Aí eu pergunto: por que fazer o povo sofrer tanto assim? Já não é demais vergonhoso viver numa “República” não republicana,
participarmos de uma democracia que não é a nossa, mas sim, daqueles que
nos exploram? Já não basta a humilhação de fingirmos que somos
cidadãos, quando na realidade somos meros escravos assalariados? Para as castas privatistas, não é suficientemente regozijante a
ignomínia da cruz de tantas injustiças sociais que, há séculos,
carregamos calvário acima na esperança da emancipação humana, sempre
prometida, sempre adiada e nunca alcançada.
Por Antonio Cavalcante Filho
O mais interessante para se viver numa democracia (ainda que seja apenas a formal, como tínhamos antes de 2016), é a possibilidade de, mesmo enfrentando as forças do poder econômico, escolhermos periodicamente aqueles que irão nos representar nos poderes Legislativos e Executivos, para bem governar o país, representando-o com dignidade diante do mundo (algo que nunca teremos com o ilegítimo Michel Temer).
O mais interessante para se viver numa democracia (ainda que seja apenas a formal, como tínhamos antes de 2016), é a possibilidade de, mesmo enfrentando as forças do poder econômico, escolhermos periodicamente aqueles que irão nos representar nos poderes Legislativos e Executivos, para bem governar o país, representando-o com dignidade diante do mundo (algo que nunca teremos com o ilegítimo Michel Temer).
Viver numa democracia, ainda que seja a democracia burguesa (pois a
democracia real, a popular, a do povo nunca tivemos), é também a
possibilidade, mesmo vivendo num estado de gritante desequilíbrio
social, haver uma convivência (ainda que conflituosa), certa
“tolerância” (por mínima que seja), independentemente das raças, das
classes, das nossas crenças políticas ou religiosas, das nossas
opiniões, podendo inclusive, todos expressá-las livremente, para, a
partir daí, podermos avançar rumo a uma sociedade mais justa, menos
desigual.
Sem isso, para nós, trabalhadores, a democracia dos ricos, não faz
nenhum sentido. Podemos até descartá-la a qualquer momento, o que nos
faria muito bem.
Mesmo em um arremedo de democracia, como a do Brasil, antes de 2016,
ainda era possível viver e ser governado, mais ou menos, segundo as
regras estabelecidas na Constituição. Mas, está claro que, por meio de
um consórcio de bandidos extremamente organizados, parte substancial
disso nos foi roubado.
Deste momento em diante, todas as parafernálias institucionais do
estado burguês, (incluindo o STF, o “guardião da Constituição”), que
antes já eram “apequenados”, se apequenaram muito mais ainda.
Aliás, o impitimismo golpista, do Aécio/Cunha/Temer e Cia, “atualizou
a definição” de crime organizado, de formação de quadrilha, desde
quando, em 2014, o candidato da elite semifeudal, logo após perder a
eleição presidencial, prometeu que não deixaria Dilma governar em paz.
Apoiado por uma rede de televisão, numa espécie de ação entre amigos
da mídia (orquestrada por jornalões, TVs, rádios, portais de notícias e
revistas semanais), deu desmedida importância a tal “pedalada fiscal”,
inserindo no imaginário popular que aquela conduta era crime hediondo.
Graças a um parecer do TCU, um cabide de emprego de marajás, super
assalariados e vitalícios, sobre um mero ato de gestão (que Temer faz,
Taques faz, Alckmin faz, Doria faz, Emanuel Pinheiro faz e todos sempre
fizeram, e que nunca foram punidos) é que tudo começou.
É claro que, desde o golpe, o eleitor não tem mais a certeza
(garantia jurídica) de que o candidato a quem ele confiar o voto poderá
assumir, e se assumir, possa concluir o mandato, mesmo sendo o escolhido
pela maioria da população. E isso é uma dúvida cruel que nos remete a
“célebre” frase do golpista Carlos Lacerda contra Getúlio Vargas nas
eleições de 1950: "não pode ser candidato. Se for, não pode ser eleito.
Se eleito, não pode tomar posse. Se tomar posse, não pode governar".
Exatamente isso foi o que fizeram com a presidenta Dilma Roussef. E
dane-se o povo, que roubem seus direitos trabalhistas, que surrupiem
suas aposentadorias, que aumentem o desemprego, dê-lhes gasolina a cinco
reais o litro, gás de cozinha a “cem contos”, arranquem-lhes seus rins
nas contas de energia elétrica, que voltem a morar nas favelas sem água,
sem luz, sem esgoto.
Que fiquem sem saúde e educação, que triplique a população de pobres e
miseráveis, e que joguem todos eles no submundo da criminalidade e da
prostituição. E, não somente o petróleo, as riquezas minerais, o
Aquífero Guarani, o território da Amazônia, mas sim, que entreguem todo o
Brasil aos abutres internacionais a preço de pastel (quando o pastel
ainda era barato).
Todo este entreguismo lesa-pátria e é antipovo, colocando em risco o
futuro e a soberania da nação, ocorrem com a conivência de escribas
mercenários que vendem à caneta para a mídia corporativista burguesa,
com o apoio, mesmo que inconsciente, de uma parcela de midiotas e de
analfabetos políticos, e o que é pior, com o olhar complacente de
importantes setores do Judiciário.
Quanto ao “O Calvário do Eleitor”, título deste texto, me intrigou
uma visita que fiz ao portal da Justiça Eleitoral em Mato Grosso há
cerca de uns seis meses, onde vi uma fotografia da presidente Maria
Helena Póvoas com o juiz Sergio Moro, aquele mesmo que viaja
seguidamente aos Estados Unidos, recebe prêmios do Tio Sam com bastante
frequência, e suas decisões resultam em milhões em lucro para as
empresas ianques.
Lembremos que todo o dinheiro “recuperado” pela tal operação Lava
Jato é uma ninharia, se comparado aos prejuízos que Moro, Dalagnol e Cia
deram ao Brasil. Em apenas em um dos acordos feitos em processos num
tribunal dos EUA, contra a Petrobrás, provocou um dano ao Brasil de
cerca de R$ 10 bilhões neste mês de janeiro de 2018.
Rodrigo Janot, em seus melhores dias, garganteou que a Lava Jato
havia recuperado R$ 4 bilhões, o que não é verdade. O montante real do
dinheiro devolvido não chega nem a metade disso e, portanto, somente
neste acordo judicial, publicado em janeiro, o prejuízo foi dez vezes
maior que o lucro.
Ô vitória de Pirro!
Que juiz é esse Moro que permite que isso aconteça? A quem realmente
ele serve, ao Brasil ou ao “Tio Sam”? Mas, no portal do TRE/MT, está lá a
foto dele com a presidente do tribunal. Não havia nenhum contexto,
nenhuma notícia, nenhuma importância daquilo para a Justiça Eleitoral, e
isso me deixa desacreditado ainda mais no sistema. Parte do Judiciário
se contamina pelos preconceitos de classe, paixões políticas altamente
ideológicas; com exceções, mas é!
Afinal, o que se espera dos dirigentes de órgãos públicos é que gaste
seu tempo com os trabalhos de gestão e planejamento de suas atividades.
Tietagem e homenagens vazias não fazem parte do que esperamos deles.
Neste sentido, vejo que o Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso
está em franco débito com a sociedade mato-grossense. Cadê o julgamento
da ação de Impugnação de Mandato Eletivo (caso de fraude na ata de
registro de candidatura ao Senado) contra Pedro Taques, que se arrasta
neste tribunal desde 2010?
Dia desses, passando em frente da tal “Casa da Democracia”, em
Cuiabá, entristeceu-me a visão. Ali, bem antes dos primeiros raios da
manhã, centenas de pessoas já se acotovelavam para obter uma senha para
fazer a tal biometria. Aí eu pergunto: por que fazer o povo sofrer tanto
assim?
Já não basta ao eleitor o sacrifício de enfrentar filas absurdas, com
sol ou com chuva, para votar em alguém na incerteza de que naquele que
ele votou irá atender às suas expectativas, ou se atender, irão permitir
que ele cumpra o seu mandato?
Já não é demais vergonhoso viver numa “República” não republicana,
participarmos de uma democracia que não é a nossa, mas sim, daqueles que
nos exploram? Já não basta a humilhação de fingirmos que somos
cidadãos, quando na realidade somos meros escravos assalariados?
Para as castas privatistas, não é suficientemente regozijante a
ignomínia da cruz de tantas injustiças sociais que, há séculos,
carregamos calvário acima na esperança da emancipação humana, sempre
prometida, sempre adiada e nunca alcançada.
Agora, elas querem muito mais! Como diria Bertolt Brecht,
“Privatizaram sua vida, seu trabalho, sua hora de amar e seu direito de
pensar”. E como previsse o Brasil pós golpe, continua ele: “É da empresa
privada o seu passo em frente, seu pão e seu salário. E agora, não
contente, querem privatizar o conhecimento, a sabedoria, o pensamento,
que à humanidade pertence.
Antonio Cavalcante Filho, o Ceará, é sindicalista e
escreve neste espaço às sextas-feiras - E-mail:
antoniocavalcantefilho@outlook.com
Fonte RD News