O Aquífero que está localizado na parte sul da América do Sul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai) coloca a Região como detentora de 47% das reservas superficiais e subterrâneas de água do mundo. Os EUA sabem que não há nação que consiga manter-se dominante sem água potável em abundância, por isso seu interesse em intensificar o domínio político e militar na região, além do acesso à água existente em abundância no Canadá, garantida por acordos como o do NAFTA (Acordo de Livre Comércio da América do Norte, entre EUA, Canadá e México).
Estava, desde o início, nos manuais de “conflitos irregulares”
dos EUA. Foi por petróleo, é claro! Mas também por água, estatais
rentáveis e estratégicas, a riqueza da Amazônia, a aproximação com
Rússia e China
Outras Palavras
Por José Álvaro de Lima Cardoso
Circula
um vídeo na internet que reforça o que já se sabia há alguns anos:
estruturas do governo dos Estados Unidos auxiliaram os responsáveis pela
Lava Jato no fornecimento de informações que comprometeram políticos,
funcionários públicos, e executivos de grandes empresas brasileiras. A
troca de informações que possibilitou a montagem dos inquéritos foi
realizada informalmente, sem a autorização do Ministério da Justiça,
como prevê a Lei. Essas informações sobre a parceria entre os
procuradores e os órgãos de justiça e informações dos EUA foram
reveladas, no vídeo mencionado, por Kenneth Blanco, em julho de 2017, na
ocasião vice procurador geral adjunto do Departamento de Justiça dos
Estados Unidos (DOJ). O vice procurador ao fazer o comentário, exaltava
as supostas vantagens do esquema, por processar os casos de maneira mais
rápida e “efetiva”.
Esse tipo de relação pode ser considerado
por alguns procuradores um método muito eficiente e ágil. Mas, ao que se
sabe, é absolutamente ilegal. Cooperação internacional neste nível,
entre procuradores brasileiros com Departamento de Justiça, polícia
federal, e outros organismos de país estrangeiro, baseados apenas na
“confiança”, sem seguir os procedimentos previstos pela legislação,
obviamente é uma flagrante ilegalidade, para a qual as estruturas do
golpe procuram dar uma aparência de naturalidade.
Como vem
denunciando, pelo menos desde 2016, o jornalista brasileiro Pepe Escobar
(especialista em análise geopolítica), o Brasil foi vítima da chamada
Guerra Híbrida, guerra Não-Convencional, que se vale de instrumentos
linguísticos e simbólicos, com metodologia altamente sofisticada. Esse
tipo de método utiliza “aliados internos” para perpetração do golpe, no
Judiciário, entre as empresas, no Parlamento e outras estruturas do
Estado. Essa metodologia de guerra, desenvolvida principalmente pelos
EUA, tem como objetivo central garantir os interesses do império e
destruir projetos que, de uma forma ou outra, não se coadunem com os
seus interesses. Segundo Escobar, os países que compõem o BRICS (Brasil
Rússia, Índia, China e África do Sul) foram os primeiros alvos da Guerra
Híbrida, por uma série de razões, principalmente de caráter
geopolítico.
A
Guerra Híbrida visa assegurar a perpetuação da hegemonia econômica,
política e militar dos EUA. Esse tipo de guerra surgiu em 2010, a partir
do Manual para Guerras Não-Convencionais das Forças Especiais do
Exército dos EUA. Diz o manual: “O objetivo dos esforços dos EUA nesse
tipo de guerra é explorar as vulnerabilidades políticas, militares,
econômicas e psicológicas de potências hostis, desenvolvendo e apoiando
forças de resistência para atingir os objetivos estratégicos dos Estados
Unidos. […]. Num futuro previsível, as forças dos EUA se engajarão
predominantemente em operações de guerras irregulares (IW, na sigla em
inglês) ” (no artigo “O Brasil no epicentro da Guerra Híbrida, Escobar, Outras Palavras, 2016”).
O
golpe no Brasil foi por petróleo, claro, porque esta é uma obsessão e
uma necessidade dos EUA (e o pré-sal contém recursos que podem alcançar
R$ 30 trilhões). Mas também por água, por estatais rentáveis e
estratégicas, pela riqueza da Amazônia, pela aproximação do Brasil de
Rússia e China, pela fundação do Banco de Desenvolvimento do BRICS, e
assim por diante. Um dos elementos decisivos do envolvimento dos EUA no
golpe foi a política definida nos BRICS, de substituição gradativa do
dólar como moeda de referência nas transações internacionais. A
hegemonia mundial dos EUA, que se encontra estremecida, está diretamente
relacionada, em boa parte, ao fato de poder emitir dólar à vontade e
esta ser a moeda utilizada no grosso do comércio internacional.
Outra
explicação crucial do envolvimento dos EUA no golpe, como apontou o
historiador Moniz Bandeira, é a tentativa de impedir que se crie outra
potência no continente americano. Uma potência na América do Sul e
ligada comercial e militarmente à China e à Rússia é tudo o que os
Estados Unidos não querem. Não por acaso, dentre as dezenas de ações
destrutivas dos golpistas, uma das primeiras foi prender o Almirante
Othon da Silva, coordenador do projeto nuclear do Brasil, e alvejar o
projeto de construção do submarino a propulsão nuclear, fundamental para
a guarda e segurança da chamada Amazônia Azul.
Em 2013 o
jornalista norte-americano Glenn Greenwald já havia denunciado que o
Brasil era o grande alvo das ações de espionagem dos Estados Unidos.
Segundo o jornalista, o governo estadunidense espionou inclusive
mensagens de e-mails da presidenta Dilma Rousseff e de seus assessores
mais próximos, além da Petrobrás. O objetivo da Agência de Segurança
Nacional dos EUA (NSA, na sigla em inglês), segundo Greenwald, era
buscar detalhes da comunicação da presidenta com sua equipe. Segundo o
jornalista, naquela ocasião, o Brasil era o principal alvo dos Estados
Unidos.
O que está em jogo no golpe é muito mais que petróleo. Os
Estados Unidos não têm interesse em um desenvolvimento autônomo e
soberano do Brasil, pelo potencial que tem o país de rivalizar com os
interesses estratégicos dos EUA na Região. Processos como Unasul e CELAC
confrontavam os EUA no hemisfério, e novas instituições, como o Banco
do BRICS e o Acordo Contingente de Reservas do BRICS ajudavam a
construir alternativas contra hegemônicas ao Banco Mundial e o FMI,
instituições sobre as quais os EUA têm um controle quase absoluto.
A
ONU prevê que, no ritmo atual, as reservas hídricas do globo reduzirão
40% até 2030, o que poderá provocar uma “guerra pela água” no mundo. Os
EUA e a Europa enfrentam grave problema de falta de água, a maioria dos
rios dos EUA e do Velho Continente estão contaminados. É neste contexto
que tem também que ser entendido o golpe de Estado no Brasil. Tudo
indica que um dos interesses do golpe é se apropriar do Aquífero
Guarani, maior reserva subterrânea de água doce do mundo. O Aquífero que
está localizado na parte sul da América do Sul (Brasil, Argentina,
Uruguai e Paraguai) coloca a Região como detentora de 47% das reservas
superficiais e subterrâneas de água do mundo. Os EUA sabem que não há
nação que consiga manter-se dominante sem água potável em abundância,
por isso seu interesse em intensificar o domínio político e militar na
região, além do acesso à água existente em abundância no Canadá,
garantida por acordos como o do NAFTA (Acordo de Livre Comércio da
América do Norte, entre EUA, Canadá e México).
A partir de 2013,
quando o golpe intensificou suas articulações para a perpetração do
golpe no Brasil, o tabuleiro conjuntural se tornou bastante mais
complexo e perigoso. Mas é certo que se quisermos, em algum momento,
recuperar a democracia e a condição do Brasil de país soberano, teremos
que procurar entender detalhadamente o quadro conjuntural, agir com
destemor, e ter muita paciência histórica.
Fonte Outras Palavras