“Nessa república louca que é o Brasil, temos aí o Executivo e o Legislativo altamente envolvidos nas questões da Odebrecht, de acordo com as delações no âmbito da Operação Lava Jato. Tem-se aí pelo menos uns 30 anos em que a Odebrecht ganha praticamente todas as ações na Justiça. O Judiciário nunca toma uma posição contrária à empresa? Será que o Judiciário é o mais correto dos poderes?
Eliana
Calmon
A ministra aposentada do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Eliana
Calmon comenta a repercussão de suas declarações ao jornalista Ricardo
Boechat, da revista IstoÉ, de que “delação da Odebrecht sem pegar
Judiciário não é delação”.
Calmon afirma que não quis insinuar que exista especificamente algum
juiz corrupto em qualquer esfera do Poder Judiciário brasileiro, mas
reiterou que acha “muito estranho” a construtora “quase nunca perder uma
ação na Justiça” e “nunca ter sido suspeita em nenhuma das licitações”
das várias que já venceu no Brasil.
“Nessa república louca que é o Brasil, temos aí o Executivo e o
Legislativo altamente envolvidos nas questões da Odebrecht, de acordo
com as delações no âmbito da Operação Lava Jato. Tem-se aí pelo menos
uns 30 anos em que a Odebrecht ganha praticamente todas as ações na
Justiça. O Judiciário nunca toma uma posição contrária à empresa? Será
que o Judiciário é o mais correto dos poderes? Em todas essas inúmeras
licitações que a Odebrecht já ganhou no Brasil nunca a Justiça encontrou
nada suspeito sem que precisasse alguém denunciar”, questiona a
ministra em entrevista ao jornal Tribuna da Bahia.
Eliana Calmon disse que não tem uma estimativa de quando nem como se
dará o desfecho da Operação Lava Jato, cuja investigação começou sobre
um esquema de corrupção que assolou a Petrobras por meio de pagamento de
propina de empreiteiras a políticos. “O fim da Lava Jato é uma
incógnita. Eu acho que ninguém esperava toda essa dimensão que a
investigação ganhou. Acredito que a Odebrecht tenha ficado por último
porque seria de fato o maior impacto com as delações de seus
executivos”.
O ex-presidente da construtora Marcelo Odebrecht e os demais
executivos que já depuseram na Lava Jato já delataram Michel Temer, o
ex-presidente Lula, nove ministros e ex-ministros de Estado, 12
senadores e ex-senadores, quatro governadores e ex-governadores, 24
deputados federais, três servidores, dois vereadores e um empresário. E
como destaca Eliana Calmon, não há nenhuma denúncia contra nenhum membro
do Poder Judiciário. De nenhuma esfera. “É impossível levar a sério
essa delação caso não mencione um magistrado sequer”, completa baiana.
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