Agora, o meu medo maior é que eles continuem com o golpe, que as pessoas não estão falando, mas eles estão falando. Essa tentativa de transformar o sistema político em parlamentar. Eu acho que o objetivo dessa gente não é só tirar a Dilma, mas mudar o sistema capital x popular.
Jornal GGN - O afastamento da presidente Dilma
Rousseff para os próximos seis meses, a partir da votação do julgamento
do impeachment no Senado, nesta quarta-feira (11), foi construído há
mais de dois anos pela politização do Judiciário, expressa com o juiz da
Operação Lava Jato, Sergio Moro, e os grandes meios de comunicação como
porta vozes para o que se anunciará de neoliberalismo do governo de
Michel Temer. Essa é a análise do cientista político João Feres Júnior,
em entrevista ao GGN.
"Se as instâncias inferiores têm sido inteiramente politizadas, o
Supremo Tribunal Federal tem sido politizadamente omisso, porque
permitiu que Sergio Moro fizesse todas essas violações e, além disso,
manteve Eduardo Cunha", explicou. Sobre possíveis esperanças para o
governo de recorrer via judicial contra o impedimento, Feres acredita
que o STF "vai, de novo, se omitir".
Para o sociólogo e mestre em Filosofia, a interpretação de que o
julgamento de caráter político justifica a ausência do STF não tem
veracidade, uma vez que "a legalidade é relativa, porque não é só
legalidade, é questão de Justiça também".
A seguir, trechos da entrevista com João Feres Júnior:
GGN: Ainda há tempo de recorrer no Judiciário para reverter o cenário de impeachment?
João Feres Jr: Eu sou muito cético em relação ao
Judiciário. Parte dele, por exemplo, o juiz Sergio Moro e as instâncias
inferiores têm agido de maneira completamente politizada. O juiz Moro
fez da Operação Lava Jato um caso de militância partidária, militando
contra o PT, fazendo os vazamentos seletivos de informação, fazendo com
que coincidisse, inclusive, com os movimentos pró impeachment na rua.
O Moro, sem dúvida, teve essa politização no Judiciário, ao mesmo
tempo que ele não sofreu nenhuma sanção, inclusive violando os direitos
dos investigados, ou seja, com escutas ilegais em advogados, por escutas
ilegais da Presidência da República, uma série de ações ilegais e
abusivas em relação aos direitos dos investigados, e ele não sofreu
nenhuma sanção por parte do Tribunal Regional a qual ele está submetido,
do Rio Grande do Sul, que não fez nada em relação a isso. O Supremo
Tribunal Federal foi inteiramente ciente. A única coisa que teve foi um
comentário do Teori Zavascki, que era ilegal as escutas, Moro pediu
desculpas e ficou por isso mesmo.
Então, se as instâncias inferiores tem sido inteiramente
politizadas, o Supremo Tribunal Federal tem sido politizadamente omisso.
Porque permitiu que Sergio Moro fizesse todas essas violações e, além
disso, manteve Eduardo Cunha que tinha uma acusação pesada de corrupção,
que foi impetrada pelo procurador-geral da República em dezembro, o STF
não julgou, deixou o Cunha levar a cabo o processo de impeachment na
Câmara, por razões escandalosamente políticas.
E o Supremo tem seletivamente barrado o Lula de assumir o
Ministério, outro ponto grave. De novo, o juiz regional declara que Lula
não pode e o Supremo não julga. Então o Supremo Tribunal Federal tem
agido em conluio, pela sua omissão, com essa campanha política pró
impeachment. Duvido que vá fazer qualquer coisa agora. Agora, deixarão
as coisas transcorrerem que o Senado vai aprovar [o impeachment].
GGN: Por se tratar de um processo político o impeachment,
como são regulados a intervenção, harmonia e independência entre os três
poderes?
João Feres Jr: Um dia a gente tinha a esperança de
que o Supremo fosse entrar na natureza substantiva da matéria e se
pronunciar se as votações estavam, de fato, considerando a questão do
processo de impeachment, ou seja, a questão do crime de responsabilidade
ou se eles iriam simplesmente se abster, não iriam fazer nada a
respeito do ponto de vista da natureza substantiva, e simplesmente
cuidar do procedimento.
Não há dúvida alguma que o Supremo vai, de novo, se omitir e
simplesmente cuidar do procedimento. Olhando o que eles [os ministros]
fizeram até hoje, não há razão nenhuma para pensar diferente. Eles irão
referendar o que os senadores votarem. E os senadores não estão nem aí
se ocorreu ou não ocorreu crime de responsabilidade fiscal. Eles querem é
retirar a Dilma. É uma aliança política para tirar o PT do governo.
A questão da legalidade é relativa, porque não é só legalidade, é questão de Justiça também.
GGN: O impeachment, então, é resultado do que a imprensa
construiu no último ano ou do que iniciou o juiz Sergio Moro há dois
anos com a Operação Lava Jato?
João Feres Jr: O impeachment é resultado da
aliança entre o Judiciário e a Mídia. Nenhum dos dois teriam conseguido
sozinhos. Foi fundamental para esse plano que a mídia servisse como
canal de propaganda, de comunicação do Sergio Moro, para que pudesse
ganhar legitimidade esse processo e fazer pressão, inclusive, sobre a
parte política. A mídia funcionando como agente político direto, ou
seja, acusando pessoas sem provas, vazando informações que eram
sigilosas, a mídia conseguiu junto com o juiz Sergio Moro essa façanha.
GGN: Com o provável afastamento da presidente Dilma ainda
nesta semana e a entrada de Michel Temer, a tendência da imprensa é
reduzir essa pressão ou seguirá para a queda também de Temer?
João Feres Jr: Tirando a Dilma do poder, a mídia
não vai fazer pressão nenhuma sobre o Temer, ainda mais porque ele está
anunciando um saco de bondades neoliberais, um conjunto de medidas
pró-mercado, há interesses que a mídia defende, então acredito que, pelo
contrário, vai dar um grande suporte ao Temer.
GGN: Qual será o cenário da crise política, econômica e da mídia em um ano pela frente? Como você acredita que o Brasil estará?
João Feres Jr: Eu acho que vai estar muito mal.
Primeiro, com muita instabilidade na sociedade civil, com movimentos
sociais nas ruas, depois, com a instalação de políticas neoliberais que
vão, de fato, cessar, diminuir o atendimento da parte popular, a crise
econômica não vai ser sanada, de maneira alguma, e a política também
não.
Agora, o meu medo maior é que eles continuem com o golpe, que as
pessoas não estão falando, mas eles estão falando. Essa tentativa de
transformar o sistema político em parlamentar. Eu acho que o objetivo
dessa gente não é só tirar a Dilma, mas mudar o sistema capital x
popular.
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