Sindicato dos Bancários de São Paulo e Contraf-CUT denunciam que medidas de “reestruturação” do BB integram intenção do governo Temer de fragilizar o Estado e privilegiar mercado financeiro
São Paulo – A Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo
Financeiro (Contraf-CUT) e a Comissão de Empresa dos Funcionários do
Banco do Brasil se reunirão nesta terça-feira (22) com a direção do BB,
em encontro solicitado pelas entidades sindicais para tratar da decisão
anunciada no domingo (20) de, a pretexto de promover "racionalização de
recursos", promover a reestruturação de agências e estimular a saída de
18 mil funcionários por meio de plano de incentivo à aposentadoria. O anúncio prevê o fechamento de 31 superintendências do banco, de 402 agências e a transformação de outras 379 em postos de atendimento.
Em nota, o Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região
critica o movimento de "desmonte" da maior instituição financeira
pública do país. A entidade alerta que a medida terá impacto no acesso
ao crédito. "Os públicos aumentaram o crédito de 38% para 57% de 2008
para 2016, enquanto os privados tiveram redução de 5% nos últimos dois
anos", diz o documento.
"A economia brasileira passa por um momento grave, com forte retração
da atividade econômica, elevação do desemprego e queda na renda das
famílias (...) Essa agenda irá aprofundar a recessão na medida em que
enfraquece o mercado interno e a infraestrutura social e econômica que
nos fizeram avançar na última década", ressalta o texto.
A presidenta do sindicato, Juvandia Moreira, observa um interesse do
governo Temer em fragilizar mais uma empresa pública, a exemplo do que
vem sinalizando com a Caixa Federal e do que já está fazendo com a
Petrobras: "O BB é responsável, por exemplo, por cerca de 60% do crédito
agrícola no país. Esse desmonte só interessa aos bancos privados, que
não terão concorrência, num sistema financeiro extremamente concentrado e
sem os bancos públicos fortes, toda a sociedade perde".
Segundo o coordenador da Comissão de Empresa, Wagner Nascimento, um
pacote de medidas desse porte deveria ser discutido com a sociedade e os
funcionários, não ser "informado" pela imprensa. "Fechamento de centros
de serviços e centenas de agências vão prejudicar muito os funcionários
e estes precisam de atenção. O banco precisa respeitar mais aos seus
funcionários e pode começar abrindo um canal de negociação efetiva
quanto aos impactos das medidas anunciadas", criticou Wagner.
A Contraf-CUT também emitiu nota para contestar a decisão do banco. A
entidade lembra que em outubro, após a finalização da campanha nacional
dos bancários, o presidente Michel Temer concedeu entrevista afirmando
que o "Banco do Brasil estava pensando em cortar uma porção de funções,
de cargos que lá existem, que são absolutamente desnecessários", mas que
vinha negando alterações. "Apenas após a informação ser divulgada pela
imprensa no último domingo, o banco finalmente divulgou a notícia aos
seus funcionários. Um desrespeito com os trabalhadores", contesta a
nota.
"Precisamos conhecer cada detalhe da reestruturação para orientar os
funcionários sobre a adesão ao plano de aposentadoria e redução da
jornada. Contudo, nossa grande preocupação no momento é com as bancárias
e bancários que terão suas unidades reduzidas ou fechadas”, afirmou
Wagner Nascimento.
Demissões
De acordo como o comunicado divulgado ontem pelo Banco do Brasil,
cerca de 9.300 postos de trabalho poderão ser extintos com a adesão ao
Plano de Extraordinário de Aposentadoria Incentivada (Peai). O número de
funcionários que se enquadram nas regras propostas para a aposentadoria
chega a 18 mil trabalhadores.
Além dos cortes de dotação de pessoas e plano de aposentadoria, o BB
também anunciou a ampliação do público alvo da jornada de 6 horas,
estendendo a opção aos assessores de todas unidades.
O governo anunciou ainda intenção de cortar R$ 750 milhões de gastos
do banco, sendo R$ 450 milhões com a nova estrutura organizacional e R$
300 milhões com redução de despesas com transporte de valores, segurança
e imóveis. A "economia" pretendida com as 9 mil aposentadorias seria de
R$ 2,9 bilhões por ano.
A Contraf-CUT afirma que as medidas anunciadas vão na contramão do
papel que o banco vinha desempenhando, nos últimos anos, de fomento ao
desenvolvimento social e econômico do Brasil.
Para o Sindicato dos Bancários de São Paulo, alternativas para a
saída da crise devem ser debatidas e construídas, e exigem a retomada da
expansão do crédito para setores prioritários como moradia popular,
agricultura familiar, pequenas e médias empresas. “Há alternativas
concretas à disposição dos formuladores da política econômica do
governo, como a redução da taxa Selic, a utilização dos bancos públicos
para rebaixar o spread bancário e elevar o crédito, a liberação de
depósitos compulsórios com garantia de aplicação em áreas prioritárias.
Basta vontade política para implantar tais medidas”, conclui o documento
da entidade.
Fonte Rede Brasil Atual
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