quarta-feira, 9 de agosto de 2017

ANTES TARDE QUE NUNCA


Temer perdoou dívidas da Oi/Brasil Telecom, de cerca de R$ 50 bilhões; perdoou R$ 25 bilhões do Itaú, R$ 10 bilhões de dívidas dos fazendeiros com o Funrural e ainda comprou um monte de votos antes da votação e no próprio plenário. O custo da operação, para permanecer no poder sem sofrer qualquer tipo de ação penal, foi de R$ 17 bilhões.




Por Antonio Cavalcante Filho  



Após ser atacado por um mosquito coxinha da espécie nazi-doido, desses que espalham os vírus fascistas da dengue, zika e chikungunya contra os pobres habitantes das periferias (eles odeiam os pobres), estive acamado por algumas semanas “curtindo” os malefícios desses agentes infecciosos, e como é natural nesses dias de “licença sabática” forçada, ante a ociosidade involuntária, passamos a pensar e avaliar nossos atos para fazer uma crítica ao que vemos, ao que fizemos e sobre nosso projeto de mundo.

Permaneço entendendo que a democracia é o pior dos regimes, depois de todos os outros. Assim, parafraseio Winston Churchill, a quem é atribuída a frase: “A democracia é o pior dos regimes políticos, mas não há nenhum sistema melhor que ela.”

Todos os acontecimentos que observamos em nosso dia a dia, e eu me refiro à postura dos agentes públicos dos três Poderes, quando seus atos e ações estão fora da aprovação popular concretamente formalizada, quando suas decisões, ações e planos não resultam em benefícios para a maioria, então, a democracia não se faz presente.

Por vezes, o reclame popular, a chamada “opinião pública” caminha em contradição com o que é o melhor para a sociedade e, para isso, usamos nosso entendimento sobre o julgamento de Jesus Cristo. Segundo constam os documentos da época, a começar pelos textos da Bíblia Sagrada, os populares foram favoráveis pela condenação de Jesus Cristo e pela liberação de confessos salteadores.

Melhor explicando: o discurso de Jesus Cristo era revolucionário porque defendia o povo contra as torturantes políticas coloniais, se reunia com prostitutas e se alinhava com outras pessoas que não eram da burguesia, e ele próprio representava uma minoria.

Deste modo, com essas informações e compreendendo o contexto, podemos dizer que os populares que clamaram pela condenação e crucificação de Jesus Cristo agiram mais por influência de uma “opinião publicada”, e movidos por um preconceito contra as minorias, cientes de que o tal “meliante” era abusado e desafiava os doutores da política e da igreja, a tanto que expulsava do templo os mercadores da fé. O condenado não foi Cristo, mas o simbolismo que ele representava.

Pois bem.

Vi que um grupo de comunicação aqui de Mato Grosso está usando todos os seus veículos para incentivar a população a denunciar os delitos e os delinquentes, principalmente aqueles que usurpam recursos públicos, os quais – cá pra nós – são em número ilimitado e aumentam a cada dia.

Pensei “antes tarde do que nunca”, e deveríamos começar as delações sobre a forma como os grupos de comunicação são formados, porque, ao ouvir alguns empresários do setor, fico intrigado.

Um dirigente sindical patronal adquiriu a propriedade de uma emissora de televisão em Cuiabá, mas ficou pouco tempo no ramo. Justificou a “jogada de toalha” porque a emissora teria que se sujeitar às vontades dos governantes para manter-se no mercado.

Há aquele famoso grupo de comunicação que veio “do nada” e, de repente, se torna um império, e há aqueles políticos que nunca tiveram carteira assinada, mas assim mesmo são donos de emissoras de rádio, televisão e jornais, além dos portais da internet que são as mídias do momento.

Seguramente a fonte de recursos dessas emissoras são os entes públicos, governo do Estado, prefeituras, Assembleia e Tribunal de Contas. Aliás, não sei porque o TCE precisa gastar com propaganda, a não ser para azeitar e melhorar a imagem de alguns de seus membros. Só pode!

Na condição de militante do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), sempre fui favorável à democracia popular, de que o voto deve ser livre e desimpedido, para que a representação do eleito possa ser a mais desembaraçada possível. Com essa ideia fixa, passamos a denunciar os malfeitos, antes da eleição e durante os mandatos obtidos. O desejo era dizer que todas as pessoas tinham instrumentos à sua disposição, e com eles seria possível fazer escolhas mais sólidas, como fiscalização mais eficiente dos mandatos.

Continuo na mesma trincheira. Acho que o povo tem que dar a primeira e a última palavra. Fora da democracia impera o golpe e as decisões prejudicam a maioria, seja agora ou no futuro próximo.

Vejamos o que acaba de acontecer. A maioria os deputados federais entenderam que não se deve investigar o presidente da República, mesmo que o ilegítimo Michel Temer tenha sido flagrado com a “boca na botija”, ou concretamente com a mão na mala de dinheiro e conspirando com um “ladrão confesso”, conforme ele mesmo qualificou o seu interlocutor das madrugadas.

Dilma só caiu porque não comprou os picaretas que se venderam a Cunha e a Temer. Os mesmos deputados que massacraram Dilma Roussef pelas tais “pedaladas fiscais”, que na verdade se tratou de um empréstimo para saldar compromissos do governo com setores sociais e do agronegócio, disseram que os crimes de Temer não podem ser investigados. A população, tão chateada e enganada, que a cada eleição menos comparece na presença da urna, assiste apática.

A exemplo do que vi em quase todas as eleições após a Constituição de 88, o cidadão eleitor ainda não sabe o valor exato da democracia que, por essa razão, essas situações de roubo de direitos sociais, as tais “reformas”, que acabam com direitos dos trabalhadores e dos aposentados, ainda não são compreendidas.

Caminhamos para tempos sombrios. No processo da Ação Penal 470, o tal Mensalão, foram condenados políticos e empresários pelo desvio de R$ 100 milhões, e a acusação é de que os votos desses parlamentares seriam “comprados” pelo governo. Muitos foram para a cadeia, o Ministério Público Federal e o Supremo Tribunal Federal foram implacáveis.

No caso presente, Temer perdoou dívidas da Oi/Brasil Telecom, de cerca de R$ 50 bilhões; perdoou R$ 25 bilhões do Itaú, R$ 10 bilhões de dívidas dos fazendeiros com o Funrural e ainda comprou um monte de votos antes da votação e no próprio plenário. O custo da operação, para permanecer no poder sem sofrer qualquer tipo de ação penal, foi de R$ 17 bilhões.

E o que fazem o STF e o MPF? Boa pergunta. Delação neles.

Antonio Cavalcante Filho é sindicalista e escreve neste espaço às sextas-feiras - E-mail: antoniocavalcantefilho@outlook.com

Fonte RD News


Visite a pagina do MCCE-MT