Desde o propinoduto e o caso Alstom até a 'máfia da merenda', reportagem lista 16 escândalos que os tucanos habilmente abafaram na imprensa e na Câmara.
Por Tatiana Carlotti
Mais um escândalo envolvendo governos tucanos
veio à tona. Desta vez, a acusação é o superfaturamento em contratos
para o fornecimento de merenda escolar à Secretaria de Educação e mais
22 prefeituras do estado de São Paulo. Em delação, na “Operação Alba
Branca”, dirigentes da Cooperativa Orgânica Agrícola Familiar (COAF)
citaram o deputado Fernando Capez (PSDB-SP), presidente da Assembleia
Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp), e o ex-chefe de gabinete da
Casa Civil do Governo Alckmin, Luiz Roberto dos Santos, o Moita, como
participantes do esquema. Ambos negam.
Segundo
denúncia do Ministério Público Estadual (MPE), o superfaturamento
chegava a 25% no valor de cada contrato firmado entre a cooperativa e o
setor público. O dinheiro era escoado do Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação (FNDE). O MPE aponta, ainda, o pagamento de
propina pela Coaf para burlar a disputa com outras cooperativas no
fornecimento da merenda. A fragilidade na fiscalização do Governo
Alckmin já havia sido denunciada pelo Tribunal de Contas da União (TCU).
Em artigo publicado no Diário do Centro do Mundo e republicado aqui, na
Carta Maior, Mauro Donato detalha o esquema.
Denúncias
relativas à “Máfia da Merenda” não são de hoje. Em 2000, as empresas de
Sérgio de Nadai, De Nadai Alimentação e Convida Alimentação, foram tema
de investigação por contratos sem licitação durante o Governo Covas. Em
2009, a Convida Alimentação estava na lista das empresas do cartel para
o fornecimento de alimentos. Aliás, a denúncia citava até mesmo a
participação do cunhado de Alckmin, Paulo César Ribeiro, no
direcionamento de contratos de uma das empresas envolvidas no cartel, a
Verdurama.
Em 2012,
o MPE denunciou o cartel da merenda à Justiça, apontando fraudes em
licitação em 57 municípios paulistas, entre 2001 e 2011. Apesar de todas
as denúncias, como destaca a reportagem da Carta Capital,
de 14.01.2016, nos últimos anos (2001 a 2015) foram fechados vários
contratos entre a empresa de Sérgio de Nadai e as secretarias do Governo
Alckmin - Educação, Planejamento e Saúde – totalizando R$ 75 milhões em
vendas.
Com apoio da mídia e folgada maioria entre os
parlamentares na Alesp, os tucanos têm trânsito livre para comandar e
derrubar investigações e CPIs na Casa legislativa. Uma verdadeira
“operação abafa” como comprova o destino dos principais escândalos
envolvendo os governos de Mário Covas (1995 a 2001), Geraldo Alckmin
(2001-2006 / 2011 até hoje) e José Serra (2007 a 2011). Confiram alguns:
1 - Crise no abastecimento de água.
Ocultamento de informações e da real situação da crise de abastecimento
de água em São Paulo, durante a disputa eleitoral de 2014. Os gastos
com publicidade saltaram, enquanto se mantinha o discurso da ausência de
racionamento, à revelia do que atestava a população nas periferias.
Ficou patente a má gestão e a omissão dos governos Alckmin e Serra
diante dos alertas sobre riscos no Sistema Cantareira, como, por
exemplo, o alerta da Fundação de Apoio à USP, em 2009 (FSP, 13.03.2014).
Em meio à crise, também foi denunciado, pelo MPE, o favorecimento de 13
empresas de engenharia em contratos realizados pela Sabesp, entre 2008 a
2013, no escopo do programa de redução de perdas de água no estado (OESP, 21.05.2014).
Com
ativos privatizados na Bovespa e na Bolsa de Nova York, em março de
2015, Alckmin anunciou o pagamento de uma dívida de R$ 1 bilhão para
cobrir os rombos financeiros da "estatal". A crise escancarou a quem
realmente serve a “estatal” tucana. Criada na Câmara Municipal de São
Paulo, a CPI da Sabesp defendeu a necessidade de criação de uma
autoridade fiscalizadora municipal para monitorar a política de
saneamento básico. Autoridades tucanas permanecem intocáveis. Alckmin,
inclusive, foi agraciado com o “Prêmio Lucio Costa de Mobilidade,
Saneamento e Habitação”. O documentário “O escândalo da Sabesp” produzido pelo Diário do Centro do Mundo detalha as irregularidades na “estatal” tucana.
2 - Socorro à Folha, Estadão e Veja.
Gastos de mais de R$ 3,8 milhões na compra de 15.600 assinaturas da
Folha, Estadão e Veja, utilizando-se verbas do orçamento da Secretaria
de Educação. As assinaturas foram destinadas às escolas da rede estadual
de ensino em um projeto chamado “sala de leitura”, como mostra a reportagem publicada por Altamiro Borges do Centro de Mídia Barão de Itararé.
3 - Propinoduto tucano.
O esquema envolvendo multinacionais da área de transporte sobre trilhos
em sucessivos governos tucanos – desde 1998 - veio à tona em meados de
2012. Documentos encaminhados pela Justiça Suíça ao Conselho
Administrativo de Defesa Econômica (CADE) apontavam fraudes em
licitações de trens e metrôs, pagamento de propina, superfaturamento de
obras e subcontratação de empresas derrotadas em concorrências. O
escândalo só foi descoberto porque a Siemens estava sendo investigada
pela Justiça suíça. Reportagem da Isto É
(16.08.2013) apontava que na delação da multinacional, foram citados
nomes de várias autoridades tucanas, como os secretários de Transporte
Metropolitano, José Luiz Portella (Governo Serra) e Jurandir Fernandes
(Governo Alckmin). Entre 2008 e 2013, segundo reportagem da Rede Brasil Atual,
mais de 15 representações haviam sido encaminhadas aos ministérios
públicos Estadual e Federal pela oposição paulista. Entre os indiciados
até agora estão os executivos das empresas envolvidas.
4- Pedágios abusivos e concessões de Rodovias.
Irregularidades e distorções nos contratos de concessão das rodovias de
São Paulo, gerando preços exorbitantes na cobrança dos pedágios – o
estado cobre a mais alta taxa no país. Em maio de 2014, durante a CPI
dos Pedágios na Alesp, além dos preços elevados, a oposição colocou em
suspeita contrações de consultorias pela Agência de Transporte do Estado
de São Paulo (Artesp), que representavam 2/3 da receita da agência.
Também foi questionada a prorrogação de contratos firmados em 1998 -
assinada em aditivos no final de 2006 - permitindo às concessionárias o
direito de estenderem concessões, com base em novos tributos que
passaram a incidir após a assinatura dos contratos. Presidida pelo
tucano Bruno Covas (PSDB-SP) - e com maioria da base aliada - a CPI foi
esvaziada e concluiu não haver nenhuma irregularidade nos contratos.
5 - Nova Marginal Tietê.
Em 2012, no escopo das investigações sobre o bicheiro Carlinhos
Cachoeira, o ex-diretor da Dersa, Paulo Vieira de Souza, mais conhecido
como Paulo Preto, tornou-se suspeito por contratos firmados entre a
Dersa e a Delta Construções. Quando da denúncia, Alckmin afirmou sobre
os contratos à Folha: “Nem sei se tem, se tem são ínfimos”. Porém, levantamento do blog Transparência SP
apontava que, de 2002 a 2011, a Delta Construções havia fechado pelo
menos 27 contratos com empresas e órgãos públicos do governo do Estado
de São Paulo.
Entre
os contratos suspeitos: a ampliação da Nova Marginal Tietê. Com valor
previsto em R$ 1 bilhão, em 2008; a obra superou o valor de 1,75 bilhão,
sem estar concluída. A Delta venceu a concorrência do segundo lote da
Nova Marginal Tietê, recebendo aditivos de R$ 71 milhões que despertaram
denúncias no MPE. Entre os suspeitos, estava seu ex-diretor-executivo
Fernando Cavendish, suspeito de ter fraudado a concorrência. Parlamentares da oposição ao governo paulista também protocolaram um requerimento no Ministério Público
para investigar o aumento dos valores na obra da empreiteira,
denunciando outros consórcios entre órgãos públicos do estado e a Delta:
um total de R$ 800 milhões – R$ 664 milhões celebrados na gestão Serra e
R$ 140 milhões na gestão Alckmin.
6 - Rodoanel 1.
Em 2010, durante as investigações da Construtora Camargo Corrêa, no
escopo da Operação Castelo de Areia, a PF encontrou um pen drive e
documentos que indicavam o pagamento de propina pela empreiteira a
autoridades tucanas. Reportagem da revista Época
(14.05.2010) apontava que entre os nomes citados pela PF estavam
Arnaldo Madeira, ex-chefe da Casa Civil (Governo Alckmin), responsável
pela checagem das obras do Rodoanel e do Metrô; Luiz Carlos Frayze
David, presidente do Metrô entre 2003 e 2007; e o ex-diretor da Dersa,
Paulo Preto. Coordenador do programa de governo de Aécio Neves na última
eleição, Madeira negou ter recebido dinheiro ou doações de campanha da
empreiteira. Luiz Carlos saiu do governo 40 dias após o acidente nas
obras da Estação Pinheiros. Já o ex-diretor da Dersa, Paulo Preto –
acusado naquele ano de ter desaparecido com cerca de R$ 4 milhões da
campanha de Serra - foi demitido oito dias após a inauguração do trecho
sul do Rodoanel. No dia 5 de abril de 2011 a operação Castelo de Areia
foi anulada pela 6ª Turma do Superior Tribunal de Justiça.
7 - Rodoanel 2. Em novembro de 2009,
três vigas de um viaduto em obras no trecho sul do Rodoanel caíram
sobre a Rodovia Régis Bittencourt, na cidade de Embu. Técnicos do TCU
haviam soltado um laudo, em abril daquele ano,
denunciando superfaturamento na construção do trecho sul do Rodoanel,
incluindo compras com valores, em média 30% acima do orçamento. O laudo
apontava, também, alteração de métodos construtivos pelas empresas para
reduzir custos: por exemplo, a diminuição do número de vigas utilizadas.
A oposição tentou emplacar uma investigação, denunciando a “pressa” do
então governador José Serra em inaugurar o Rodoanel em março de 2010,
ano eleitoral. Dois anos depois, o TCU aceitou as explicações dadas pelo Governo do Estado e pela Dersa, comandada à época, por Paulo Preto.
8 - Caso Alstom.
Em 2008, documentos da Justiça suíça, enviados ao Ministério da Justiça
do Brasil, evidenciavam o pagamento sistemático de propinas pela
empresa francesa a autoridades dos governos tucanos. Entre 1998 a 2001, o
dinheiro foi repassado por empresas offshore (paraísos fiscais), em
troca da assinatura de contratos no setor energético paulista. Um dos
engenheiros da Siemens apontava o sociólogo Claudio Mendes,
assessor de Covas e secretário-adjunto de Robson Marinho (Casa Civil),
como intermediário nas negociações. À frente da Secretaria de Energia,
na época dos contratos, estiveram David Zylbersztajn, genro do
ex-presidente FHC; o deputado Andrea Matarazzo; e Mauro Arce,
ex-secretário estadual dos Transportes. José Serra se esmerou para
bloquear a CPI, impedindo que as ligações entre Alstom e Governo fossem investigadas ou mesmo discutidas.
A
multinacional francesa fechou um acordo na Justiça, aceitando pagar R$
60 milhões para se livrar do processo. Robson Marinho, um dos fundadores
do PSDB e chefe da Casa Civil de Covas, permanece como o réu na ação do
Ministério Público, como destaca a Folha de S. Paulo (22.12.2015).
9 - CPI da Eletropaulo.
Privatizada em 1998, a Eletropaulo foi vendida para o consórcio
Lightgás, liderado pela AES Corporation, por R$ 2 bilhões - parte do
valor financiado pelo BNDES. À frente da negociação, estava o governador
Geraldo Alckmin, na época presidente do Programa Estadual de
Desestatização (PED) do Governo Covas. Após a demissão de metade dos
funcionários da estatal e das suspeitas sobre o baixo valor da venda,
parlamentares da oposição tentaram instalar uma CPI. Apenas em 2008,
após o escândalo Alstom vir à tona, ela pode ser instalada. Além do
baixo preço da venda, os deputados denunciavam (veja aqui)
ilegalidades formais e improbidade administrativa praticada pelo BNDES
na concessão do empréstimo. Os parlamentares também pediam que se
incluísse a Alstom no bojo das investigações. A CPI foi encerrada
naquele, sem mencionar a multinacional francesa em seu relatório. Em
2013, nova tentativa de investigação foi enterrada pelos deputados da
situação na Alesp.
10 - Cartões de Pagamento. Em
2008, no auge das denúncias sobre cartões corporativos do Governo
Federal, a Folha de S. Paulo trouxe uma matéria apontando que o Governo
Serra havia gastado R$ 108,3 milhões em cartões de pagamento de despesas.
A denúncia motivou o primeiro pedido de CPI da bancada petista naquele
ano, enterrada pela situação na Alesp. Três anos depois, outra reportagem
do jornal, afirmava que em dez anos, o Governo paulista gastara R$ 609
milhões em cartões de pagamento. “O valor é 70% maior que o registrado
pelo governo federal no período”, afirmava o texto.
11 - Cratera do Metro.
Em novembro de 2004, começaram as obras da Linha 4 – Amarela do Metrô,
com previsão de inauguração em 2008. Em janeiro de 2007, porém, ocorreu
um desmoronamento vitimando sete pessoas e abalando a estrutura de
vários imóveis na região. Dados do Sindicato dos Metroviários, à época,
apontavam a existência de 11 acidentes desde o início das obras na Linha
4, um deles com vítima fatal. Em junho de 2008, laudo do Instituto de
Pesquisa Tecnológicas (IPT) denunciava a execução inadequada do projeto, culpando o Consórcio Via Amarela pelo acidente. Em agosto de 2008, o laudo final do Instituto de Criminalística (IC) apontava falhas na fiscalização do Metrô. O processo foi lentamente arrastado pela Justiça paulista. Reportagem da Rede Brasil Atual, em 2014, denunciava a impunidade e o fato de ninguém ter sido julgado pelas mortes.
12 - Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU).
A Operação Pomar, deflagrada em 2007, apontava um esquema de
superfaturamento e fraudes em licitações para construção de casas em 23
municípios paulistas. A partir do exame do livro-caixa da empreiteira FT
Construções, entre os suspeitos
estavam prefeitos, vereadores, empresários, diretores da CDHU e o
ex-secretário de Habitação de Alckmin, Mauro Bragato, absolvido pelo
Conselho de Ética da Alesp.
Em
novembro de 2007, o Legislativo paulista chegou, inclusive, a mudar
pareceres do TCE que indicava irregularidades em quatro obras das
gestões Alckmin e Covas. O novo parecer do TCE
foi elaborado por Bruno Covas (PSDB), neto do ex-governador que
afirmara ser obrigação do Legislativo analisar os casos julgador
irregulares pelo TCE, referendando ou reformando a decisão. Houve uma
CPI da CDHU, mas sob a presidência do deputado José Augusto (PSDB) e sem
dar o prazo necessário às investigações, como demandavam os
parlamentares da oposição, ela foi encerrada em 2009.
13 - CPI das obras do Tietê. Em
2005, o rebaixamento da calha do Tietê foi tema de várias reportagens
questionando os gastos acima de R$ 1 bilhão, a partir de aditivos e
acréscimos aos valores iniciais do empreendimento. O acerto prévio pelo
financiamento do JBIC (banco japonês), garantia que não seriam toleradas
elevações de preços superiores ao limite legal de 25%. O Governo
Alckmin, porém, fez alterações no contrato da obra, contratou
consultorias, aumentando os valores iniciais em 148%, como denunciava reportagem da FSP. A oposição tentou instaurar uma CPI, mas jamais conseguiram.
Além das suspeitas de irregularidades, como detalha Henrique Costa, no artigo As tragédias anunciadas do Rio Tietê,
neste site (15.05.2011), após a entrega da obra de ampliação da calha
do Tietê, técnicos alertaram que a eficiência da obra (que custou quase
R$ 2 bilhões) dependia, fundamentalmente, da limpeza da calha do rio. O
sucessor de Alckmin no Estado, José Serra não deu atenção ao alerta:
retirou do rio apenas 200 mil m3 de resíduos, quando a média anual
necessária deveria ficar entre 400 e 600 mil m2.
14 - Nossa Caixa.
Esquema de favorecimento da Nossa Caixa – banco estadual na época e
terceiro maior banco público do país – para distribuição de verbas
públicas para deputados ligados à base aliada do Governo Alckmin. A
denúncia dizia respeito a irregularidades nas verbas publicitárias do
banco, que operou por um ano e meio com contratos vencidos (R$ 28
milhões no total) com duas agências de publicidade: Colucci &
Associados Propaganda Ltda. e Full Jazz Comunicação e Propaganda Ltda. O
gerente de marketing Jaime de Castro Júnior foi afastado e uma
sindicância interna encaminhada ao Tribunal de Contas Estadual. Em posse
dos documentos, a Folha de S. Paulo publicou uma reportagem – Banco estatal beneficiou aliados de Alckmin
(23.03.2006) – afirmando que o Palácio dos Bandeirantes “interferiu
para beneficiar com anúncios e patrocínios” deputados da base aliada na
Assembleia Legislativa. Com a quebra do sigilo da correspondência de
Castro Júnior, foi revelado que os pedidos de benefício haviam partido
de Roger Ferreira, então assessor-chefe de comunicação de Geraldo
Alckmin, e também assessor da presidência da Nossa Caixa. Ele atuou nas
equipes de marketing das campanhas presidenciais de Fernando Henrique
Cardoso e José Serra. Geraldo Alckmin exonerou Roger Ferreira após as
denúncias. Duas tentativas de se convocar uma CPI sobre o assunto foram abafadas.
15 - Aeroporto Fantasma.
Em 2005, o governo Alckmin investiu pesado em obras no aeroporto
Antônio Nogueira Junior, em Itanhaém, com 85 mil habitantes à época.
Batizado de “aeroporto fantasma", o movimento médio de passageiros
naquele ano não ultrapassou 5 pessoas por dia. O total gasto pelo
governador na obra chegou a R$5,5 milhões, com direito a uma pista capaz
de receber até mesmo um Boeing 737, como denunciava a Folha de São Paulo. Tentativa de investigações foram abafadas pelos tucanos.
16 - Compra de votos. Em julho de 2005, reportagem da Folha de S. Paulo
trazia à tona uma conversa telefônica entre os deputados estaduais
Romeu Tuma Jr. (PMDB-SP) e Paschoal Thomeu (PTB-SP), às vésperas da
eleição do novo presidente da Alesp. Entre os candidatos estava Rodrigo
Garcia (PFL), apoiado por Tuma Jr. e Edson Aparecido (PSDB), apoiado por
Alckmin. Na gravação, Thomeu afirmava que votaria em Edson Aparecido,
alegando que suas "seis firmas" estavam em situação muito difícil e
mencionava a venda de terras para a CDHU. Dizia ainda que o governador
em pessoa havia lhe prometido ajuda. Confrontado com a gravação, o
deputado afirmou que a conversa foi uma desculpa que inventou para não magoar Tuma, como apontava a reportagem do jornal.
Dada a quantidade de escândalos, a reportagem continua.
Fonte Carta Maior
Saiba mais
15 perguntas e respostas sobre a Lista de Furnas. Por Joaquim de Carvalho
Esta é mais uma reportagem do projeto de crowdfunding do DCM sobre a Lista de Furnas. As demais estão aqui. Fique ligado.
Diário do Centro do Mundo
Trinta dias depois de iniciada a apuração sobre o escândalo
da Lista de Furnas, elaboramos uma lista das principais questões sobre o
caso.
1. O que é a Lista de Furnas?
É uma relação com o nome de 156 políticos e os respectivos valores
recebidos na campanha eleitoral de 2002 do caixa 2 de empresas que
prestaram serviços para a estatal.
2. Quais os principais nomes da lista?
Estão lá os principais políticos da base de apoio do governo de
Fernando Henrique Cardoso, como José Serra, então candidato a
presidente, Geraldo Alckmin, candidato a governador de São Paulo, Aécio
Neves, candidato a governador de Minas Gerais, e Sérgio Cabral,
candidato a senador pelo Rio de Janeiro, além de candidatos a deputado,
como, Alberto Goldman, Walter Feldman e Gilberto Kassab por São Paulo;
Eduardo Paes, Francisco Dornelles e Eduardo Cunha pelo Rio de Janeiro;
Dimas Fabiano, Danilo de Castro e Anderson Adauto por Minas Gerais.
3. Por que Aécio Neves se tornou o principal nome da lista?
Além de receber diretamente para sua campanha R$ 5,5 milhões (13,1
milhões em valores corrigidos pelo IGP-M), o terceiro maior valor entre
os 156 políticos beneficiados, seu nome é mencionado mais duas vezes –
uma como autor da “autorização” para o repasse de R$ 350 mil (R$ 837
mil, em valores atualizados) para o candidato a senador Zezé Perrella e
outro de R$ 695 mil (corrigido pelo IGP-M, R$ 1,6 milhão) como “valor
avulso repassado para Andréa Neves, irmã de Aécio Neves, para os comitês
e prefeitos do interior do Estado.”
4. O que mais vincula Aécio ao protagonismo em Furnas?
O pai dele, Aécio Cunha, pertenceu durante muito tempo ao Conselho de Administração da estatal, inclusive no governo do PT.
5. Há outras vinculações?
Sim. O doleiro Alberto Youssef, no termo de delação premiada número
21, disse que uma parte do dinheiro desviado de Furnas através de
contrato superfaturado com a empresa de prestação Bauruense, de Bauru,
interior de São Paulo, era entregue ao grupo de Aécio Neves. Youssef
chega a citar uma irmã de Aécio que ia à empresa retirar dinheiro vivo.
6. Como o doleiro Youssef sabia disso?
Ele gerenciava o caixa 2 do então deputado José Janene, do PP do
Paraná, e perguntou ao deputado sobre parte de propina que não tinha
sido entregue pela Bauruense. Janene lhe teria respondido que essa parte
era de Aécio Neves.
7. Por que dar crédito a Youssef?
Youssef era tão importante no esquema que, depois da morte de Janene,
passou a gerenciar o caixa 2 sozinho, recebendo e distribuindo a
propina de Furnas que cabia ao PP. Youssef tinha reuniões pessoas e
exclusivas com o dono da Bauruense, Airton Daré?
8. Como ter certeza de que Aécio dava as cartas em Furnas?
Investigando, e indícios não faltam. Em 2005, na CPI dos Correios, o
deputado Roberto Jefferson disse que não conseguia substituir um diretor
de Furnas por pressão de Aécio Neves. Curioso é que, quando Jefferson
denunciou o PT, naquela mesma época, a imprensa toda foi atrás. Quando
ele citou Aécio, houve silêncio.
9. Aécio tinha influência em Furnas mesmo no governo do PT?
Não podemos esquecer do Lulécio, o voto inventado em Minas Gerais em
2006. Era Lula para presidente, Aécio para governador. Havia inclusive
comitês no interior do Estado que pediam votos para Aécio. Também tem
que se ter em mente que Aécio foi o primeiro político a defender a
governabilidade no âmbito federal, quando estourou o escândalo do
mensalão. Depois, costurou a aliança para que o PT e o PSDB tivessem
candidato único para prefeito de Belo Horizonte.
10. E o que isso tem a ver com a Lista de Furnas?
A Lista de Furnas é um documento assinado em 2002 pelo então diretor
de Planejamento, Engenharia e Construção de Furnas, Dimas Toledo, para
que fosse entregue a Aécio Neves e este pressionasse o governo federal
para que ele fosse mantido no cargo. Ele foi mantido e a pressão de
Aécio existiu, como relatou Roberto Jefferson. Aécio, mesmo sendo do
PSDB, por sua divergência com José Serra e Geraldo Alckmin, tinha um pé
no governo Lula, para conveniência dele e também do PT.
11. Mas a Lista de Furnas não é falsa?
Não. Quem divulgou que ela poderia ser falsa foi o PSDB de Minas
Gerais, com base em pareces de peritos contratos e num laudo da Polícia
Federal feitos em cima de uma das cópias divulgadas por Nilton Monteiro,
o homem que confessou atuar em Furnas como operador do caixa 2. Quando a
tese da falsidade prosperava, Nílton Monteiro entregou à Polícia
Federal o documento original foi periciada. A conclusão foi que se
tratava de um documento autêntico, assinado por Dimas Toledo e sem
indício de montagem.
12. Além disso, há outras evidências da veracidade da lista?
Sim. Dois dos nomes citados confirmam que receberam exatamente os
valores relacionados na lista. Trata-se do deputado Roberto Jefferson e
do ex-deputado estadual de Minas, hoje prefeito de Pará de Minas,
Antônio Júlio.
13. Com base nesses indícios, houve investigação do caixa 2 de Furnas?
Houve. Por determinação da Procuradoria Geral da República, em
Brasília, uma procuradora da república no Rio de Janeiro, sede de
Furnas, denunciou 11 pessoas pelos crimes de corrupção ativa, corrupção
passiva e lavagem de dinheiro. Quando a denúncia foi entregue à Justiça
Federal, a procuradora Andrea Bayão foi afastada do caso, através de uma
promoção a procuradora regional, para trabalhar em Brasília. O juiz
federal que recebeu a denúncia entendeu que se tratava de um caso para a
Justiça estadual e remeteu toda a investigação para lá. Isso foi em
2012, e o inquérito está parado na Delegacia Fazendária do Rio até hoje.
14. E os políticos foram investigados?
Só Roberto Jefferson foi investigado, mas ele já havia sido cassado.
Os demais, que tinham ou têm foro especial por prerrogativa de função,
nunca foram incomodados.
15. Nem com a denúncia recente de Alberto Youssef?
Nem com a denúncia de Youssef. O procurador Rodrigo Janot disse que
seria difícil investigar Aécio Neves porque tanto o deputado Janene
quanto o dono da Bauruense, Airton Daré, já morreram. Na verdade, é
possível investigar, sim, pois a Bauruense tem outros proprietários e o
caminho da propina de Furnas pode ser traçado por quem confessou
entregar mala de dinheiro para o grupo de Aécio Neves, inclusive para
sua irmã, Andrea. É Nílton Monteiro. Ele me deu essa declaração em
entrevista gravada. Roberto Jefferson também pode falar sobre a pressão
de Aécio para manter na direção de Furnas um homem que acabaria
denunciado por corrupção ativa e corrupção ativa, Dimas Monteiro, que
hoje vive dias tranquilos, entre seu apartamento na Barra da Tijuca, no
Rio, e sua fazenda, no interior de Minas. O filho é deputado. Eu
procurei Dimas no Rio, mas ele se recusa a dar entrevista. A
Procuradoria poderia também procurar as empresas citadas na Lista de
Furnas. Muitas delas são as mesmas que integram o escândalo do Metrô em
São Paulo, outras estão vinculadas ao escândalo da Petrobras. Enfim,
opção de investigação há. O que parece faltar é vontade da Procuradoria
Geral da República de buscar a verdade.