Pela primeira vez desde o fim da ditadura militar dos anos 80, uma
autêntica crise de Estado ameaça o maior pais da América Latina; crise
que pode comprometer todas as conquistas dos últimos trinta anos. Parte
da oposição e do Poder Judiciário atiçam, em conjunto com o poderoso
conglomerado de televisões TV Globo, uma verdadeira caça às bruxas
contra o Ex-Presidente Lula.
Carta Maior
PorJens Glüsing -Der Spiegel
Segundo a revista alemã Der Spiegel "o sucesso subiu claramente à cabeça de Sérgio Moro. O juiz faz política, que não é sua função.
O Poder Judiciário do Brasil infla a caça às bruxas sobre o
Ex-Presidente Lula. O apoio é recebido por extremistas de direita e
manifestantes de sempre (ou seja, reacionários). Eis o perigo para a
democracia do País.
Os adversários de Lula alcançaram o que sua
frágil sucessora não conseguiu desde a posse como Presidenta da
República: unificaram a base do Partido dos Trabalhadores, de sindicatos
e de movimento sociais.
Milhares de simpatizantes de Lula foram
às ruas do País na noite da última sexta-feira contra a tentativa de
remover a Presidenta da República de seu cargo por meio de um processo
de crime de responsabilidade (impeachment). Na Avenida Paulista, o
verdadeiro termômetro dos protestos, os manifestantes ocuparam onze
quarteirões. Os manifestantes permaneceram pacíficos, Lula mostrou-se
conciliador, não atacou a Justiça, e chamou ainda para o diálogo. Falas
de ódio quase não foram ouvidas nas manifestações do Rio e de São Paulo.
Tudo
muito diferente dos protestos em massa contra o governo do final de
semana anterior, dos quais golpistas, radicais de direita e os
manifestantes reacionários de sempre participaram ativamente. Ainda que
estes grupos não sejam a maioria dos manifestantes, estes têm sido
atraídos cada vez para os protestos contra o governo. Eis o que é
preocupante para a ainda jovem democracia brasileira.
Pela primeira vez desde o fim da ditadura militar dos anos 80, uma
autêntica crise de Estado ameaça o maior pais da América Latina; crise
que pode comprometer todas as conquistas dos últimos trinta anos. Parte
da oposição e do Poder Judiciário atiçam, em conjunto com o poderoso
conglomerado de televisões TV Globo, uma verdadeira caça às bruxas
contra o Ex-Presidente Lula.
Sérgio Moro, um ambicioso juiz de
Curitiba, persegue claramente um único objetivo: por o Ex-Presidente
atrás das grades. Moro dirige as investigações no escândalo de corrupção
da estatal de petróleo, a Petrobras; investigações que resultaram no
envolvimento de centenas de executivos, lobistas, políticos, entre os
quais significativas figuras do Partido dos Trabalhadores.
Como
um furacão, o juiz Moro varreu a elite política e econômica do Brasil,
ao revelar desvios bilhonários. Mais de cem suspeitos estão presos, a
maioria sem julgamento. Muitos brasileiros celebram o juiz como um herói
nacional.
Indícios frágeis.
O sucesso subiu
claramente à cabeça de Moro. O juiz faz política, que não é sua função. A
divulgação de escutas telefônicas entre Lula e a Presidenta Dilma
Rousseff poucas horas antes da nomeação de Lula como Ministro de Estado
persegue apenas um objetivo político, e é extremamente contestada
juridicamente, para dizer o mínimo.
Até o momento, Moro não
conseguiu juntar uma acusação robusta contra Lula, apesar de dúzias de
membros do Ministério Público e da Polícia Federal de Curitiba
investigarem por meses as finanças e as relações pessoais do
Ex-Presidente. Os indícios permanecem frágeis.
Lula não tem um
centavo em contas na Suíça, como o poderoso Presidente da Câmara dos
Deputados, Eduardo Cunha. Este é acusado de corrupção e lavagem de
dinheiro. Tal fato não o impede, porém, de manter o controle sobre a
comissão que será responsável pelo impeachment da Presidenta.
Em
tal nobre comissão, possui assento Paulo Maluf, Ex-Governador de São
Paulo, que foi condenado por corrupção na França, sem ter sido
extraditado, já que é brasileiro nato.
Que referidas figuras
detenham voto sobre o destino do cargo da Presidente, contra a qual até o
momento nada foi provado, é um aspecto a comprometer a legitimidade de
todo o processo de impeachment.
Os partidários de Lula advertem sobre um frio golpe contra a democracia brasileira. E esta preocupação não vem do nada.
Tradução de Martonio Mont’Alverne Barreto Lima, da Universidade de Fortaleza
Fonte Carta Maior
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