É visível que o golpe e os golpistas, com suas reformas da Previdência, trabalhista, teto de gastos, privatizações etc, estão destruindo o nosso país num ritmo veloz jamais visto.
RD News
“Minha dor é perceber que, apesar de termos feito tudo o que
fizemos, ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais”.
(Belchior)
No início deste mês, diversos países comemoraram o Dia Internacional
dos Trabalhadores. No Brasil, onde vivemos um estado de retrocessos com o
desfacelamento da democracia, destruição da ética nas relações sociais e
um franco e permanente ataque aos direitos dos trabalhadores, no
“feriadão comemorativo” deste ano não tivemos nada de bom para
comemorar.
O reconhecimento dos direitos dos trabalhadores veio umbilicalmente
ligado a um processo revolucionário de lutas e confronto de classes, no
final do século XlX. De um lado, o capitalismo agrário, mercantil ou
financeiro. Do outro, o trabalhador que possui como seu único produto de
valor apenas a sua força de trabalho.
No Brasil de 2016, a velha elite perpetuadora de uma sociedade
subalterna, excludente e miserável, ao implementar mais um golpe contra a
democracia cuidou de imediato instalar uma agenda de destruição de
direitos sociais conquistados nos últimos oitenta anos, e, ao mesmo
tempo, servir na bandeja da traição o pacote de desmonte do nosso país
às máfias capitalistas internacionais.
Em Mato Grosso, os congressistas Maggi e Leitão, como representantes
da rica burguesia agrária chegaram até a propor o fim da remuneração
exclusiva em dinheiro para os trabalhadores rurais. Desse modo, os
fazendeiros poderiam pagar pelo “trabalho escravo” com “casa e comida”,
reinstalando assim, uma espécie de relação laboral esquecida lá no
Século XVIII.
A lei dos usurpadores e achacadores da República nº 13.467/2017,
pomposamente apelidada por eles como “Reforma Trabalhista”, veio
acompanhada de uma grande campanha de mídia, paga com recursos públicos,
de que seria bom para a economia e ampliaria os postos de trabalho.
As federações das indústrias espalharam outdoors nas ruas de todas as
cidades do Brasil, jogando a opinião pública contra parlamentares,
forçando-os a votar contra os interesses dos trabalhadores.
Foram necessários poucos meses para que se percebesse o engodo dos
golpistas. Está claro que, ao aprovarem o “Teto de Gastos”, a população
brasileira ficou ainda com menos acesso a saúde. De agora em diante,
durante 20 anos, as despesas com remédios, hospitais e UTIs, por
exemplo, ficarão como são nos dias de hoje. Imagine o sofrimento e o
caos crescentes que virão por aí.
A tal “reforma trabalhista”, do projeto antipovo da “Ponte para o
Futuro”, um produto do conluio golpista Temer/Cunha/Aécio e caterva,
contribuiu com a quebradeira em quase todos os setores, chegando
inclusive a trombar contra interesses do poderoso agronegócio. Tudo
isso, em poucos meses de implementação da tal reforma.
Note-se que as feiras agropecuárias que acontecem todos os anos em
Cuiabá não se realizarão este ano, ainda que as desculpas sejam outras.
Em Tangará da Serra, a festa do agronegócio também deixará de
existir. Justo agora que Maggi, o “Moto Serra de Ouro”, o mesmo dos
“escândalos dos maquinários”, o “comprador de cadeiras no TCE” e
golpista de primeira hora, comprou o espólio da Fazenda Itamarati.
Não é preciso ser economista para entender que a distribuição de
renda é um dos motores da economia, porque gera oportunidade e igualdade
entre as pessoas. Lula, um operário metalúrgico, o torneiro mecânico de
nove dedos, um pau de arara que fugiu da fome e da sede do Nordeste, o
“molusco” como o chamam os fascistas, sabe que a retirada de
oportunidade de trabalho significa a supressão de consumidores para os
produtos e serviços gerados pelos setores da retrógada burguesia
brasileira.
Os capitalistas tupiniquins são mesmos uns bichos estranhos,
muitíssimos estranhos às reais necessidades do nosso povo e aos
interesses da soberania nacional.
Os fenômenos crescentes nas relações de trabalho, que se acentuaram
com a Lei nº 13.467/2017, mostram que estamos destruindo o nosso país,
que, em breve, ou seremos um “protetorado” dos Estados Unidos, uma
espécie de Porto Rico de língua portuguesa, ou, no máximo, uma imensa
colônia das multinacionais, como uma senzala superpopulosa de escravos
conduzida por meia dúzia de capitães-do-mato.
Já cresce, por aqui, a “Pejotização”, fenômeno que se refere ao
processo de mascaramento e eliminação legais de relações de emprego,
transformando o empregado em um prestador de serviços legalizado como
pessoa jurídica. A pessoa fica desprovida de direitos, sem proteções
legais e sem as garantias de aposentadoria.
Outra tendência é a “Uberização” que resulta de processos em curso no
mundo do trabalho decorrentes do aumento do desemprego e fomento a
iniciativas de empreendedorismo.
A uberização é uma nova forma de organização do trabalho que permite a
eliminação de vínculos empregatícios, transformando o trabalhador em um
“nanoempreendedor de si”, mas o controle e a subordinação do trabalho
são mantidos nas mãos da empresa.
É visível que o golpe e os golpistas, com suas reformas da
Previdência, trabalhista, teto de gastos, privatizações etc, estão
destruindo o nosso país num ritmo veloz jamais visto.
Com tudo isso, ao contrário dos versos de Belchior, que diz: “cuidado
meu bem... Há perigo na esquina, eles venceram e o sinal está fechado
pra nós que somos jovens”, podemos observar um despertar de consciência
crítica, como se as pessoas acordassem de um sono profundo.
Hoje, até mesmo muitos militontos coxinhas, já começam a perceber que
foram usados como massa de manobra, reconhecendo que, em 2016, o que
houve no Brasil foi um Golpe midiático/parlamentar/judicial, antipovo e
lesa-pátria, que agora, em 2018, precisamos reverter.
Ou restabelecemos imediatamente a democracia, ou iremos todos
participar do cortejo fúnebre de uma nação que poderia ter-se
constituído em um belíssimo país próspero e feliz.
Antonio Cavalcante Filho, o Ceará, é sindicalista e
escreve neste espaço às sextas-feiras - E-mail:
antoniocavalcantefilho@outlook.com
Fonte RD News