Michel Temer é, por assim dizer, uma espécie de Robin Hood às avessas que tira dos mais pobres para dar aos mais ricos. O problema é que, diferentemente da personagem original, o nosso anti-herói não encontrará abrigo nem em um lado nem em outro.
Por Carlos Fernandes
De todos os desastres econômicos, políticos e sociais que o
presidente Michel Temer conseguiu propiciar em menos de um ano ocupando a
cadeira presidencial, o mais revoltante diz respeito à sua crueldade em
relação à população mais pobre desse país.
Mais do que uma completa indiferença à camada social mais
necessitada, Temer não só os abandona à própria sorte como os castiga
violentamente numa contrapartida ao escandaloso financiamento dos
arquitetos do golpe que agora se vê obrigado a sustentar.
Não que a incompetência e a irresponsabilidade econômica
patrocinadas pela tríade Temer-Meireles-Goldfajn não tenham atingido a
todos na farsante promessa de recuperação da confiança e dos
investimentos internacionais.
O recém divulgado relatório do Deutsche Bank que colocou a
indústria brasileira na última posição global não nos deixa dúvida sobre
isso.
A questão é que para os amigos, os seja, o 1% mais abastado,
o “Estado mínimo” se transforma numa verdadeira mãe cujos cofres sempre
estão fartos e à disposição. A disparidade no tratamento dado aos
“seus” e aos “outros” é simplesmente gritante.
Senão, vejamos:
Ao passo em que o aumento dado ao salário mínimo em 2017
ficou abaixo da inflação pela primeira vez desde 2003, o aumento dado ao
judiciário – partícipe inconteste na derrubada da democracia – foi de
até 41,47% ao custo de R$ 140 bilhões ao contribuinte.
Ao mesmo tempo em que saúde e educação tiveram seus
investimentos congelados por duas décadas, o “Estado mínimo” sente-se
obrigado a socorrer empresas de telefonia – privatizadas a preço de
banana – com a singela quantia de R$ 105 bilhões.
Enquanto a Previdência Social e a Consolidação das Leis do
Trabalho estão sendo destroçadas sob o cínico discurso de que é preciso
tomar medidas duras para recuperar um país quebrado, o mesmo governo
aumenta em centenas de milhões de reais as despesas de publicidade na
grande mídia coronelista .
Esses são apenas alguns exemplos da política de exceção que o
governo Temer vem praticando diuturnamente sem piedade, mas a lista de
atrocidades segue desenfreada.
O mais novo alvo é o BPC (Benefício de Prestação Continuada)
que refere-se ao auxílio de um salário mínimo pago a idosos com mais de
65 anos ou deficientes. Temer quer restringir o alcance desses
benefícios. Quanto ao que farão os que forem prejudicados? Ao que
parece, não é problema dele.
É uma sistemática cruel, mas que obedece de uma certa forma a
lógica capitalista de acumulação de riqueza. Como o “bolo” é limitado e
os mais ricos não abrem mão de ficarem mais ricos, a “solução” é
retirar dos mais pobres num ciclo vicioso que só pode nos levar a uma
verdadeira crise humanitária que inclusive já presenciamos no Brasil não
muito tempo atrás.
O presidente serve caninamente a esse propósito porque além
de ser simpático a ele, sabe que se transformou num entulho passível de
ser descartado a qualquer momento. Abarrota os cofres capitalistas com
as migalhas de quem já não tem nada porque assim acredita infantilmente
obter misericórdia de um sistema puramente impiedoso.
Michel Temer é, por assim dizer, uma espécie de Robin Hood
às avessas que tira dos mais pobres para dar aos mais ricos. O problema é
que, diferentemente da personagem original, o nosso anti-herói não
encontrará abrigo nem em um lado nem em outro.