domingo, 10 de junho de 2018

A QUEM SERVIU O GOLPE?


O governador de Mato Grosso, Pedro Taques, “apressadinho”, mergulhou de cabeça nas aguas turvas e pútrida do pantanal golpista. Com isso, suicidou-se politicamente, enforcado nas árvores desfolhadas de um serrado em chamas. 




Por Antonio Cavalcante Filho 


O mundo todo e, infelizmente, o nosso país vivem uma das piores crises da história. Não se trata aqui de “crise moral”, “crise de patriotismo” ou outras dessas baboseiras hipócritas e delirantes de falsos moralistas.

A crise no mundo a que me refiro é a do capitalismo, que, após séculos de barbárie, não consegue oferecer respostas decentes aos graves problemas acumulados nas áreas da educação, saúde, habitação, reforma agrária, segurança, saneamento, emprego, distribuição de renda, justiça social, transporte, meio ambiente e tantas outras necessidades que a humanidade, em especial nossos irmãos empobrecidos e a Mãe Terra anseiam e precisam.

É contra o afastamento de Dilma Roussef, sem crime de responsabilidade, e a prisão do Lula, sem crimes comprovados que enfatizo neste texto a seguinte pergunta: foi para isso que deram o golpe?

Em 2016, o imperialismo capitalista, aliando-se novamente às elites escravocratas do Brasil (latifundiários, banqueiros, especuladores, oligarquia empresarial, mídia corporativa burguesa, setores do judiciário, MP, PF e suas marionetes analfacoxas), nos impôs mais um golpe, dessa vez apelidado de “impeachment”, tão cínico e covarde quanto o de 1964, batizado por eles de “revolução”.

O golpe contra a nossa democracia foi dado, “coincidentemente” no momento em que o governo Dilma se alinhava aos chamados BRICs (Brasil, África do Sul, Índia, China e Rússia), criando uma moeda própria para suas transações, nos desvencilhando dos tentáculos monstruosos da política econômica imperialista do Tio Sam.

“Curiosamente”, dois desses países sofreram no mesmo período um processo de “impeachment” de seus dirigentes: África do Sul e Brasil. Mera coincidência?

É fato que o Brasil, após um breve período de estabilidade democrática e de crescimento econômico no governo Lula/Dilma, vive hoje um caos por completo. Todas as políticas adotadas pelo conluio de quadrilheiros, que tomaram de assalto o poder, foram no sentido de roubar direitos dos trabalhadores, pilhar as nossas riquezas e entregá-las ao todo poderoso “deus-mercado", o verdadeiro dono do poder.

Na arapuca que vinha sendo armada desde os últimos meses do segundo mandato de Dilma, qualquer projeto, ou lei, que fosse para o benefício dos mais pobres foi solenemente ignorado ou revogado por iniciativa do consórcio Temer/Cunha/Aécio, os 300 picaretas e sua máquina de propaganda consubstanciada na Rede Globo e seus satélites em benefício das oligarquias financeiras internas e externas.

E o que vimos na última quinzena de maio deste ano, senão um “casamento” conturbado da greve de caminhoneiros autônomos (a noiva), com o locaute das grandes transportadoras (o noivo), que terminou ali mesmo no altar, provocando a maior paralisação do setor de transporte da história?

Uma pequena amostra grátis do que seria uma intervenção militar, que alguns “grevistas” pediram, nos foi oferecido sem cerimonias:

Com o casal ainda na “Igreja”, tudo parecia perfeito. Aparentemente havia um clima harmonioso entre o “padrinho” (governo) e cônjuges. Foi só o noivo jogar fora as “alianças”, abandonando ali mesmo a pobre “traída”, que o “pau-comeu” solto com bombas de gás, tiros e cassetetes pra cima da desprovida.

Usuários do transporte coletivo se acotovelando nos terminais de ônibus, filas quilométricas nos postos de combustíveis, desabastecimento e aumentos absurdos nos preços das mercadorias, “paradeira” em todos os setores da economia, motoristas alvejados por balas de borrachas, coxinhas descerebrados se ajoelhando em frente aos quarteis, implorando intervenção militar, e falta de esperança no rosto da população, são apenas algumas pálidas imagens do álbum fotográfico do golpe.

Todo este caos em que vivemos é consequência também da decisão irresponsável do multi-delatado Aécio Neves, ao não aceitar a reeleição de Dilma.

Derrotado na urna, o “mineirinho” incitou a obstrução congressual do governo com o apoio providencial do Tribunal de Contas da União, do ex-deputado Eduardo Cunha e de alguns governadores, entre eles o de Mato Grosso, Pedro Taques, que, “apressadinho”, mergulhou de cabeça nas aguas turvas e pútrida do pantanal golpista. Com isso, suicidou-se politicamente, enforcado nas árvores desfolhadas de um serrado em chamas.

E, para piorar o quadro fúnebre da democracia, grupos de midiotas e fascistoides, como o MBL e Vem pra Rua, patrocinados por financiadores “desconhecidos”, se aliaram ao golpismo, produzindo todos os esforços possíveis e imagináveis para retirar Dilma do governo.

Por conceitos, como Democracia, Estado Democrático de Direito, Soberania das Urnas ou Soberania Nacional, os mesmos estavam pouco “se lixando”.

Para atingirem seus objetivos torpes, prepararam lavagem cerebral coletiva em toda a nação, usando-se de meios persuasivos (rádio, tv, jornal, internet, outdoor etc.), dizendo que era só tirar a Dilma que o país iria se transformar no Éden aqui na terra.

A paralisação dos caminhoneiros, autônomos ou não, apenas revela o que já sabíamos: que os golpistas, muito além de corruptos, são vendilhões-lesa-pátria que lançaram o povo brasileiro na boca da fera do sistema financeiro, o “minotauro global”, devorador do futuro dos nossos filhos nos labirintos da politicalha financista.

As federações estaduais de indústria e de comércio, antes tão ativas contra Dilma, em dois anos, nada disseram contra Temer e seu bando. Somente agora, quando a crise se aprofunda, e os golpistas, um a um, são desmascarados, e a verdade começa a vir à tona, é que alguns deles surgem pelos corredores do país, com o clássico chororô sobre o leite derramado, tais quais seus paneleiros e manifestoides arrependidos.

Os prejuízos causados ao país são incomensuráveis, chegando à casa de centenas de bilhões de reais. Recentemente, em evento do jornal Valor Econômico, que reuniu dezenas de empresários e altos executivos, o clima era de desalento.

A crise vai se aprofundando de tal modo, que até mesmo algozes da Dilma Roussef e do Lula, partícipes da frente golpista que guindou Michel Temer ao poder, já prenunciando a próxima tempestade, vêm pressionando pela renúncia do usurpador.

Hoje, os militontos que ontem gritavam o “Fora Dilma” e o “Fica Temer”, para não deixarem qualquer dúvida de que são acéfalos, gritam o “Fora Temer e “Intervenção Militar Já”! Dá pra entender?

Todos percebem que a economia estancou. Há muitas empresas com as operações paradas, enquanto o comércio vem fechando as portas, como se comprova com números: no último trimestre de 2017, o PIB estava estacionado, com um aumento simbólico de 0,1%, e isso se repetiu no primeiro trimestre de 2018.

Temer e sua camarilha, capatazes dos interesses geopolíticos norte-americanos, ao fecharem refinarias nacionais, entregarem o pré-sal às empresas estrangeiras, submetendo os preços da gasolina, gás de cozinha e óleo diesel ao humor econômico internacional, simplesmente asfixiaram o Brasil para o maior regozijo do monstro do sistema financeiro mundial.

E não foi para isso que tiraram Dilma, e, para não disputar a eleição em 2018, prenderam o Lula, o maior líder popular do Brasil?

E aí, coxinhas, cínicos ou abestalhados, a quem serviu o golpe?

Antonio Cavalcante Filho, o Ceará, é sindicalista e escreve neste espaço às sextas-feiras - E-mail: antoniocavalcantefilho@outlook.com

Fonte RD News