A Câmara só terá importância quando investigar a absurda falta de licitações nas compras da prefeitura.
Entra ano, sai ano, e a postura da maioria dos ditos representantes do
povo cuiabano continua a mesma. Os debates que eles provocam na “Casa
dos Horrores” são absolutamente rasos, medíocres, inúteis,
desinteressantes. Enquanto fingem que exercem o poder, para o bem da
coletividade, os grandes dramas que lesionam o nosso município, como o
caos na saúde, as demandas da educação, a carência do saneamento básico,
o desespero da insegurança, o preço exorbitante do transporte coletivo,
com toda a sua precariedade e ineficiência, é solenemente ignorado.
Mas não dá para negar uma coisa: há muita competência por parte deles
para iludir o distinto público pagante (os contribuintes), que, na
maioria das vezes, mesmo por engano, acaba aplaudindo os “artistas” no
palco degradante da politicagem. É o caso dos vereadores de Cuiabá, a
quem dedico algumas palavras esta semana.
Os atuais vereadores e prefeito tomaram posse no ano passado, após um
doloroso processo eleitoral do pós-golpe em que grande parcela da
população em Cuiabá estava desencantada com a política. Só para lembrar,
no primeiro turno das eleições, a soma de votos brancos nulos e
abstenções para prefeito, venceu com folga na Capital mato-grossense.
Pois, num universo de 415.098 eleitores, a soma de votos brancos, nulos e
abstenções, no primeiro turno, foram de 127.987 votos, enquanto Emanuel
Pinheiro do PMDB, dos "golpistas" Temer/Cunha/Padilha/Jucá e catervas, o
mais votado para prefeito, obteve apenas 98.051 votos.
Já o segundo mais votado, entre os seis candidatos que concorreram à
prefeitura, Wilson Santos (PSDB), do também "golpista", o mega-delatado
Aécio Neves, e do pior governador da história de Mato Grosso, Pedro
Taques, conseguiu somente 81.531 votos. No segundo turno, parcela
importante do eleitorado que havia votado em outros candidatos, se
abstido ou votado em branco e nulo no primeiro turno, descarregou seus
votos de protestos contra o candidato do governador, votando em Emanuel
Pinheiro, tamanha foi a decepção dos cidadãos com aquele que traiu o seu
partido, o PDT, ao se aventurar no PSDB para participar da vergonhosa
conspiração midiático-parlamentar-judicial contra a democracia em 2016.
Para vereador, elegeram-se alguns novos candidatos (dos poucos novos
oferecidos pelos partidos políticos). Lembro que a Câmara de Cuiabá
vinha há anos sofrendo processos traumáticos, após ser saqueada
sucessivamente por repetidas gestões que “não tinham dó” dos recursos
públicos, e não apresentavam nada inovador à população cuiabana, a não
ser os mesmos espetáculos de horrores e de vergonha de sempre.
Só para constar. Nos últimos anos me dediquei a entidades como o MCCE
(Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral), e entre as tantas
atividades que fizemos estavam os processos (ações populares, denúncias,
representações) contra vereadores, servidores fantasmas, licitações
fraudulentas, compra de votos e toda a “fauna” de crimes eleitorais.
Conseguimos alguns êxitos, muitos politicoides foram expulsos da vida
pública, entre os quais alguns estão presos, outros com os bens
indisponíveis, mas, no principal, experimentamos frustrações: a
população continua passiva, votando em “malas”, e ainda sobretudo se
deixando enganar com facilidades.
Vou me reportar às questões das CPIs, as Comissões Parlamentares de
Inquérito ou Comissão Processante. Acompanhamos algumas delas, inclusive
às que resultaram em cassação de mandatos, mas é cada dia mais difícil
uma Comissão investigar com liberdade e bons propósitos. A Câmara não é
diferente da Assembleia Legislativa, onde há CPIs desde o início do
mandato dos atuais deputados e não deram em nada. Tem até uma delas que
faz reuniões secretas, o que beira o surreal. E assim, fico aqui
imaginando, o que será que esses deputados estão discutindo lá? Talvez
os planos para doarem dinheiro público para documentários sobre a soja
ou outras baboseiras semelhantes.
Tudo é possível.
A CPI instaurada na Câmara de Cuiabá
para investigar aquele dinheiro que caía dos bolsos do paletó do então
deputado Emanuel Pinheiro é a enganação da vez, e tem servido para
iludir a plateia e, seguramente, vai consumir recursos públicos sem
nenhum resultado para a sociedade. E os senhores vereadores
viverão de espetáculos por cerca de um a dois anos, e depois vão
inventar outro modo de iludir o “distinto público” (a população),
fazendo de conta que estão trabalhando, e, assim, justificarem os seus
gordos salários e o consumo astronômico de recursos do município.
Lembremos que o vídeo do atual prefeito recebendo dinheiro (quanto
descuido, deixar a grana cair no chão) foi gravado quando ele exercia
ainda o mandato de deputado. Então, como prefeito, não pode ser punido
pelos vereadores por um ato que cometeu quando era deputado estadual.
Alguns militontos teleguiados, tipo àqueles coxinhas que foram às
ruas defender o ipitimismo golpista, pressionaram os vereadores para
deflagrar a CPI contra o prefeito, mas não fizeram o mesmo com a
Assembleia Legislativa, que poderia punir os deputados das maletas,
bolsas e caixas de dinheiro que ainda permanecem com mandato. Estes,
sim, poderiam sofrer punição por quebra de decoro parlamentar.
Não tenho nenhuma relação com o Emanuel Pinheiro, mas por razões
óbvias, não compraria sequer uma esmeralda de suas mãos, mesmo que fosse
a preço de “galinha morta”. Mas, nesse caso da CPI, acho que o mesmo
está rindo à toa, porque sabe que não vai dar em nada, pois, o fato que
os mais caros vereadores do Brasil querem punir não aconteceu no curso
do seu mandato de prefeito.
É tudo enganação, encenação teatral, é show!
E notem que, logo após começar esse debate maluco, ocorreu uma
suplementação de recursos para a Câmara (um a zero para os vereadores);
depois veio a demissão dos comissionados e a sua posterior recontratação
com salário maior (dois a zero para os vereadores), e a aprovação do
décimo terceiro salário, que o prefeito não vai vetar porque faz parte
do acordo para enganar o povão (três a zero para os vereadores).
Não se deixe enganar. O vereador somente será essencial quando propor
e aprovar projetos ou leis, e obrigar o prefeito a executá-los para o
bem da coletividade. A Câmara só terá importância quando investigar a
absurda falta de licitações nas compras da prefeitura. Os edis só serão
úteis aos munícipes, se, de fato, fiscalizarem a gestão do Executivo e
apresentarem soluções para a educação, para a saúde, para o trânsito,
para as multas astronômicas aos motoristas, para a regularização
fundiária e para o progresso da cidade.
Tudo, o mais é espetáculo que não devemos aplaudir, mas, sim, vaiar,
porque, a exemplo de muitos outros “shows”, os quais já assistimos no
passado, os de hoje são apenas reprises, e os “artistas” que no momento
se apresentam lá, na “Casa dos Horrores”, como os de ontem, são também
de péssima qualidade!
Antonio Cavalcante Filho, o Ceará, é sindicalista e
escreve neste espaço às sextas-feiras - E-mail:
antoniocavalcantefilho@outlook.com
Fonte RD News