Agora perderam também o senso do ridículo.
Há uma cena particularmente engraçada no filme Butch
Cassidy. No final, Butch e seu companheiro Sundance Kid estão
encurralados num canto na Bolívia.
A polícia local pede reforços para o exército nacional. Vão chegando soldados às dezenas, centenas.
O comandante da tropa pergunta num certo momento ao chefe da polícia. “Quantos são?”
A resposta vem seca: “Dois.”
O comandante faz uma careta de espanto. Imaginava um número considerável de bandidos.
“Dois???”
“Dois.”
Lembrei desta cena com o episódio do barco de Lula.
Imagino dois leitores da Folha, que deu o furo como se fosse um novo Watergate, num diálogo assim.
Leitor 1: “Viu essa? Descobriram um barco do Molusco. Pegaram até a nota fiscal. Não tem como negar e dizer que não é dele.”
Leitor 2: “Esse Molusco tinha mesmo que se ferrar. Nove Dedos. Brahma. Deve custar uma fortuna o barco.”
O Leitor 2 mentaliza um iate igual ao de Roman Abramovic, o dono do Chelsea. O nome é Eclypse, e é conhecido como o Iate de 1,5 bilhão de dólares.
Leitor 2: “Quanto custa o barco do Brahma?”
O Leitor 1 mostra quatro dedos.
Leitor 2: “4 milhões de dólares?”
Ele ficou até decepcionado. Que são 4 milhões de dólares diante de 1,5 bilhão?
Leitor 1: “Não. 4 mil reais.”
Leitor 2: “O que??? 4 mil reais???”
Ele estaria menos inconformado se o preço fosse pelo menos em dólar. Numa rápida conta, ele percebeu que poderia comprar uma frota de barcos como os do Brahma.
Leitor 2: “Você tem certeza de que não errou? Não são 4 milhões de dólares? Dá uma conferida no site da Folha.”
O Leitor 1 começa a desconfiar da sua informação. Pensa que deve ter visto errado. O Moro não faria estardalhaço por uma ninharia. Começa a se condenar por passar adiante uma quantia sem sentido. Seu interlocutor vai achar que ele é uma besta, um cara capaz de falar num homem de 8 metros. Pega seu celular e vai checar.
4 mil reais.
Leitor 1: “Tou com um problema de conexão. Não tá dando pra checar. O importante, aliás, não é o preço. É o barco em si. Molusco ladrão!”
E assim se despedem os dois leitores da Folha, rumo ao planeta paralelo em que vivem sob o noticiário do jornal.
Penso neles e penso na mídia.
Os jornais já tinham perdido o pudor em relação ao jornalismo tão desiquilibrado e parcial que praticam.
Agora perderam também o senso do ridículo.
Em minha carreira de 35 anos, vi muitas coisas cômicas, ou tragicômicas, em jornais e revistas. Estava na Veja, por exemplo, quando saiu o “Boimate”, a combinação de boi com tomate, piada de uma publicação científica americana que a revista levou a sério.
Vi a Folha publicar, depois de uma decisão de Fórmula 1 no horário brasileiro da madrugada, um texto com a vitória de Senna e outro com a vitória de Prost, tudo isso numa só página para o leitor ler como lhe conviesse.
Mas nada, rigorosamente nada, se compara em estupidez à tentativa de transformar um barquinho mixuruca num escândalo nacional.
Fonte Diário do Centro do Mundo
Fonte Diário do Centro do Mundo
https://www.facebook.com/antoniocavalcantefilho.cavalcante
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A polícia local pede reforços para o exército nacional. Vão chegando soldados às dezenas, centenas.
O comandante da tropa pergunta num certo momento ao chefe da polícia. “Quantos são?”
A resposta vem seca: “Dois.”
O comandante faz uma careta de espanto. Imaginava um número considerável de bandidos.
“Dois???”
“Dois.”
Lembrei desta cena com o episódio do barco de Lula.
Imagino dois leitores da Folha, que deu o furo como se fosse um novo Watergate, num diálogo assim.
Leitor 1: “Viu essa? Descobriram um barco do Molusco. Pegaram até a nota fiscal. Não tem como negar e dizer que não é dele.”
Leitor 2: “Esse Molusco tinha mesmo que se ferrar. Nove Dedos. Brahma. Deve custar uma fortuna o barco.”
O Leitor 2 mentaliza um iate igual ao de Roman Abramovic, o dono do Chelsea. O nome é Eclypse, e é conhecido como o Iate de 1,5 bilhão de dólares.
Leitor 2: “Quanto custa o barco do Brahma?”
O Leitor 1 mostra quatro dedos.
Leitor 2: “4 milhões de dólares?”
Ele ficou até decepcionado. Que são 4 milhões de dólares diante de 1,5 bilhão?
Leitor 1: “Não. 4 mil reais.”
Leitor 2: “O que??? 4 mil reais???”
Ele estaria menos inconformado se o preço fosse pelo menos em dólar. Numa rápida conta, ele percebeu que poderia comprar uma frota de barcos como os do Brahma.
Leitor 2: “Você tem certeza de que não errou? Não são 4 milhões de dólares? Dá uma conferida no site da Folha.”
O Leitor 1 começa a desconfiar da sua informação. Pensa que deve ter visto errado. O Moro não faria estardalhaço por uma ninharia. Começa a se condenar por passar adiante uma quantia sem sentido. Seu interlocutor vai achar que ele é uma besta, um cara capaz de falar num homem de 8 metros. Pega seu celular e vai checar.
4 mil reais.
Leitor 1: “Tou com um problema de conexão. Não tá dando pra checar. O importante, aliás, não é o preço. É o barco em si. Molusco ladrão!”
E assim se despedem os dois leitores da Folha, rumo ao planeta paralelo em que vivem sob o noticiário do jornal.
Penso neles e penso na mídia.
Os jornais já tinham perdido o pudor em relação ao jornalismo tão desiquilibrado e parcial que praticam.
Agora perderam também o senso do ridículo.
Em minha carreira de 35 anos, vi muitas coisas cômicas, ou tragicômicas, em jornais e revistas. Estava na Veja, por exemplo, quando saiu o “Boimate”, a combinação de boi com tomate, piada de uma publicação científica americana que a revista levou a sério.
Vi a Folha publicar, depois de uma decisão de Fórmula 1 no horário brasileiro da madrugada, um texto com a vitória de Senna e outro com a vitória de Prost, tudo isso numa só página para o leitor ler como lhe conviesse.
Mas nada, rigorosamente nada, se compara em estupidez à tentativa de transformar um barquinho mixuruca num escândalo nacional.
Fonte Diário do Centro do Mundo
Saiba mais:
O barco que está sendo tratado como iate.
Agora sim surgiu uma prova irrefutável. A de quanto os
membros da justiça brasileira, com a ajuda da grande imprensa familiar,
além dos idiotas úteis, é claro, estão desesperados para criar um único
fato que seja que possibilite, mesmo que supostamente, a incriminação do
ex-presidente Lula, de sua família, do PT e de quem mais for necessário
para viabilizar uma candidatura PSDBista com mínimas chances em 2018.
A “bala de prata” da vez (já se foram muitas outras) é a
“descoberta” de uma nota fiscal da compra de uma canoa em nome de dona
Marisa por inacreditáveis R$ 4.126,00.
Esse é o valor de um simples jantar despretensioso que um
Fernando Henrique Cardoso poderia pagar numa noite qualquer para tentar
esquecer o melancólico lugar de desprezo e esquecimento que atualmente
habita.
Mas isso não vem ao caso. Trata-se enfim de dar cabo a uma caçada
inglória que já dura mais de duas décadas contra Lula cujos resultados
não foram outros senão a sua ascensão ao patamar histórico de maior
líder popular desse país.
É um verdadeiro vale-tudo. E na falta de elementos mais sólidos e
consistentes que deem sustentação às suas acusações, querem fazer crer
que o fato mais do que conhecido de que a família Silva freqüentava o
sítio em Atibaia aliado com a compra de uma canoa desprezível se
configure como um dos maiores crimes de corrupção do país. Muita
paciência.
O problema na verdade é que, quanto mais os paladinos da justiça
investigam, mais evidentes ficam as mentiras e suposições que são
jogadas aos quatro cantos para interferir e manipular a opinião pública.
Tudo que descobriram de fato até agora é que o triplex, que poderia
muito bem ser do ex-presidente, simplesmente não lhe pertence e que o
luxuoso iate de milhões de reais que o “genial” Wanderlei Silva afirmou
ser da família de Lula não passa de uma canoa mequetrefe que qualquer
cidadão comum poderia adquirir.
Que pessoas mal intencionadas como o próprio Wanderlei se utilizem de
mentiras e factóides para ludibriar mentes menos preparadas é até
compreensível, faz parte da natureza dessa gente.
Mas que isso seja um expediente utilizado por membros da Polícia
Federal, do Ministério Público, da Justiça Federal e da grande imprensa
nacional, esse sim é um verdadeiro caso de polícia.
Enquanto isso, os bilionários desvios dos magnatas envolvidos na
operação Zelotes, sumidades como Eduardo Cunha e seus milhões na Suíça e
os comprovados 30% desviados regularmente da merenda de crianças pelo
governo de Geraldo Alckmin são sistematicamente esquecidos.
Ao que tudo indica, o que estamos presenciando nesse exato momento no
Brasil nada mais é do que uma das maiores ofensivas já vistas nesse
país contra o Estado Democrático de Direito e contra o verdadeiro
combate à corrupção.
E o mais estarrecedor é que tudo isso está partindo justamente das
instituições que deveriam assegurar o fiel cumprimento da Constituição.
Fonte Diário do Centro do Mundo
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