Ao amalgamar justiça e vingança, o que vimos no Brasil, no impeachment e golpe jurídico midiático contra Dilma Rousseff, na Operação Lava Jato e no fetiche por prender Lula, foi essa assimetria que transformou um impulso e processos decisivos por justiça e contra a corrupção em uma senha que libera o devir fascista, o ressentimento social e a vingança que só deseja a morte do outro, do inimigo social, outro gênero, outra cor da pele, outras crenças.
Oscar Maroni simula assassinar mulher sob imagem de Cármen Lúcia e Moro no salão do Bahamas, casa de prostituição em São Paulo
Por Ivana Bentes
A fotografia do altar erguido ao juiz Sérgio Moro e a ministra Carmem
Lúcia em uma casa de prostituição, com o dono de uma boate de luxo
mostrando a genitália desnuda de uma das suas contratadas enquanto lhe
tapa a boca, chama atenção por sua constelação de signos.
Vestido de preso/torturador/irmão metralha, Oscar Maroni, o dono da
boate Bahamas Club, comemora a prisão de Lula distribuindo cerveja
grátis para três mil pessoas, cumprindo uma promessa alardeada pelas
redes como as do MBL. O que diz a imagem, que evoca tanto a iconografia
da prisão de Abu Ghraib quanto uma cena de Salò ou os 120 dias de
Sodoma, de Pier Paolo Pasolini – ou ainda cenas de tortura da deep web -, é exatamente essa libido diante da sujeição do outro: voltamos ao comando!
Podemos infringir nosso poder aos corpos: das mulheres, das minorias,
podemos comandar o espetáculo politicamente incorreto, porque vencemos.
Como nos estupros pós-guerra, como nas cenas de torturas da ditadura
militar. Poder, sexualidade e assujeitamento. Uma multidão de homens
brancos que cultua Bolsonaros, armas e assujeitementos de todo tipo. Eu
gozo com o teu sofrimento, eis a trip regressivo-vingativa travestida de “justiça”, moralidade e combate à corrupção em que estamos.
Como sublinha Friedrich Nietzsche, toda reivindicação por justiça
traz junto de si um desejo primário de vingança, mas essas duas coisas
não se confundem, ou não deveriam se confundir. É o que distingue a
civilização da barbárie. Poder separar nossos piores instintos de uma
justiça construtiva e pedagógica. Ao amalgamar justiça e vingança, o que
vimos no Brasil, no impeachment e golpe jurídico midiático contra Dilma
Rousseff, na Operação Lava Jato e no fetiche por prender Lula, foi essa
assimetria que transformou um impulso e processos decisivos por justiça
e contra a corrupção em uma senha que libera o devir fascista, o
ressentimento social e a vingança que só deseja a morte do outro, do
inimigo social, outro gênero, outra cor da pele, outras crenças.
Teríamos que nos empenhar em produzir dispositivos que separem
justiça de vingança. Um processo profundo de reencantamento na potência
das lutas e disputas dos imaginários.
Fonte https://revistacult.uol.com.br/home/lula-justica-e-vinganca-quando-a-prisao-e-um-voo/
O CAFETÃO DONO DE UM PUTEIRO DE LUXO É A MELHOR TRADUÇÃO DO TEMPO DE BARBÁRIE QUE VIVEMOS
"Se o Lula for preso, a cerveja é de graça até a meia noite. Agora, se matarem ele na prisão, a cerveja vai ser de graça durante o mês inteiro", disse Maroni no vídeo. Outro homem que está numa mesa junto ao empresário questiona caso a morte seja com crueldade. "E se for sofrida a morte?". Quando Maroni respondeu: "Aí eu dou meu rabo", em tom jocoso.