terça-feira, 29 de maio de 2018

COMO ACREDITAR NO JUDICIÁRIO?


Se o Judiciário perder a confiança dos cidadãos, sucumbirá também a sua credibilidade, base fundamental de sustentação moral das suas decisões e julgamentos, trincando gravemente um dos pilares do nosso sistema republicano, e, de igual modo, arrastando para o abismo a razão de sua existência. 




Alguns juízes são absolutamente incorruptíveis. 
Ninguém consegue induzi-los a fazer justiça"
 (Bertolt Brecht)
 
Neste mês de maio, a Confederação Nacional dos Transportes (CNT) realizou uma pesquisa de opinião sobre as eleições presidenciais de 2018. Nela, incluiu um campo específico para saber da população o que achava da postura dos juízes e do Poder Judiciário do Brasil.

Assim, as perguntas formuladas foram simples: como o entrevistado avaliaria a atuação da Justiça no Brasil? Se seriam ótima, boa, regular, ruim ou péssima.

De todo o conjunto das opiniões ouvidas, somente 1,3% delas entende que o trabalho dos magistrados brasileiros é ótimo. Outros 7,5% responderam que é boa. Outros 33,6% disseram que a justiça é regular. Mas 18,9% disseram que a justiça é ruim, e a maioria, cerca de 36,8% afirmaram que é péssima.

Estes números, por si só, são alarmantes!

Se o Judiciário perder a confiança dos cidadãos, sucumbirá também a sua credibilidade, base fundamental de sustentação moral das suas decisões e julgamentos, trincando gravemente um dos pilares do nosso sistema republicano, e, de igual modo, arrastando para o abismo a razão de sua existência.

Uma outra pergunta feita pela pesquisa trata-se exatamente disso: a confiança que as pessoas depositam nos juízes brasileiros e em suas decisões. Este ítem teve três níveis de opção: muito confiável, pouco confiável e nada confiável.

E aí vem um choque mortífero no Judiciário: 52,8% dos entrevistados acham que o Poder Judiciário brasileiro é pouco confiável, e 36,5% vão ainda mais longe, dizendo que o sistema é nada confiável. Somente uma parcela de 6,4% respondeu que os juízes são muito confiáveis.

Tudo isso é demonstrado em um ambiente em que o Jornal Nacional, Globo News, revistas nacionais, jornalões (e seus satélites locais) mostram um juiz super-herói, vestindo “cosplay” de Batman (Joaquim Barbosa) ou de Superman (Sérgio Moro).

Hoje, podemos dizer que a grande maioria dos brasileiros já não cai com tanta facilidade no engodo do “encantamento” mistificador da mídia golpista, como ocorria até há bem pouco tempo atrás.

A derradeira pergunta da pesquisa foi ainda mais reveladora sobre a percepção popular quanto ao trabalho dos magistrados. A pergunta foi no sentido de saber se os entrevistados acreditavam que a justiça brasileira age de forma igual para todos.

A resposta esmagadora da maioria, 90,3% dos populares, foi de que ela não trata a todos de maneira igual. Ou seja: os juízes sãos seletivos, ideológicos, julgam as pessoas e decidem os processos de modo diferente, de acordo com o nome que está na capa dos autos.

Surpresa? Para mim, nenhuma!

A constatação de que, para 90% dos brasileiros, a Justiça não age de forma igual para todos, que ela é seletiva, ideológica, tem lado, é parcial e atua de forma partidária, perseguindo um campo político, o dos movimentos sociais (as forças populares), está claro pelo resultado da pesquisa.

Por outro lado, a maioria dos brasileiros já está percebendo também que o Poder Judiciário, no Brasil, assim como o Poder Executivo, o Legislativo e a mídia corporativa burguesa, atende a interesses da classe dominante, dos oligopólios empresariais, das rapinas estrangeiras dos banqueiros e dos grandes latifundiários do agronegócio.

Grande parcela da população percebe que o projeto elitista e dominador, que sob proteção togada usurpou o poder com o Golpe parlamentar/midiático/judicial em 2016, assim como já acontecera antes com o golpe militar de1964, volta a destruir o Brasil nos dias atuais.

Recente levantamento, com dados do período de janeiro de 2007 a outubro de 2016, mostrou que em 96,5% das ações penais contra parlamentares no Supremo Tribunal Federal (STF) não houve nenhuma punição ao réu.

Cerca de 91% dos deputados federais, que respondem ações ou inquéritos relativos à Lava Jato disputam as eleições de 2018, é uma outra informação que carrega de desconfiança o povo brasileiro com os juízes. Se esses forem reeleitos irão continuar com direito a foro privilegiado, com as poucas restrições que o STF impõe.

E o que dizer da Justiça Eleitoral de Mato Grosso, por exemplo, que recebeu documentos fraudados numa chapa de candidatos ao Senado, lá em 2010, que até agora não condenou os criminosos envolvidos na fraude?

O que dizer da situação da prefeita de direito (não de fato) de Várzea Grande, cassada há mais de um ano, mas que os recursos no Tribunal até hoje não foram julgados. Esta nem se abala, continua tranquila com o seu penteado que não muda nem com ventania. Sabe que pode contar com a proteção togada.

A mesma situação é a do Nenéu do paletó-bolso-furado, prefeito-jardineiro de Cuiabá. Suas grandes obras são a extensão dos pardais criados por Mauro Mendes, e a pintura de praças e monumentos, com as respectivas inaugurações. Ele não pode sair às ruas, mas continua gozando da confiança togada.

Algum dia será punido? Nisso, não aposto sequer uma esmeralda falsa, imagine uma verdadeira.

Depois do grotesco fiasco do governador Pedro Taques, que emergiu das lides judiciárias para a militância política partidária em Mato Grosso, agora chegou a vez da juíza Selma sair do armário como candidata ao Senado, defendendo a bandeira de um político que possui 30 anos de mandato de deputado federal sem nenhuma lei aprovada.

O que leva uma juíza, mesmo aposentada, apoiar um candidato que responde processos por incitação ao crime de estupro? O que faz uma mulher apoiar a candidatura de alguém a presidente da república que acha que mulher deve ganhar menos que o homem porque ela engravida?

Como pode uma cidadã brasileira, que se propõe a defender os interesses nacionais, se candidatar ao Senado apoiando um político que bate continência para a bandeira dos Estados Unidos e ainda por cima diz que a Amazônia não é nossa?

Não é estranho um ser humano, seja homem ou mulher, em pleno século XXI, querer eleger ao posto máximo da nação quem é declaradamente machista, racista e fascista, ao ponto de declarar publicamente que: “O erro da ditadura foi torturar e não matar”? Que fala para uma mulher: “não te estupro porque você não merece"? Que diz que seus filhos não correm o risco de se relacionar com uma mulher negra porque "foram muito bem-educados"?

Nesta semana, a doutora Selma, apoiadora de Bolsonaro, me surpreendeu mais uma vez querendo manter para si um privilégio que poucos políticos de Brasília possuem: uma escolta armada, dia e noite, dando-lhe proteção. Tudo pago com recursos do espoliado contribuinte mato-grossense. É como se diz por aí: faça o que digo, mas não o que eu faço!

Portanto, não venham os coxinhas me dizer agora que não conheço a diferença entre juiz, Justiça e Judiciário.

Antonio Cavalcante Filho, o Ceará, é sindicalista e escreve neste espaço às sextas-feiras - E-mail: antoniocavalcantefilho@outlook.com

Fonte RD News