sexta-feira, 4 de março de 2016

Os furos do “furo” da delação de Delcídio na Istoé, por Luís Costa Pinto




Tijolaço


Luís Costa Pinto, Prêmio Esso de Jornalismo, por duas matérias –  “Os Tentáculos de PC Farias” e “Pedro Collor Conta Tudo” – que iniciaram o processo de impeachment de Fernando Collor escreve hoje em seu Facebook uma meticulosa análise onde analisa a edição especial da Istoé que divulga a até agora suposta – e semi-desmentida, se é que isto é possível – delação premiada de Delcídio Amaral.

É longa e dela reproduzo o trecho em que ele disseca as contradições jornalísticas da matéria, de forma muito objetiva. Imperdível para jornalistas e para quem quer entender o que os jornalistas fazem e escrevem.

Mas, mesmo deixando aos leitores mais interessados o trabalho de (um clique só, nem tanto) de verem as comparações que faz com a entrevista de Pedro Collor, não resisto a destacar um trecho do final, que você pode ler lá:

“(…)o mais estranho em todo esse processo foi a eleição de Istoé para ser o veículo da vez. A revista é a terceira em circulação no país e tem importância secundária, hoje, no processo político. A ressurreição da publicação – mesmo que num fatídico beijo da morte caso tudo se prove uma barriga monumental – se dá justo na véspera da troca de comando em Veja (na próxima segunda-feira um jornalista de carreira equilibrada, de texto primoroso e de responsabilidade ética assume a direção de redação da publicação da Abril, e isso suscitou um debate paralelo nas redes sociais em relação a um suposto e improvável “enquadramento” de Veja pelo Governo). Por que os vazadores da suposta delação negada de Delcídio Amaral elegeram Istoé para entregar um papelório potencialmente bombástico?


Sobre o jornalismo e as
capas que “contam tudo”



Luís Costa Pinto, no Facebook (trecho)

A revista Istoé antecipou sua edição do próximo fim de semana para hoje, quinta-feira.

Antes de analisar qualquer coisa, o ato de antecipar a circulação da edição impressa só mostra quão difícil é pensar as publicações nos dias de hoje.

Modernos fossem, os editores de Istoé podiam ter arrebentado numa edição eletrônica e podiam resguardar a outrora preciosa edição impressa para oferecer a seus leitores uma cobertura espetacular sobre os desdobramentos da crise. Afinal, revistas nasceram para analisar em profundidade os cenários e para explicar o porquê dos fatos.

Mas esse foi só um desacerto editorial. Deixemo-lo de lado.

Na capa da edição, o título ‘Delcídio Conta Tudo’ e uma foto do senador do PT do Mato Grosso do Sul com ar soturno e a cabeça levemente inclinada para baixo.

A ambição, inconfessa, contudo evidente e descarada, é remeter os mais velhos à histórica capa de Veja ‘Pedro Collor Conta Tudo’, de autoria central minha, mas fruto de um amplo e espetacular trabalho de equipe – repórteres, editores, correspondentes e diretores – num formato de redação e de publicação que já não existe mais. Não existe. Mimetizar a força de uma capa por similaridades gráficas é mais que equívoco: é má fé.

O texto de Istoé relata o acesso que a repórter teve a um texto que seria parte de uma delação premiada, não homologada, do senador Delcídio Amaral. No rol de denúncias, supostos fatos que serão graves se forem verdadeiros.
  Alguns deles:

1- A presidente da República e o ministro da Justiça teriam feito gestões junto ao presidente do Supremo Tribunal Federal numa reunião extrapauta, no Porto, para que Ricardo Lewandowiski ajudasse num processo de esvaziamento da Operação Lava Jato.

2- A presidente da República teria pedido ao líder do Governo no Senado, o próprio Delcídio, para que ele confirmasse com um futuro ministro do Superior Tribunal de Justiça se ele concederia habeas corpus aos presidentes de duas empreiteiras – Odebrecht e Andrade Gutierrez – tão logo assumisse a vaga no STJ. E que o presidente do STJ teria auxiliado nessas gestões.

3- Que Dilma Rousseff, então ministra da Casa Civil, soubera com todos os detalhes do passo a passo da compra da refinaria da Petrobras em Pasadena (EUA).

4- Que Dilma Rousseff, então ministra de Minas e Energia e da Casa Civil, havia articulado com a CPI dos Bingos para que seu nome não fosse tratado lá dentro.

Não vale descer ao rol quilométrico de versões elencadas no papelório divulgado por Istoé, mas:

1- Delcídio Amaral nega a delação. Seus advogados, idem. Um dos advogados de Amaral é ex-presidente do STJ, Gilson Dipp, operador do Direito que construiu sólida reputação em Brasília. Eles não foram procurados antes da publicação do texto. Sequer para confirmar ou negar a existência da delação – ou para ajudar a melhorar a “apuração”. Por que?

2- O presidente do STF, Ricardo Lewandowiski, em que pese ter sido “elogiado” na edição de Istoé, não foi procurado antes da divulgação da revista. Por que? Deveria ter sido procurado, até para dar detalhes da conversa ocorrida no Porto, em Portugal. Lewandowiski negou que tenha ocorrido abordagem não-republicana na conversa entre ele, a presidente e José Eduardo Martins Cardozo.

3- O presidente do STJ também não foi procurado por repórteres de Istoé para dizer o que houve naquelas supostas gestões – para melhorar, para tentar derrubar a “apuração”. E até mesmo as reações dele já seriam notícia, em si, numa eventual reportagem.

4- O ministro Marcelo Navarro nega ter existido a conversa citada na suposta delação também negada. E também não foi procurado por repórteres de Istoé. Por que? Mesmo que Navarro negasse, havia reportagem se fato houvesse.

5- Regressar à compra de Pasadena, dizendo que Dilma sabia o que se passaria na reunião que levou à efetivação da compra da refinaria nos EUA, é chover no molhado numa obra já feita: a presidente já dissera, em outro momento, que soubera da compra por relatório preliminar – mas que não o lera antes da reunião do Conselho da Petrobras. E isso não é crime, é notícia velha. Por que não citar, em um parágrafo, que ela sabia o que já dissera que sabia?

6- A CPI dos Bingos não tinha rigorosamente nada a ver com Dilma. Nada. Foi ela, a CPI, a responsável por levar à queda de José Dirceu do ministério da Casa Civil. E Dilma assumiu o posto dele. E naquele momento ela não era nada, não era ninguém, no horizonte político nacional. Lula tirou o nome de Dilma da cartola depois da posse para o segundo mandato – e ali a CPI dos Bingos já não existia mais.

7- De resto, no texto da revista há dois parágrafos remetendo à renovação da tese do impeachment que não nasceram da pena jornalística. Saíram de uma mente policialesca. São indícios de digitais.

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Fonte Tijolaço


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