Um pitbull no palácio.
Apesar do seu histórico comprometedor – que também incluí várias
denúncias de corrupção –, Carlos Marun tem sido tratado com euforia
pelos golpistas e com benevolência pela mídia chapa-branca. Nos dias que
antecederam sua posse, ele foi paparicado nos corredores do Congresso.
Por Altamiro Borges
A quadrilha de Michel Temer ganhou um reforço de peso nesta quinta-feira
(14). No lugar do
tucano Antonio Imbassahy, batizado de “bosta” por
seus pares, tomou posse como novo ministro da Secretaria de Governo o
agressivo deputado Carlos Marun (PMDB-MS). De ex-chefão da tropa de
choque de Eduardo Cunha – como prova de sua fidelidade canina chegou a
visitá-lo no presídio em Curitiba com grana dos cofres públicos –, ele
hoje ocupa o papel de pitbull do usurpador. Dança, xinga, late e morde
em defesa do dono. Durante a cerimônia de posse, o novo serviçal disse
que é “um soldado do presidente” e jurou que sua prioridade é aprovar na
Câmara Federal a “reforma” da Previdência que extingue o direito à
aposentadoria dos brasileiros.
Antes de assumir o cargo, o ainda deputado já havia
dado novas provas da sua fidelidade canina. Como relator da CPI da JBS –
que devia apurar as malas de dinheiro e as relações promíscuas entre
Joesley Batista e Michel Temer –, Carlos Marun propôs investigar o
ex-procurador-geral da República, exatamente quem denunciou a sujeira.
Ele até teve que recuar no seu relatório. Na primeira versão, o pitbull
pediu o indiciamento de Rodrigo Janot com base na Lei de Segurança
Nacional, que era usada para perseguir os adversários da ditadura
militar. Por pressão dos aliados, ele cedeu a contragosto. “Eu continuo
convicto de que o Janot se utilizou do seu cargo para tentar depor o
presidente da República, mas concordo que são necessárias maiores
investigações para que fique absolutamente provada a materialidade desse
crime”, rosnou.
Apesar do seu histórico comprometedor – que também incluí várias
denúncias de corrupção –, Carlos Marun tem sido tratado com euforia
pelos golpistas e com benevolência pela mídia chapa-branca. Nos dias que
antecederam sua posse, ele foi paparicado nos corredores do Congresso.
Já a revista Época dedicou longa matéria ao pitbull do governo. Apesar
das críticas – como a que lembra que “Marun celebrou a vitória de Temer
na Câmara [contra a segunda denúncia da PGR] rebolando e cantado ‘Tudo
está no seu lugar’, de Benito Di Paula” –, ele é apresentado como “o
ministro pão com ovo” – simples e bonachão –, que vai garantir a unidade
da base aliada para aprovação da “reforma” da Previdência – o objeto de
desejo dos abutres financeiros e da mídia rentista.
Como voz mais crítica ao novo ministro do covil golpista vale citar o
jornalista Bernardo Mello Franco, que publicou um duro texto contra esta
figura abjeta – que reproduzo a seguir:
*****
Um pitbull no palácio
Folha de S.Paulo - 10/12/2017
Diz o ditado que o melhor amigo do homem é o cachorro. Se o homem for filiado ao PMDB e estiver fugindo da polícia, seu melhor amigo é o Carlos Marun.
O deputado despontou no baixo clero como cão de guarda de Eduardo Cunha. Fazia tudo o que o chefão da Câmara mandava. Chegou a organizar sua festa de aniversário, regada a uísque e com bolo de chantilly.
Quando o correntista suíço caiu em desgraça, Marun virou líder de sua tropa de choque. Rosnou para os adversários e tentou derrubar o presidente do Conselho de Ética, que se recusava a participar de um acordão.
As manobras fracassaram, mas ele não jogou a toalha. Foi o único deputado a discursar contra a cassação em plenário. Apesar de seus apelos, o peemedebista foi varrido do Congresso por 450 votos a 10.
Cunha perdeu o mandato, mas não perdeu o amigo. Para reafirmar sua fidelidade canina, o deputado foi visitá-lo na cadeia. Depois soube-se que ele usou verba pública para bancar a viagem a Curitiba. A contragosto, teve que devolver o dinheiro aos cofres da Câmara.
Quando Michel Temer foi gravado nos porões do Jaburu, Marun encontrou outro investigado para bajular. Passou a se comportar como dublê de deputado e porta-voz do Planalto.
Como prêmio por defender o indefensável, virou relator da CPI da JBS. Mostrou os dentes para procuradores da República e quase mordeu um delator da Lava Jato. O senador Randolfe Rodrigues o chamou de "lambe-botas" e "bate-pau".
Marun nunca se esforçou para contestar os apelidos. Na noite em que a Câmara engavetou a última denúncia contra Temer, ele cantou e dançou em plenário para festejar a impunidade presidencial.
Agora o pitbull de Cunha deve ganhar um gabinete no palácio. Como não teria votos para se reeleger, ele distribuirá cargos e emendas a parlamentares que abanarem o rabo. Sua promoção a ministro é um retrato da fase final do governo Temer.
*****
Fonte Blog do Miro