O governador de Mato Grosso, Pedro Taques, “apressadinho”, mergulhou de cabeça nas aguas turvas e pútrida do pantanal golpista. Com isso, suicidou-se politicamente, enforcado nas árvores desfolhadas de um serrado em chamas.
Por Antonio Cavalcante Filho

A crise no mundo a que me refiro é a do capitalismo, que, após
séculos de barbárie, não consegue oferecer respostas decentes aos graves
problemas acumulados nas áreas da educação, saúde, habitação, reforma
agrária, segurança, saneamento, emprego, distribuição de renda, justiça
social, transporte, meio ambiente e tantas outras necessidades que a
humanidade, em especial nossos irmãos empobrecidos e a Mãe Terra anseiam
e precisam.
É contra o afastamento de Dilma Roussef, sem crime de
responsabilidade, e a prisão do Lula, sem crimes comprovados que
enfatizo neste texto a seguinte pergunta: foi para isso que deram o
golpe?
Em 2016, o imperialismo capitalista, aliando-se novamente às elites
escravocratas do Brasil (latifundiários, banqueiros, especuladores,
oligarquia empresarial, mídia corporativa burguesa, setores do
judiciário, MP, PF e suas marionetes analfacoxas), nos impôs mais um
golpe, dessa vez apelidado de “impeachment”, tão cínico e covarde quanto
o de 1964, batizado por eles de “revolução”.
O golpe contra a nossa democracia foi dado, “coincidentemente” no
momento em que o governo Dilma se alinhava aos chamados BRICs (Brasil,
África do Sul, Índia, China e Rússia), criando uma moeda própria para
suas transações, nos desvencilhando dos tentáculos monstruosos da
política econômica imperialista do Tio Sam.
“Curiosamente”, dois desses países sofreram no mesmo período um
processo de “impeachment” de seus dirigentes: África do Sul e Brasil.
Mera coincidência?
É fato que o Brasil, após um breve período de estabilidade
democrática e de crescimento econômico no governo Lula/Dilma, vive hoje
um caos por completo. Todas as políticas adotadas pelo conluio de
quadrilheiros, que tomaram de assalto o poder, foram no sentido de
roubar direitos dos trabalhadores, pilhar as nossas riquezas e
entregá-las ao todo poderoso “deus-mercado", o verdadeiro dono do poder.
Na arapuca que vinha sendo armada desde os últimos meses do segundo
mandato de Dilma, qualquer projeto, ou lei, que fosse para o benefício
dos mais pobres foi solenemente ignorado ou revogado por iniciativa do
consórcio Temer/Cunha/Aécio, os 300 picaretas e sua máquina de
propaganda consubstanciada na Rede Globo e seus satélites em benefício
das oligarquias financeiras internas e externas.
E o que vimos na última quinzena de maio deste ano, senão um
“casamento” conturbado da greve de caminhoneiros autônomos (a noiva),
com o locaute das grandes transportadoras (o noivo), que terminou ali
mesmo no altar, provocando a maior paralisação do setor de transporte da
história?
Uma pequena amostra grátis do que seria uma intervenção militar, que
alguns “grevistas” pediram, nos foi oferecido sem cerimonias:
Com o casal ainda na “Igreja”, tudo parecia perfeito. Aparentemente
havia um clima harmonioso entre o “padrinho” (governo) e cônjuges. Foi
só o noivo jogar fora as “alianças”, abandonando ali mesmo a pobre
“traída”, que o “pau-comeu” solto com bombas de gás, tiros e cassetetes
pra cima da desprovida.
Usuários do transporte coletivo se acotovelando nos terminais de
ônibus, filas quilométricas nos postos de combustíveis, desabastecimento
e aumentos absurdos nos preços das mercadorias, “paradeira” em todos os
setores da economia, motoristas alvejados por balas de borrachas,
coxinhas descerebrados se ajoelhando em frente aos quarteis, implorando
intervenção militar, e falta de esperança no rosto da população, são
apenas algumas pálidas imagens do álbum fotográfico do golpe.
Todo este caos em que vivemos é consequência também da decisão
irresponsável do multi-delatado Aécio Neves, ao não aceitar a reeleição
de Dilma.
Derrotado na urna, o “mineirinho” incitou a obstrução congressual do
governo com o apoio providencial do Tribunal de Contas da União, do
ex-deputado Eduardo Cunha e de alguns governadores, entre eles o de Mato
Grosso, Pedro Taques, que, “apressadinho”, mergulhou de cabeça nas
aguas turvas e pútrida do pantanal golpista. Com isso, suicidou-se
politicamente, enforcado nas árvores desfolhadas de um serrado em
chamas.
E, para piorar o quadro fúnebre da democracia, grupos de midiotas e
fascistoides, como o MBL e Vem pra Rua, patrocinados por financiadores
“desconhecidos”, se aliaram ao golpismo, produzindo todos os esforços
possíveis e imagináveis para retirar Dilma do governo.
Por conceitos, como Democracia, Estado Democrático de Direito,
Soberania das Urnas ou Soberania Nacional, os mesmos estavam pouco “se
lixando”.
Para atingirem seus objetivos torpes, prepararam lavagem cerebral
coletiva em toda a nação, usando-se de meios persuasivos (rádio, tv,
jornal, internet, outdoor etc.), dizendo que era só tirar a Dilma que o
país iria se transformar no Éden aqui na terra.
A paralisação dos caminhoneiros, autônomos ou não, apenas revela o
que já sabíamos: que os golpistas, muito além de corruptos, são
vendilhões-lesa-pátria que lançaram o povo brasileiro na boca da fera do
sistema financeiro, o “minotauro global”, devorador do futuro dos
nossos filhos nos labirintos da politicalha financista.
As federações estaduais de indústria e de comércio, antes tão ativas
contra Dilma, em dois anos, nada disseram contra Temer e seu bando.
Somente agora, quando a crise se aprofunda, e os golpistas, um a um, são
desmascarados, e a verdade começa a vir à tona, é que alguns deles
surgem pelos corredores do país, com o clássico chororô sobre o leite
derramado, tais quais seus paneleiros e manifestoides arrependidos.
Os prejuízos causados ao país são incomensuráveis, chegando à casa de
centenas de bilhões de reais. Recentemente, em evento do jornal Valor
Econômico, que reuniu dezenas de empresários e altos executivos, o clima
era de desalento.
A crise vai se aprofundando de tal modo, que até mesmo algozes da
Dilma Roussef e do Lula, partícipes da frente golpista que guindou
Michel Temer ao poder, já prenunciando a próxima tempestade, vêm
pressionando pela renúncia do usurpador.
Hoje, os militontos que ontem gritavam o “Fora Dilma” e o “Fica
Temer”, para não deixarem qualquer dúvida de que são acéfalos, gritam o
“Fora Temer e “Intervenção Militar Já”! Dá pra entender?
Todos percebem que a economia estancou. Há muitas empresas com as
operações paradas, enquanto o comércio vem fechando as portas, como se
comprova com números: no último trimestre de 2017, o PIB estava
estacionado, com um aumento simbólico de 0,1%, e isso se repetiu no
primeiro trimestre de 2018.
Temer e sua camarilha, capatazes dos interesses geopolíticos
norte-americanos, ao fecharem refinarias nacionais, entregarem o pré-sal
às empresas estrangeiras, submetendo os preços da gasolina, gás de
cozinha e óleo diesel ao humor econômico internacional, simplesmente
asfixiaram o Brasil para o maior regozijo do monstro do sistema
financeiro mundial.
E não foi para isso que tiraram Dilma, e, para não disputar a eleição
em 2018, prenderam o Lula, o maior líder popular do Brasil?
E aí, coxinhas, cínicos ou abestalhados, a quem serviu o golpe?
Antonio Cavalcante Filho, o Ceará, é sindicalista e
escreve neste espaço às sextas-feiras - E-mail:
antoniocavalcantefilho@outlook.com
Fonte RD News