quarta-feira, 8 de março de 2017

POR QUE EXISTE UM DIA DA MULHER?


Mas as mulheres não deveriam ter apenas um dia, e sim todos os dias, assim como as crianças, os índios, bem como todos os explorados e oprimidos. Enquanto houver opressão da mulher, haverá o Dia da Mulher. E por isso esse dia deveria ser um dia de luta contra essa opressão e de todas as outras formas de exploração. Esta luta sendo vencedora significaria o fim da opressão e, por conseguinte, o fim do Dia da Mulher e assim todos os dias seriam das mulheres – e dos homens – e não apenas um dia. 



Por Nildo Viana


Dia 8 de março, Dia da Mulher. As pessoas geralmente não se perguntam por qual motivo existem determinadas datas comemorativas. Por qual motivo existe um dia da mulher? E a mesma pergunta deveria ser feita sobre outras datas, tanto as festivas quanto as demais. O Dia da Mulher, segundo alguns, é uma homenagem às operárias tecelãs que morreram carbonizadas em Nova York em 1857, como resultado da repressão à sua manifestação.

Porém, este acontecimento histórico deixa de ser, para muitos, uma data simbólica das lutas femininas e se transforma em apenas mais um dia formal de comemoração, tal como o Dia da Árvore e o Dia do Índio. A destruição das sociedades indígenas e o desmatamento, no entanto, continuam, assim como a opressão das crianças e das mulheres continua, apesar de existir “um dia” de homenagem a estes segmentos sociais.

No entanto, o Dia da Mulher vai perdendo cada vez mais o seu significado original e hoje vem sendo mercantilizado, como é o Dia da Criança, o Natal, entre outros exemplos. O costume de dar flores começa a se alastrar, bem como já criaram “cestas para o Dia da Mulher”.

O Dia da Mulher é um dia no qual se faz discurso sobre o sexo feminino, as feministas e os políticos fazem referência à sua luta e importância, os meios de comunicação fazem reportagens e passam mensagens, o comércio busca vender produtos voltados para esta data. Mas nada de substancial muda na condição feminina.

Existe o Dia da Mulher pela razão de que existe um problema da mulher, a questão feminina, mesmo que este seja escamoteado. É a opressão da mulher – e sua luta contra ela, como no caso das tecelãs norte-americanas – que faz existir o Dia da Mulher. A opressão da mulher se manifesta no cotidiano, no trabalho, na esfera doméstica, nos atos de violência, nas condições de vida, na cultura, no mercado.

Mas as mulheres não deveriam ter apenas um dia, e sim todos os dias, assim como as crianças, os índios, bem como todos os explorados e oprimidos. Enquanto houver opressão da mulher, haverá o Dia da Mulher. E por isso esse dia deveria ser um dia de luta contra essa opressão e de todas as outras formas de exploração. Esta luta sendo vencedora significaria o fim da opressão e, por conseguinte, o fim do Dia da Mulher e assim todos os dias seriam das mulheres – e dos homens – e não apenas um dia.

Fonte Informe e Crítica


Saiba mais


 Dia Internacional da Mulher

Nodo 50.oerg


Que muitos desconheçam o verdadeiro significado do dia 8 de março não é de se surpreender em um mundo predominantemente machista. O que é patético é desviá-lo de seu valor histórico e fazer dele um dia em que as mulheres adquirem o "privilégio" de serem "lembradas" e "homenageadas" por seus patrões, parentes, maridos, apresentadores e entrevistadores de TV, como se esse dia fosse um prêmio de consolação para todas as lutas cotidianas e históricas contra a diferenciação extremada que se deu ao longo dos séculos entre homens e mulheres. 

Mas o que significou realmente o dia 8 de março? A nossa expectativa para esse dia é que as pessoas tenham a oportunidade de pensarem no que nos 365 dias de homens não é o assunto posto na mesa, a opressão muitas vezes silenciosa que ainda permeia o ser mulher. 

E o que vem a ser isso exatamente ? Não é difícil concluir que ainda hoje a mulher é vista e diferenciada pelo seu caráter biológico, recebendo qualificações que a "coisificam" ou a animalizam de tal forma, que o peso da mulher na sociedade fica muito mais restrito e desconsiderado. Qual a mulher que nunca se sentiu exposta em uma vitrine de açougue ao ouvir cantadas e comentários dos homens em relação ao seu corpo, ou uma "fêmea" capinando ao ser comparada a uma égua, a uma vaca, a uma cadela e outras coisas mais? Tal inferiorização advém do fato de o "ser mulher" sempre ter sido construído de acordo com a divisão sexual dos papéis preestabelecidos através de determinismos biológicos. Já ao nascerem, homens e mulheres são preparadas pelas instituições sociais (família, escola, igreja, meios de comunicação) para seguirem o "script" dos estereótipos criados com a intenção de manter imóvel a forma de organização política vigente e, principalmente, perpetuar o poder predominantemente masculino e opressor. 

O 8 de março significou mais do que um dia trágico do século passado e na história da humanidade, ele na verdade exponenciou ao máximo a violência e a tirania para com as mulheres operárias, que, num movimento grevista, ao ocuparem a fábrica têxtil em que trabalhavam, foram queimadas sem qualquer piedade por estarem dando um basta à exploração e à desigualdade tanto salarial quanto social em relação aos homens. Com uma jornada de trabalho de 16 horas diárias e péssimas condições trabalhistas, muitas operárias morreram indiscriminadamente ao lutarem por seus direitos, ao fazerem greves, ao distribuírem panfletos e ao organizarem as massas. 

E o que restou dessas memórias de luta, o que restou desse massacre e de muitos outros que ficaram abafados na história? A resposta é simples, porém não muito animadora. Eles estão aí junto com outros episódios tão criminosos quanto o do dia 8 de março, expostos na prateleira pós-moderna, onde todos os conflitos são passageiros e banalizados por olhares sem perspectiva de futuro e extremamente individualistas, típico de uma ideologia capitalista e burguesa. 

É preciso atentarmos para o descaso com que o Ocidente trata a política do Taliban para com as mulheres afegãs, que sofrem torturas e discriminações diárias tão graves, por motivos que nos chocariam. Algumas mães preferem matar suas bebês para não passarem o mesmo sofrimento de não poderem refugiar-se nem em seu próprio corpo, por este ser um patrimônio da família. Isso só prova que o mundo ainda segue uma linha predominantemente machista e, será que às vésperas do séc. XXI é possível se falar em emancipação? 

No Brasil, a situação não chega a ser muito diferente quando se trata de mulheres operárias, de baixa renda ou com péssimas condições de vida. No primeiro caso, muitas vezes são oprimidas pela família ou pelos patrões; não tendo a chance de escolherem ou tentarem uma vida mais digna, sendo obrigadas a trabalhar muitas vezes sem benefícios para contribuir na renda de casa. No segundo caso, entra uma grave questão, que pelo fato de não fazer parte do eixo econômico Rio-São Paulo, muitos brasileiros desconhecem ou ignoram: o caso vergonhoso de prostituição infantil, em que estrangeiros recebem meninas brasileiras como verdadeiras mercadorias a serem comercializadas, e que, na verdade, são iludidas com o sonho de conseguirem uma vida melhor no exterior. 

Diante de todos esses fatos, não há mais muito o que dizer, mas sim resta muito a fazer, pois vemos que as mulheres ainda estão engatinhando, aprendendo a se equilibrar no vasto Universo concebido pela lei do mais "forte". Falta-nos ousadia para questioná-lo, transpô-lo e reconstruí-lo, não sob uma ótica "feminina", mas sob uma ótica menos dicotomizada e menos extremista, que não divida o mundo em dois pólos totalmente desconhecidos um do outro, mas que exija destes uma proposta de união e cooperação entre iguais. Para isso, ambos homens e mulheres serão obrigados a se reprogramarem e a se enfrentarem diariamente com as contradições. 

"O que aconteceria se uma mulher despertasse de manhã transformada em homem? E se a família não fosse o campo de treinamento onde o menino aprende a mandar e a menina a obedecer? E se houvessem creches? E se o marido participasse da limpeza e da cozinha? E se a inocência se fizesse dignidade? E se a razão e a emoção andassem de braços dados? E se os pregadores e jornais dissessem a verdade? E se ninguém fosse propriedade de ninguém?" Eis o sonho de Charlotte Gillman, um mundo ao contrário onde desfazendo-se a divisão entre opressores e oprimidos não existiria também o predomínio do sexo masculino sobre o feminino. 

Contudo, da mesma forma que a condição de exploração e dominação entre as pessoas não surge "do nada" também não se desfaz naturalmente. Tendo em mente que esta condição deriva de determinado projeto de poder, contra ele precisamos organizar a nossa luta. Esta luta, que deve ser ampla, precisa reconhecer também cada ponto particular da identidade deste poder central e exterior à sociedade. Neste texto nossa intenção é delimitar a característica machista deste poder. 

Não é de hoje que as mulheres vem resistindo e combatendo o machismo, porém, uma causa tão abrangente comporta orientações diversas de luta, muitas das quais, sob nosso ponto de vista, desvirtuadas, em que mulheres buscam, guiadas pelos valores capitalistas, assumir o papel que é dos homens, passando de oprimidas a novas opressoras sem promover transformações estruturais e significativas. Ao longo do tempo, as mulheres conquistaram certa ascensão econômica, mas, na esfera política sua inserção ainda é insuficiente. A política além de ter se tornado assunto para especialistas, continua sendo "coisa de homem", haja vista a pequena participação das mulheres em partidos ou outros movimentos políticos. 

É basicamente no que diz respeito aos princípios da luta contra a opressão que a mulher libertária se distingue. Ainda tratando da questão "o que é ser mulher", entendemos que não existe uma homogeneidade, há sobretudo uma identidade de classe. A mulher libertária além de pertencer ou optar pela classe trabalhadora, caracteriza-se por ser contra toda e qualquer tipo de autoridade. Dessa forma, ela luta para libertar a si e a sociedade, não só com retórica, mas com ação direta e através dos princípios libertários, na sua militância contra o Estado, contra a burguesia e contra o machismo. 

Foram mulheres como Maria Lacerda de Moura, Matilde Magrassi, Isabel Cerruti, Antonia Soares, Maria Angelina Soares, Maria de Oliveira, Tibi e Miriam Moreira Leite que, aderindo à causa anarquista em meados de 1920 em prol do movimento operário, ajudaram a fundar a Federação Internacional Feminina, onde discutia-se direitos da criança e da mulher, a importância da educação, cadeiras como Pedagogia, Higiene e Pediatria nos cursos superiores, a criação de uma cadeira como "História da Mulher", e questões sociais como assistência, sistemas coercitivos, trabalhos domésticos e trabalho industrial, seduções, jogo, infância delinqüente, investigação à paternidade, júri, direitos civis e políticos da mulher, tráfico de mulheres, coeducação, casamento, divórcio, salário, crimes da maternidade fora da lei, eugenia, proteção aos animais, etc. Movimentos como esses são cada vez mais necessários e imprescindíveis para o apontar de uma nova visão e divisão de mundo em que o gênero não seja mais um dos divisores de água, mas sim uma conquista que simbolize a união e a solidariedade na construção de uma sociedade calcada em princípios e valores extremamente humanitários, onde a liberdade e a ética sejam a cartilha do dia-a-dia de cada um em prol de um coletivo.

Ana Luiza e Denise Principais Fontes Bibliográficas: 
GALEANO, Eduardo. Memórias de Fogo 
RAGO, Margareth. Anarquismo e Feminismo no Brasil 

Fonte  Nodo 50.org

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