O dia 11 de maio será conhecido por muitos como o dia da infâmia, mais
um dia em que a democracia brasileira foi conspurcada. Todavia, para
este que escreve o 11 de maio é, apenas, o primeiro dia da luta pela
redemocratização do Brasil. Mãos à obra, companheiros. A virada começa
hoje.
Por Eduardo Guimarães
O golpe que cassou o governo legítimo de João Goulart, em 1964,
revestia-se de todos os atributos auto alardeados pelos golpistas
contemporâneos, alguns destes os mesmos que, há 52 anos, trabalharam
furiosamente pela interrupção da democracia no Brasil. Tal qual desta
vez.
Em 1964, o Congresso encenou um processo legal, a OAB apoiou, o
Supremo Tribunal Federal apoiou, a grande imprensa apoiou. Os golpistas
alardearam ao mundo que “as instituições estavam funcionando”.
As desculpas mal-ajambradas para tirar Dilma Rousseff do cargo para o
qual foi eleita legitimamente pela maioria inquestionável do povo
brasileiro, e nele colocar um governo ilegítimo, sem voto, um fidedigno
governo “de facto”, não enganam mais ninguém.
Nos últimos dias, o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luís Almagro, fez uma denúncia formal à Corte Interamericana de Direitos Humanos – à qual o Brasil se submeteu no âmbito do pacto de São José da Costa Rica – contra o processo ilegal que está interrompendo o mandato popular de Dilma Rousseff.
A imprensa internacional foi tomada por artigos e reportagens que dão
conta de que as razões alegadas para destituir Dilma são insuficientes
para ato tão grave quanto revogar o voto popular. Em editoriais, esses
veículos estrangeiros muitas vezes não usam a palavra golpe, mas, tal
qual fez o diário espanhol El País nesta quarta-feira (11/5), afirmam que a presidente está sendo afastada sob uma farsa.
O Brasil já começa a se dar conta da enormidade que está sendo
cometida. O jornal Valor Econômico registrou, com preocupação, editorial
de um dos maiores jornais da Europa que acusa o Brasil de estar tirando
Dilma do cargo em um processo fraudulento.
Com efeito, o editorial em questão, ao lado de tantos outros de
veículos como The New York Times, The Guardian etc., etc., trata de
avisar ao mundo que a democracia brasileira está comprometida.
A leitura do editorial do El país preocupa porque faz prever as
dificuldades que nosso país terá para atrair investimentos, pois países
com democracias frágeis não são considerados seguros para investir.
Aliás, uma das razões alegadas pelas agências de classificação de risco para rebaixarem a nota do Brasil é, justamente, a instabilidade política.
Um trecho do editorial
do El País intitulado “Um processo irregular” mostra como a opinião da
imprensa internacional sobre o impeachment de Dilma é arrasadora para os
golpistas locais:
“Enquanto o Brasil afunda na
recessão, a oposição usou o Congresso para transformar uma acusação de
caráter político –uma má gestão do orçamento– num processo previsto para
casos penais. As sucessivas investigações não conseguiram provar a
participação da presidenta na corrupção que afeta o seu partido, mas o
abandono de vários de seus parceiros de Governo a colocaram numa
situação muito difícil. Essa crise institucional coloca dúvidas mais do
que razoáveis sobre a legitimidade que teria um novo presidente depois
de um processo tão pouco habitual. O Brasil não pode se permitir
semelhante espetáculo. O dano causado é incalculável”
Junte-se a isso o efeito de uma fila de incontáveis personalidades
que acusam o golpe contra a democracia, como o prêmio Nobel da Paz
Adolfo Pérez Esquivel, e podemos concluir que os golpistas estão nus.
Recentemente, a historiadora Juliette Dumont, do Instituto de Altos
Estudos sobre a América Latina, da universidade parisiense Sorbonne
Nouvelle, afirmou que o afastamento irregular de Dilma “vai fragilizar o
Brasil e prejudicar, durante muitos anos, a credibilidade do país no
cenário internacional”. Para ela, “O Brasil cometerá um suicídio
político” se o Senado aprovar o pedido de impeachment.
Infelizmente, o que está acontecendo neste país não é novidade. A
maioria dos presidentes civis eleitos pelo voto direto no Brasil não
concluiu seus mandatos. Com efeito, o golpismo é uma característica das
republicas latino-americanas que simulam democracia. O Brasil acaba de
se reinserir nesse grupo de países.
Eis que, após 52 anos, a república brasileira vê de novo grupos
políticos de direita ocuparem o poder sem ter sido eleitos. Nos próximos
dias, veremos partidos derrotados na eleição presidencial de 2014
entrando triunfalmente nos prédios do governo afastado irregularmente.
Partidos como o PSDB e o DEM passam a ocupar o poder sem mandato
popular. Pastas como Justiça, Relações Exteriores e Educação estão sendo
entregues a partidos que PERDERAM a eleição presidencial de 2014 e que
não obtiveram mandato popular para governar, assim como o presidente “de
facto” Michel Temer.
Os setores da população que apoiaram a derrubada de Dilma a qualquer
preço constituem a face mais violenta e antidemocrática da ruptura
institucional em curso, com discursos virulentos característicos de
torcidas organizadas de futebol.
Os brados de “chupa” ou “chora” vociferados pela torcida golpista
contra adversários políticos dão a medida do rebaixamento da política e
da institucionalidade brasileira. O Brasil virou um gigantesco estádio
de futebol em que ocorre uma briga descontrolada entre torcidas.
Paralelamente a esse processo ilegal em curso, a curiosidade maior
ficará por conta de a grande imprensa brasileira voltar aos tempos do
oficialismo, ou seja, Globo, Folha, Estadão, Veja e congêneres voltarão a
ser chapa-branca. Matérias como
as que atribuem características à “primeira-dama” golpista que agradam a
direita, tais como “Bela, Recatada e do Lar”, dão uma palhinha do que
vem por aí.
Contudo, em alguma medida o que vem por aí constituirá um aprendizado
democrático importante pelo qual talvez o país precisasse passar. Os
setores da esquerda que ajudaram os golpistas acusando os governos do PT
de serem “de direita” terão a oportunidade de lembrar o que, de fato, é
um governo de direita.
O maioria do nosso povo – que, segundo empresas privadas de pesquisa
de opinião (ligadas a grupos de mídia de oposição ao governo petista),
apoiou a derrubada do governo eleito em 2014 – descobrirá, nos próximos
meses, que o governo que sucederá o de Dilma não irá devolver o que
essas pessoas estão querendo, ou seja, o bem-estar social que os
governos petistas geraram entre 2003 e 2013.
Pesquisa Datafolha publicada há não muito tempo revelou que o
brasileiro é de direita nos costumes e valores “morais” – em questões
como aborto etc. –, mas é de esquerda na economia, ao apoiar a maioria
das políticas públicas que os governos petistas adotaram nos últimos 13
anos. Esse povo ficará surpreso com o que foi buscar com suas próprias
mãos.
No início, as pessoas resistirão a dar o braço a torcer, mas, até
2018, veremos os defensores do impeachment sumirem assim como sumiram os
eleitores do ex-presidente Fernando Collor de Mello pouco após ele
chegar ao poder.
Tenho para mim que a volta da esquerda ao governo não irá demorar
tanto. Até a eleição de Lula, a direita tinha o discurso de que se o PT
chegasse ao poder iria tomar as casas das pessoas para dividir com os
pobres e outras bobagens do gênero. Após 13 anos de governos petistas,
essa história não vai colar mais.
Ainda que muitos finjam que esqueceram tudo que obtiveram de bom
entre 2003 e 2013, a maioria esmagadora dos brasileiros sabe quanto
melhorou de vida nessa década de governos petistas. E vai exigir isso de
volta. Cedo ou tarde.
O dia 11 de maio será conhecido por muitos como o dia da infâmia,
mais um dia em que a democracia brasileira foi conspurcada. Todavia,
para este que escreve o 11 de maio é, apenas, o primeiro dia da luta
pela redemocratização do Brasil. Mãos à obra, companheiros. A virada
começa hoje.
*
PS: Temer oferecerá ao empresariado a terceirização do trabalho
assalariado como compensação pela volta da CPMF, que os mesmos que
recusaram concedê-la a Dilma deverão aprovar em breve. A terceirização
reduzirá fortemente os salários dos brasileiros.
Fonte Blog da Cidadania
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