O País tem um Supremo Tribunal Federal que foi conivente com um golpe contra a democracia, permitindo que uma acusação estapafúrdia como a de pedaladas fiscais tivesse sustentação jurídica para um impeachment.
Por Aquiles Lins
A pesquisa Datafolha divulgada neste domingo, 10, traz várias provas
do fracasso político, institucional e eleitoral que foi o impeachment da
presidente Dilma Rousseff sem comprovação de crime de responsabilidade,
isto é, um golpe.
O ex-presidente Lula continua imbatível, liderando com 30% e vencendo
folgado qualquer adversário no segundo turno, enquanto Michel Temer é
reprovado por 82% da população, na maior rejeição da história.
No entanto, talvez a informação mais ilustrativa diz respeito à
confiança dos brasileiros e brasileiras nas três instituições que
lideraram o golpe de 2016: o Congresso Nacional, o Judiciário e a mídia.
O Poder Legislativo federal não é uma instituição confiável para 67%
dos brasileiros. Inflam este percentual a hipocrisia de deputados que
votaram a favor da retirada de uma presidente honesta.
Como Raquel Muniz (PSD-MG), cujo marido e então prefeito de Montes
Claros foi preso por desvios na Saúde, ou Caio Nárcio (PSDB-MG), cuja
lição de que "honestidade era obrigação" ele havia aprendido com o pai,
Nárcio Rodrigues da Silveira, preso depois por desvios em obras durante o
governo de Antonio Anastasia (PSDB). Há ao menos uma dezena de outros
casos de deputados, e também de senadores, como o célebre Romero Jucá
(MDB-RR), que defendeu o "grande acordo nacional, com o Supremo com
tudo", que dão consistência à desconfiança no Congresso.
Sobre o outro Poder, o Judiciário, a pesquisa Datafolha mostrou que
82% dos brasileiros confiam pouco ou absolutamente nada. Também não é
para menos. O País tem um Supremo Tribunal Federal que foi conivente com
um golpe contra a democracia, permitindo que uma acusação estapafúrdia
como a de pedaladas fiscais tivesse sustentação jurídica para um
impeachment.
Antes disso, o STF atuou politicamente inúmeras vezes contra o
governo Dilma, na ação e na omissão. Na ação, quando Gilmar Mendes vetou
a nomeação de Lula como ministro da Casa Civil em 2016, aumentando a
instabilidade necessária para o golpe. E na omissão, como quando o juiz
Sérgio Moro divulgou ilegalmente a conversa entre Lula e Dilma (na
ocasião Lula, acertadamente, disse que o País tinha uma Suprema Corte
'totalmente acovardada') e ficou por isso mesmo, ou quando o ex-ministro
Teori Zavascki manteve Eduardo Cunha na presidência da Câmara até
cumprida sua missão golpista. Ou ainda na omissão, pelo STF não julgar
até hoje o mérito do impeachment de Dilma.
O outro pilar de sustentação do golpe que está na lama é a mídia.
Para 82%, o oligopólio midiático integrado por Globo, Abril, Folha e
Estadão é de pouca ou nenhuma confiança. Junto com outros veículos
satélites, eles difundiram a narrativa inicial do impeachment contra
Dilma, logo após o resultado das eleições de 2014 – quem não se lembra
do editorial de Merval Pereira?. A atuação ostensiva da TV Globo em
favor dos protestos dos manifestoches, que foram às ruas do País com a
camisa da CBF, e descobriram que, ao contrário da campanha da Fiesp,
eles é que estão pagando o pato do desemprego, da estagnação e do
retrocesso do Brasil pós-golpe.
A pesquisa Datafolha mostra de forma cristalina que o povo tem
consciência crítica do que aconteceu no Brasil, bem como sabe e condena a
irresponsabilidade de se subordinar instituições a favor de uma elite
contrária aos interesses nacionais