“Devo dizer que nunca vi o Brasil descer tão baixo. Quanto ao que se passou no Congresso brasileiro ultrapassa tudo o que é discutível; não existe. Foi uma assembleia geral de bandidos comandada por um bandido chamado Eduardo Cunha fazendo a destituição de uma Presidente sem qualquer base jurídica nem constitucional para tal, mas, sobretudo, com uma falta de dignidade que eu diria que é de arrepiar; uma bandalheira tudo aquilo”.
Por Jeferson Miola
Com a decisão favorável do TSE,
Michel Temer eliminou a única via para seu afastamento, além da própria
renúncia, que não dependia da interveniência do Congresso.
A partir de agora, e caso Temer
relute em renunciar, a despeito da avalanche de denúncias de crimes
cometidos por ele e sua turba, as duas possibilidades remanescentes para
afastá-lo do cargo seriam ou [1] através de processo de impeachment no
Congresso pelos crimes de responsabilidade, ou [2] em julgamento no STF
pelos crimes de [a] corrupção, [b] obstrução de justiça, [c]
organização criminosa, [d] prevaricação e [e] outros, que ainda deverão
ser revelados.
No caso do impeachment,
Rodrigo Maia, o presidente da Câmara dos Deputados acusado de corrupção e
lavagem de dinheiro, teria de admitir para tramitação um dos 14 pedidos
de impeachment protocolados e que ele engavetou. Rodrigo Maia,
porém, como operador da tropa de choque da base parlamentar do “governo
de ladrões”, dificilmente instalará o processo.
Na hipótese improvável de Maia aceitar algum pedido de impeachment,
o plenário da Câmara teria de aprová-lo por maioria de 2/3 dos votos,
ou o mínimo de 342 deputados, o que atualmente seria incogitável sem a
ocorrência de uma hecatombe política e moral capaz de abalar os pilares
do “governo de ladrões” – os antecedentes comprovam o impressionante
poder de resiliência de Temer, Padilha e toda a quadrilha do Planalto
diante de “simples” mega-escândalos. Ou morrem com um bombardeio nuclear
– ou sobrevivem; como baratas.
Para o julgamento de Temer no STF,
em que pese a robustez das provas de práticas delituosas do chefe da
cleptocracia cometidas no interior das instalações oficiais e nos
Palácios de governo, a Câmara precisaria autorizar, também por maioria
de 2/3 dos votos, a instalação do processo.
Tal como no caso do impeachment,
no STF o círculo também se fecha, e Temer será protegido por uma
maioria de deputados acusados por um amplo cardápio de crimes –
corrupção, fraude em licitações, improbidade administrativa, lavagem de
dinheiro, evasão de divisas, tráfico, trabalho escravo e, inclusive, por
tentativa de homicídio.
Tratam-se,
neste sentido, não de representantes populares, mas de proverbiais
bandidos [e, por isso, cúmplices] protegidos pelo foro privilegiado e
que buscam, desesperadamente, se safar da prisão.
A manobra de salvar Temer no TSE, exitosa com a atuação vergonhosa de Gilmar Mendes,
o Posto Ipiranga do Aécio e do Temer, é a grande estratégia das classes
dominantes para deslocar a disputa pela sobrevivência do “governo de
ladrões” da pressão do judiciário e da mobilização das ruas para o
âmbito onde seu domínio estará mais confortavelmente garantido, que é o
da podridão do Congresso mais corrupto e ilegítimo nunca antes conhecido
na história do Brasil.
A oligarquia golpista acabou por decretar “Todo o poder à Assembleia Geral de Bandidos”. A burguesia oficializou, assim, o banditismo como o sistema de governo do regime de exceção.
Com esta equação, as classes
dominantes pretendem preservar Temer até 31/12/2018 e dar continuidade,
sem os riscos da eleição indireta, ao plano antipopular e antinacional:
as reformas da previdência e trabalhista; a locupletação do capital
financeiro; a desnacionalização das riquezas nacionais; a destruição das
empresas estatais e nacionais; e a entrega da economia brasileira, como
com o leilão de cinco áreas do petróleo da camada pré-sal em outubro
próximo.
Temer seguirá no cargo, porém
levando uma vida de encarcerado e vivendo uma espécie de prisão
domiciliar no Palácio do Planalto. Ele será um ser ainda mais
intranscendente do que já é; um prisioneiro que cumprirá um papel
cartorial dentro do parlamentarismo informal de transição.
Um estrangeiro visionário conceituou
com exatidão o Brasil contemporâneo, dominado por máfias que destruíram
a democracia para saquear a Nação. O comentarista português e
brasilianista Miguel Sousa Tavares definiu
o 17 de abril de 2016, dia deplorável da aprovação do impeachment da
presidente Dilma por mais de 2/3 dos integrantes da Assembleia Geral de Bandidos da seguinte maneira:
“Devo dizer que nunca vi o
Brasil descer tão baixo. Quanto ao que se passou no Congresso brasileiro
ultrapassa tudo o que é discutível; não existe. Foi uma assembléia geral de bandidos comandada por um bandido chamado Eduardo Cunha fazendo
a destituição de uma Presidente sem qualquer base jurídica nem
constitucional para tal, mas, sobretudo, com uma falta de dignidade que
eu diria que é de arrepiar; uma bandalheira tudo aquilo”.
A derrota da Assembleia Geral de
Bandidos e a interrupção do projeto de austeridade que aprofunda a
recessão econômica e a miséria do povo brasileiro, somente será possível
com um padrão de mobilização popular, de radicalização e confrontação
política e de resistência democrática em patamares nunca antes
experimentados na história do Brasil.
Caso contrário, as classes dominantes conseguirão impor seu plano até o fim.
Fonte Brasil 247
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