segunda-feira, 14 de maio de 2018

A RELÂMPADA MORTE DE UM PAÍS


É visível que o golpe e os golpistas, com suas reformas da Previdência, trabalhista, teto de gastos, privatizações etc, estão destruindo o nosso país num ritmo veloz jamais visto. 



RD News 

 “Minha dor é perceber que, apesar de termos feito tudo o que fizemos, ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais”. (Belchior)


No início deste mês, diversos países comemoraram o Dia Internacional dos Trabalhadores. No Brasil, onde vivemos um estado de retrocessos com o desfacelamento da democracia, destruição da ética nas relações sociais e um franco e permanente ataque aos direitos dos trabalhadores, no “feriadão comemorativo” deste ano não tivemos nada de bom para comemorar. 

O reconhecimento dos direitos dos trabalhadores veio umbilicalmente ligado a um processo revolucionário de lutas e confronto de classes, no final do século XlX. De um lado, o capitalismo agrário, mercantil ou financeiro. Do outro, o trabalhador que possui como seu único produto de valor apenas a sua força de trabalho.

No Brasil de 2016, a velha elite perpetuadora de uma sociedade subalterna, excludente e miserável, ao implementar mais um golpe contra a democracia cuidou de imediato instalar uma agenda de destruição de direitos sociais conquistados nos últimos oitenta anos, e, ao mesmo tempo, servir na bandeja da traição o pacote de desmonte do nosso país às máfias capitalistas internacionais.

Em Mato Grosso, os congressistas Maggi e Leitão, como representantes da rica burguesia agrária chegaram até a propor o fim da remuneração exclusiva em dinheiro para os trabalhadores rurais. Desse modo, os fazendeiros poderiam pagar pelo “trabalho escravo” com “casa e comida”, reinstalando assim, uma espécie de relação laboral esquecida lá no Século XVIII.

A lei dos usurpadores e achacadores da República nº 13.467/2017, pomposamente apelidada por eles como “Reforma Trabalhista”, veio acompanhada de uma grande campanha de mídia, paga com recursos públicos, de que seria bom para a economia e ampliaria os postos de trabalho.

As federações das indústrias espalharam outdoors nas ruas de todas as cidades do Brasil, jogando a opinião pública contra parlamentares, forçando-os a votar contra os interesses dos trabalhadores.

Foram necessários poucos meses para que se percebesse o engodo dos golpistas. Está claro que, ao aprovarem o “Teto de Gastos”, a população brasileira ficou ainda com menos acesso a saúde. De agora em diante, durante 20 anos, as despesas com remédios, hospitais e UTIs, por exemplo, ficarão como são nos dias de hoje. Imagine o sofrimento e o caos crescentes que virão por aí.

A tal “reforma trabalhista”, do projeto antipovo da “Ponte para o Futuro”, um produto do conluio golpista Temer/Cunha/Aécio e caterva, contribuiu com a quebradeira em quase todos os setores, chegando inclusive a trombar contra interesses do poderoso agronegócio. Tudo isso, em poucos meses de implementação da tal reforma.

Note-se que as feiras agropecuárias que acontecem todos os anos em Cuiabá não se realizarão este ano, ainda que as desculpas sejam outras.

Em Tangará da Serra, a festa do agronegócio também deixará de existir. Justo agora que Maggi, o “Moto Serra de Ouro”, o mesmo dos “escândalos dos maquinários”, o “comprador de cadeiras no TCE” e golpista de primeira hora, comprou o espólio da Fazenda Itamarati.

Não é preciso ser economista para entender que a distribuição de renda é um dos motores da economia, porque gera oportunidade e igualdade entre as pessoas. Lula, um operário metalúrgico, o torneiro mecânico de nove dedos, um pau de arara que fugiu da fome e da sede do Nordeste, o “molusco” como o chamam os fascistas, sabe que a retirada de oportunidade de trabalho significa a supressão de consumidores para os produtos e serviços gerados pelos setores da retrógada burguesia brasileira.

Os capitalistas tupiniquins são mesmos uns bichos estranhos, muitíssimos estranhos às reais necessidades do nosso povo e aos interesses da soberania nacional.

Os fenômenos crescentes nas relações de trabalho, que se acentuaram com a Lei nº 13.467/2017, mostram que estamos destruindo o nosso país, que, em breve, ou seremos um “protetorado” dos Estados Unidos, uma espécie de Porto Rico de língua portuguesa, ou, no máximo, uma imensa colônia das multinacionais, como uma senzala superpopulosa de escravos conduzida por meia dúzia de capitães-do-mato.

Já cresce, por aqui, a “Pejotização”, fenômeno que se refere ao processo de mascaramento e eliminação legais de relações de emprego, transformando o empregado em um prestador de serviços legalizado como pessoa jurídica. A pessoa fica desprovida de direitos, sem proteções legais e sem as garantias de aposentadoria.

Outra tendência é a “Uberização” que resulta de processos em curso no mundo do trabalho decorrentes do aumento do desemprego e fomento a iniciativas de empreendedorismo.

A uberização é uma nova forma de organização do trabalho que permite a eliminação de vínculos empregatícios, transformando o trabalhador em um “nanoempreendedor de si”, mas o controle e a subordinação do trabalho são mantidos nas mãos da empresa.

É visível que o golpe e os golpistas, com suas reformas da Previdência, trabalhista, teto de gastos, privatizações etc, estão destruindo o nosso país num ritmo veloz jamais visto.

Com tudo isso, ao contrário dos versos de Belchior, que diz: “cuidado meu bem... Há perigo na esquina, eles venceram e o sinal está fechado pra nós que somos jovens”, podemos observar um despertar de consciência crítica, como se as pessoas acordassem de um sono profundo.

Hoje, até mesmo muitos militontos coxinhas, já começam a perceber que foram usados como massa de manobra, reconhecendo que, em 2016, o que houve no Brasil foi um Golpe midiático/parlamentar/judicial, antipovo e lesa-pátria, que agora, em 2018, precisamos reverter.

Ou restabelecemos imediatamente a democracia, ou iremos todos participar do cortejo fúnebre de uma nação que poderia ter-se constituído em um belíssimo país próspero e feliz.

Antonio Cavalcante Filho, o Ceará, é sindicalista e escreve neste espaço às sextas-feiras - E-mail: antoniocavalcantefilho@outlook.com

Fonte RD News