Temer perdoou dívidas da Oi/Brasil Telecom, de cerca de R$ 50 bilhões;
perdoou R$ 25 bilhões do Itaú, R$ 10 bilhões de dívidas dos fazendeiros
com o Funrural e ainda comprou um monte de votos antes da votação e no
próprio plenário. O custo da operação, para permanecer no poder sem
sofrer qualquer tipo de ação penal, foi de R$ 17 bilhões.
Por Antonio Cavalcante Filho
Após ser atacado por um mosquito coxinha da espécie nazi-doido,
desses que espalham os vírus fascistas da dengue, zika e chikungunya
contra os pobres habitantes das periferias (eles odeiam os pobres),
estive acamado por algumas semanas “curtindo” os malefícios desses
agentes infecciosos, e como é natural nesses dias de “licença sabática”
forçada, ante a ociosidade involuntária, passamos a pensar e avaliar
nossos atos para fazer uma crítica ao que vemos, ao que fizemos e sobre
nosso projeto de mundo.
Permaneço entendendo que a democracia é o pior dos regimes, depois de
todos os outros. Assim, parafraseio Winston Churchill, a quem é
atribuída a frase: “A democracia é o pior dos regimes políticos, mas não
há nenhum sistema melhor que ela.”
Todos os acontecimentos que observamos em nosso dia a dia, e eu me
refiro à postura dos agentes públicos dos três Poderes, quando seus atos
e ações estão fora da aprovação popular concretamente formalizada,
quando suas decisões, ações e planos não resultam em benefícios para a
maioria, então, a democracia não se faz presente.
Por vezes, o reclame popular, a chamada “opinião pública” caminha em
contradição com o que é o melhor para a sociedade e, para isso, usamos
nosso entendimento sobre o julgamento de Jesus Cristo. Segundo constam
os documentos da época, a começar pelos textos da Bíblia Sagrada, os
populares foram favoráveis pela condenação de Jesus Cristo e pela
liberação de confessos salteadores.
Melhor explicando: o discurso de Jesus Cristo era revolucionário
porque defendia o povo contra as torturantes políticas coloniais, se
reunia com prostitutas e se alinhava com outras pessoas que não eram da
burguesia, e ele próprio representava uma minoria.
Deste modo, com essas informações e compreendendo o contexto, podemos
dizer que os populares que clamaram pela condenação e crucificação de
Jesus Cristo agiram mais por influência de uma “opinião publicada”, e
movidos por um preconceito contra as minorias, cientes de que o tal
“meliante” era abusado e desafiava os doutores da política e da igreja, a
tanto que expulsava do templo os mercadores da fé. O condenado não foi
Cristo, mas o simbolismo que ele representava.
Pois bem.
Vi que um grupo de comunicação aqui de Mato Grosso está usando todos
os seus veículos para incentivar a população a denunciar os delitos e os
delinquentes, principalmente aqueles que usurpam recursos públicos, os
quais – cá pra nós – são em número ilimitado e aumentam a cada dia.
Pensei “antes tarde do que nunca”, e deveríamos começar as delações
sobre a forma como os grupos de comunicação são formados, porque, ao
ouvir alguns empresários do setor, fico intrigado.
Um dirigente sindical patronal adquiriu a propriedade de uma emissora
de televisão em Cuiabá, mas ficou pouco tempo no ramo. Justificou a
“jogada de toalha” porque a emissora teria que se sujeitar às vontades
dos governantes para manter-se no mercado.
Há aquele famoso grupo de comunicação que veio “do nada” e, de
repente, se torna um império, e há aqueles políticos que nunca tiveram
carteira assinada, mas assim mesmo são donos de emissoras de rádio,
televisão e jornais, além dos portais da internet que são as mídias do
momento.
Seguramente a fonte de recursos dessas emissoras são os entes
públicos, governo do Estado, prefeituras, Assembleia e Tribunal de
Contas. Aliás, não sei porque o TCE precisa gastar com propaganda, a não
ser para azeitar e melhorar a imagem de alguns de seus membros. Só
pode!
Na condição de militante do Movimento de Combate à Corrupção
Eleitoral (MCCE), sempre fui favorável à democracia popular, de que o
voto deve ser livre e desimpedido, para que a representação do eleito
possa ser a mais desembaraçada possível. Com essa ideia fixa, passamos a
denunciar os malfeitos, antes da eleição e durante os mandatos obtidos.
O desejo era dizer que todas as pessoas tinham instrumentos à sua
disposição, e com eles seria possível fazer escolhas mais sólidas, como
fiscalização mais eficiente dos mandatos.
Continuo na mesma trincheira. Acho que o povo tem que dar a primeira e
a última palavra. Fora da democracia impera o golpe e as decisões
prejudicam a maioria, seja agora ou no futuro próximo.
Vejamos o que acaba de acontecer. A maioria os deputados federais
entenderam que não se deve investigar o presidente da República, mesmo
que o ilegítimo Michel Temer tenha sido flagrado com a “boca na botija”,
ou concretamente com a mão na mala de dinheiro e conspirando com um
“ladrão confesso”, conforme ele mesmo qualificou o seu interlocutor das
madrugadas.
Dilma só caiu porque não comprou os picaretas que se venderam a Cunha
e a Temer. Os mesmos deputados que massacraram Dilma Roussef pelas tais
“pedaladas fiscais”, que na verdade se tratou de um empréstimo para
saldar compromissos do governo com setores sociais e do agronegócio,
disseram que os crimes de Temer não podem ser investigados. A população,
tão chateada e enganada, que a cada eleição menos comparece na presença
da urna, assiste apática.
A exemplo do que vi em quase todas as eleições após a Constituição de
88, o cidadão eleitor ainda não sabe o valor exato da democracia que,
por essa razão, essas situações de roubo de direitos sociais, as tais
“reformas”, que acabam com direitos dos trabalhadores e dos aposentados,
ainda não são compreendidas.
Caminhamos para tempos sombrios. No processo da Ação Penal 470, o tal
Mensalão, foram condenados políticos e empresários pelo desvio de R$
100 milhões, e a acusação é de que os votos desses parlamentares seriam
“comprados” pelo governo. Muitos foram para a cadeia, o Ministério
Público Federal e o Supremo Tribunal Federal foram implacáveis.
No caso presente, Temer perdoou dívidas da Oi/Brasil Telecom, de
cerca de R$ 50 bilhões; perdoou R$ 25 bilhões do Itaú, R$ 10 bilhões de
dívidas dos fazendeiros com o Funrural e ainda comprou um monte de votos
antes da votação e no próprio plenário. O custo da operação, para
permanecer no poder sem sofrer qualquer tipo de ação penal, foi de R$ 17
bilhões.
E o que fazem o STF e o MPF? Boa pergunta. Delação neles.
Antonio Cavalcante Filho é sindicalista e escreve neste espaço às sextas-feiras - E-mail: antoniocavalcantefilho@outlook.com
Fonte RD News
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