segunda-feira, 16 de outubro de 2017

TRANSFORMAÇÃO


Sim, senhoras e senhores: a “organização” se revela extremamente perigosa, e se não imperasse no Judiciário uma espécie de garantia processual intitulada “direitos tucanos”, haveria muito mais “gente de bens” atrás das grades. Isso demonstra que alguns espertalhões e nazi-doidos, que gritavam “Fora Dilma” e “intervenção militar já”, cometem crimes bem mais contundentes (e sanguinários) que as tais pedaladas fiscais.

 




Por Antonio Cavalcante Fulho



O nome do alquimista francês Nicolas Flamel foi mencionado em um filme da série Harry Potter como sendo o descobridor da Pedra Filosofal, aliás, esse é o nome da atração cinematográfica. A pedra seria uma substância capaz de transformar metais impuros em ouro, além de outras propriedades, como a imortalidade. Concentro-me aqui na primeira característica: “transformação”, para tratar do governo Taques.

E no caso que cito, a “transformação”, ao contrário da Pedra Filosofal, do alquimista Flamel, a do “Pedregulho de Mato Grosso”, é de uma substância inferior, que transforma algo que já não era bom em outro muito pior.

Quando começou esse rolo dos grampos telefônicos, com pessoas comuns do nosso convívio, envolvendo ainda autoridades públicas e jornalistas, além das amantes de políticos, que tiveram seus telefones grampeadas clandestinamente, entendemos na época de que tudo não passaria de uma bela “trapalhada”, típica daquelas que vemos nos filmes de comédia (antes fosse somente isso).

Mesmo quando veio a público o escândalo criminoso, achamos até engraçado, comparando inclusive esse episódio com um filme do Makswell Smarth, o “Agente 86” (se bem que poderia ser Agente 45, do PSDB). Qual o espião que compraria um equipamento de espionagem, pediria a emissão de nota fiscal em nome próprio, e daria o endereço do quartel da Polícia Militar para a entrega dos aparelhos? Não chega a ser hilária a conduta desses “espiões atrapalhados? Os golpistas de 2016, em Mato Grosso, me faz lembrar dos também golpistas de 1964, quando o Brasil foi desgovernado por uma junta de militares que ficou conhecida jocosamente como os três patetas.

O pior é que os “arapongas pantaneiros”, muito além de “atrapalhados”, pelo que tudo indica, formaram um grupo muito mal-intencionado, que maculou a Polícia Militar. Essa turma, ao longo do tempo está gerando danos irreparáveis não só à Polícia Militar como também à imagem da Polícia Civil, com delegados se comportando “contra ou a favor”, como se o episódio fosse uma pelada de várzea, um joguinho de futebol num dos campinhos sem-grama lá do CPA, ao atingirem a honra de promotores de justiça e ameaçarem a independência de magistrados.

Sim, senhoras e senhores: a “organização” se revela extremamente perigosa, e se não imperasse no Judiciário uma espécie de garantia processual intitulada “direitos tucanos”, haveria muito mais “gente de bens” atrás das grades. Isso demonstra que alguns espertalhões e nazi-doidos, que gritavam “Fora Dilma” e “intervenção militar já”, cometem crimes bem mais contundentes (e sanguinários) que as tais pedaladas fiscais.

A cara de pau do senhor Pedro Taques, cuja ciência precisa estudar esse comportamento, me parece coisa absurda, porque negou o tempo inteiro que alguém de sua confiança tenha cometido algo ilícito, até ameaçou (ainda que veladamente) o desembargador Orlando Perri, que é o relator nas investigações do esquema criminoso da “grampolândia”, principalmente ao promotor de justiça que “ousou” investigar os crimes.

Não quero acreditar que o Ministério Público vá amordaçar o promotor Mauro Zaque e proteger pessoas investigadas, como fez com o “Motosserra de Ouro”, o governador do “escândalo dos maquinários”, o golpista corresponsável em desestabilizar o país ao apoiar a derrubada de uma presidente legítima, o delatado por Silval Barbosa, o acusado de ter aumentado o valor do “mensalinho” aos deputados quando governava Mato Grosso, o investigado na “Lava Jato”, que, segundo Rodrigo Janot, é líder de uma organização criminosa, o hoje, todo poderoso ministro latifundiário do agronegócio e banqueiro Blairo Maggi.

De uma simples conduta inicial, de criminosamente fazer interceptações telefônicas, coisa que o povão chama de “grampo”, a organização criminosa dos “Agentes 45”, os “arapongas atrapalhados” de Mato Grosso, evoluiu. Não mais se ouvem os jornalistas investigativos, os deputados de oposição e nem a amante, o que a “galera” quer agora é “hard core” (algo executado de forma extrema), talvez, (quem sabe?) partindo para atos de máfia italiana.

Li hoje, no jornal, que Pedro Taques quer ir à China “vender rodovias” de Mato Grosso, e fiquei aqui pensando. La atrás, quando ainda candidato, ele se manifestou contra a privatização da estrada de Chapada dos Guimarães, (uma ação entre amigos) planejada, na época, pela “dupla dinâmica” Riva e Silval.

Então, por que um sujeito que tem parte do secretariado preso no Carumbezão quer fazer negócios que vão afetar a vida de diversas gerações de mato-grossenses? O que há por trás disso? Por que vender nossas rodovias para os “comunistas chineses”, logo o Pedro Taques que detesta os vermelhos com todas as forças de sua alma?

Há poucos dias, lá foi ele mais uma vez pedir bexiga para os ministros do seu professor de direito constitucional e guru, o usurpador da república Michel Temer, dinheiro que, para atender as demandas de Mato Grosso, antes do golpe, que apelidaram de impeachment, Dilma repassava sem chiar. No entanto, para atender aos interesses de um político derrotado, certas figuras da política mato-grossense resolveram apoiar o conluio conspiratório que rasgou a constituição, e com isso afundou o Brasil. Agora precisam mendigar recursos em Brasília!

Tudo isso me dá medo.

Mas volto aos grampos.

Lembro-me de que os comandados do TX são acusados de fraudar o sistema de protocolo de documentos na Casa Civil, delito este que nem os piores bandidos, que por ali passaram, ousavam fazer. Os comandados, que se diziam oficiais da gloriosa Polícia Militar, tramaram contra um desembargador do Tribunal de Justiça (houve uma ata notarial em defesa dos juízes da maçonaria e contra o doutor Perri) e ameaçaram as pessoas que estavam legalmente investigando esses malfeitos.

Esses secretários de Estado que estão em cana, há poucos dias, eram comensais do governador, participavam de convescotes, celebrações, revellion em família, viagem de férias. É possível acreditar que seriam amadores ou preparavam um grande saque aos cofres do Estado? Tudo é possível!

Já que o nosso “Flamel às avessas” (inverso ao da Pedra Filosofal), o do “Pedregulho de Mato Grosso”, diz que “transformou” o Estado e criou o “Pró-Escola” e o “Pró-Estrada”, sugiro também a instituição do “Pró-Cadeia”. Se trata de um amplo programa de reforma e humanização dos presídios, com a ampliação dos espaços, construção de celas arejadas e ambientes para o banho de sol. Seria uma espécie de “Meu Cadeião Minha Vida”.

Não estou falando aqui de criar mordomias para os “homens de bens”, mas de imprimir condições dignas de cumprimento de penas. Acho que, se a Justiça funcionar, haverá necessidade de um programa de “transformação” de tamanha magnitude, bem mais verdadeiro do que a tão propalada “Caravana da Transformação”, que não passa de uma mera campanha eleitoral extemporânea mascarada, com o agravante do uso da máquina administrativa, apta a ensejar a penalidade que a lei exige.

Com tanta “gente bacana” indo para o xilindró, onde por alguns anos irão ver o sol nascer quadrado, já é hora de investir também no “Pró-Cadeia”. Mas nada de superfaturar, por favor!

Antonio Cavalcante Filho, o Ceará, é sindicalista e escreve neste espaço às sextas-feiras - E-mail: antoniocavalcantefilho@outlook.com

Fonte RD News