O abismo entre a elite do país e os milhões e milhões de pobres tem o tamanho da distância que separa o Bolsa Juiz do Bolsa Família. Tudo o que neste artigo está exemplificado nos casos de Selma, do casal Bretas, de Moro, dos desembargadores do TRF4 e do desembargador dos 60 imóveis é a personificação dos programas Bolsa Juiz e Bolsa Família.
Uma família atendida pelo Bolsa Família e o casal Bretas, símbolo do Bolsa Juiz
Neste artigo, um quadro que apresenta a comparação definitiva entre os programas do Bolsa Juiz (auxílio moradia + auxílio alimentação) e do Bolsa Família.
Um retrato do comportamento das elites e do comportamento do povo; um
exemplo concreto do tratamento que os ricos dispensam aos pobres no
Brasil
A diarista Selma Patrícia da Silva, de 42 anos, já foi beneficiária
de programas de transferência de renda do governo, mas voluntariamente
abriu mão depois que melhorou de vida. Selma diz ter recebido dinheiro
do Auxílio Gás, do Bolsa Escola e do Bolsa Família na época em que ela e
o marido faziam bicos como doméstica e pedreiro para sustentar os cinco
filhos. Após construir a casa onde vive, em Formosa (GO), a diarista decidiu devolver o cartão,
em 2013. “Pensei assim: da mesma forma que serviu para os meus filhos,
vai ajudar outras pessoas. Acho muita covardia a pessoa não necessitar e
ficar recebendo”, relembra Selma.
O juiz Marcelo Bretas tomou um caminho oposto ao de Selma. Ele
tornou-se uma “celebridade” há cerca de um ano por suas sentenças
duríssimas na Lava Jato, pelas citações bíblicas nas mesmas sentenças,
pelo gosto pelas redes sociais e por se apresentar como paladino da
moralidade. No entanto, apesar de ele a e mulher, Simone Bretas, também
juíza, receberem mais de R$ 60 mil reais mensais, foram à Justiça para
“exigir o direito” de ambos receberem o auxílio moradia no valor de R$
8.754,00 mensais, apesar de morarem terem apartamento próprio no Rio de
Janeiro, onde moram. Bretas defendeu seu “direito” e o da mulher à
mamata num tuíte (veja foto abaixo), apesar de resolução do Conselho Nacional de Justiça
haver regulamentado o assunto em 2014 e vetado o auxílio moradia para
juízes que têm residência na cidade onde trabalham. Não só brigaram para
receber como ainda entraram numa queda de braço com Bradesco
para reajustar o aluguel de um de seus imóveis próprios no Rio de R$
10.685,80 para R$ 20 mil. Isso e ainda contar os R$ 907,00 que o casal
juiz/juíza recebem como auxílio alimentação – o que cada um se apossa só
em auxílio alimentação já é bem superior ao teto do benefício do Bolsa
Família. Somados, os dois benefícios compõem o Bolsa Juiz do casal: R$ 9.661,00 mensais.
Selma e o casal Bretas: duas maneiras de ver a vida, o Estado e o Brasil
São duas maneiras de enxergar o Brasil, a relação com as pessoas e o
Estado. Selma entendeu que os recursos do Estado são finitos e que o
benefício que ela abriu mão de receber pode ajudar outra pessoas em
condição pior que a dela –não por ter ficado rica, apenas por ter ficado
menos pobre. Bretas e sua mulher são insaciáveis. Esfolam o Estado como
os demais ricos do país. Para eles, os recursos públicos são um espólio
de guerra –da guerra contra pobres- sobre o qual avançam com um apetite
sem fim. O casal Bretas arranca mensalmente pelo menos R$ 80 mil do
Estado direta ou indiretamente. Mas não basta –nunca basta.
O caso de Selma e do casal Bretas é um exemplo do abismo que separa
ricos e os pobres no Brasil –e o dinheiro sequer é a maior distância
entre eles. A elite brasileira não faz a menor ideia do que significam
solidariedade ou compaixão, substantivos muito concretos no cotidiano
duro dos mais pobres, que tecem frágeis redes de apoio entre si.
Bretas, Moro, os três desembargadores do TRF4
que condenaram Lula em 24 de janeiro com frases tonitruantes em seus
votos, todos eles têm imóveis de alto valor nas cidades em que moram e
trabalham –e todos recebem o Bolsa Juiz. Os exemplos não param: um
desembargador de São Paulo, José Antonio de Paula Santos Neto, do
Tribunal de Justiça, tem 60 imóveis
registrados em seu nome na Prefeitura da cidade –mesmo assim açambarca
mensalmente o Bolsa Juiz (auxílio moradia + auxílio alimentação).
O abismo entre a elite do país e os milhões e milhões de pobres tem o
tamanho da distância que separa o Bolsa Juiz do Bolsa Família. Tudo o
que neste artigo está exemplificado nos casos de Selma, do casal Bretas,
de Moro, dos desembargadores do TRF4 e do desembargador dos 60 imóveis é
a personificação dos programas Bolsa Juiz e Bolsa Família.
Veja o quadro abaixo e constate as diferenças brutais entre um e
outro. Por trás do Bolsa Juiz está a defesa dos empréstimos subsidiados
que os empresários colhem nos bancos públicos, o dinheiro sem conta que
deixam de recolher porque impõem uma estrutura tributária que massacra
os pobres enquanto isenta-os de todos os lados, os trilhões de dinheiro
do povo dos quais apoderam-se há anos, recebendo os juros da dívida
pública. Olhando o Bolsa Família é possível sentir o sofrimento, a vida
dura, a pobreza do povo brasileiro –mas, igualmente, sua dignidade.
Veja o quadro/tabela –nele, um resumo dos dois Brasis que convivem e guerreiam no cotidiano do Brasil:
Fonte Caminho Pra Casa