domingo, 21 de agosto de 2016

O PMDB, do Doutor Ulysses ao golpista Temer


Ao que chegou o partido do doutor Ulysses, honesto e combativo dirigente democrático brasileiro, a quem Temer não teria podido sequer se aproximar, pelo horror que provocaria naquele que protagonizou as glórias do PMDB, hoje partido reduzido ao golpismo, à corrupção e ao neoliberalismo, contra o povo, a democracia e o Brasil.






Por Emir Sader*

O PMDB tornou-se o partido que adere a todos os governos. Não consegue viver fora do poder, porque vive da repartição das prebendas – de cargos e de recursos – de quem detém poder. Esteve com FHC, com o PT e agora com o golpe.

Mas nem sempre foi assim. O PMDB foi o partido central da luta institucional contra a ditadura e pelo retorno da democracia. Congregou setores muito diferenciados, mas unidos por essa luta.

Teve a direção do maior líder da luta democrática, Ulysses Guimaraes. Que teria sido o candidato favorito para ser eleito presidente do Brasil, caso a campanha das diretas tivesse tido sucesso. A própria transição à democracia teria sido diferente, porque o PMDB tinha um programa de reformas econômicas e sociais, que acompanhavam indissoluvelmente a reinstalação da democracia no pais.

A derrota das diretas e a morte de Tancredo Neves permitiram que a transição fosse vitima da mesma elite da época da ditadura, com o ex-presidente do partido da ditadura e dirigente da campanha contra as diretas, Jose Sarney sendo, paradoxalmente, o primeiro presidente civil da democracia, eleito pelo Colégio Eleitoral para ser vice-presidente.

A transição ficou assim restrita a um novo pacto de elite na história brasileira, com o novo regime instalado não com a cara da resistencia democrática e da campanha das diretas, mas com a cara do Colégio Eleitoral e do compromisso do novo com o velho, sob a égide de um dirigente da ditadura – Sarney. Não como acaso, ACM foi o todo poderoso ministro das comunicações, enquanto Ulysses ficava escanteado.

Ainda assim, Ulysses comandou o momento mais alto da transição democrática, a Assembleia Constituinte, da qual ele foi o presidente e que ele denominou de Constituinte Cidadã, justamente porque afirmava o que a ditadura havia liquidado e o que o neoliberalismo voltaria a atacar. Apenas aprovada, Sarney já a atacou, afirmando que ela tornava o Estado ingovernável – diagnóstico já neoliberal -, porque garantia direitos que o Estado não estaria em condições de promover.            

O fracasso do governo Sarney esgotou o impulso democrático, levou a candidatura de Ulysses à presidência, em 1989 a não ter nenhuma transcendência, porque o PMDB, embora não dirigisse o governo Sarney, pagou o preço de tê-lo eleito e apoiado.

Com a morte de Ulysses Guimaraes, o PMDB se descaracterizou completamente. Ficou reduzido a um partido fisiológico, sem capacidade de nem sequer lancar candidato à presidencia, mas controlando o Congresso e assim negociando seu apoio aos governos, seja o de FHC, como os de Lula e de Dilma.

A chegada de Michel Temer à presidencia é a resultante desse processo fisiológico e que teve num nome anônimo o perfeito para presidir um partido anônimo e adesista a todos os governos. O PT não o escolheu como vice, apenas aceitou a indicação do PMDB pelo seu presidente, em aliança que se tornou indispensável, depois que Lula quase foi derrubado por impeachment, em 2005, sem maioria parlamentar.

Vice decorativo, conforma confissão dele mesmo, Temer ficou disponível para aventuras politicas, como o golpe, e ameaçado de condenação nos inúmeros casos de corrupção em que ele mesmo está diretamente envolvido, além de acobertar todos os outros casos do seu partido, sob a sua  presidência. Salvo pelo seu mentor Eduardo Cunha, Temer pôde ser o instrumento do golpe da direita para tirar o PT do governo e impor o programa derrotado, ao qual o próprio Temer se opôs, quando foi eleito vice presidente em 2010 e reeleito em 2014.

Traidor, corrupto, oportunista, medíocre, incompetente, covarde – vai acumulando os piores epítetos que um politico pode ter e, por isso mesmo, se prestou para ser instrumento do golpe e ser condenado por todo o País, que entoa o “Fora Temer”.

Até que o PMDB se propõe a expulsar um dos últimos parlamentares dignos do partido, Roberto Requião porque, como ele diz, ele não é ladrão. Ao que chegou o partido do doutor Ulysses, honesto e combativo dirigente democrático brasileiro, a quem Temer não teria podido sequer se aproximar, pelo horror que provocaria naquele que protagonizou as glórias do PMDB, hoje partido reduzido ao golpismo, à corrupção e ao neoliberalismo, contra o povo, a democracia e o Brasil.

* Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiros

Fonte Brasil 247



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