Na entrevista a Mariana Godoy na RedeTV, Bolsonaro passeou à vontade com seu terno fascista.
Arrancou, no máximo, risadas da entrevistadora e de seu estafeta quando defendeu, na maior, que Vladimir Herzog tinha cometido suicídio.
Essa excrescência proferida por Jair Bolsonaro deveria provocar uma onda de indignação na sociedade. Com ele, milhões estão aprendendo a pensar o impensável.
O escritor Fintan O’Toole, colunista do Irish Times, fez um belo artigo sobre Donald Trump.
Trump, diz O’Toole, está realizando ensaios fascistas que servem a dois propósitos.
“Eles acostumam os indivíduos a algo que
inicialmente rechaçariam; e também permitem que se refinam e calibrem as
ações”, escreve.
“O fascismo não surge de repente em uma
democracia consolidada. Não é fácil convencer as pessoas a desistirem de
seus ideais de liberdade e civilidade”.
Segundo O’Toole, “é preciso enfraquecer
as barreiras morais, acostumar as pessoas a aceitarem fatos de extrema
crueldade. Como os cães de caça, é preciso acostumá-las ao gosto do
sangue. Elas precisam experimentar a selvageria.”
Isso vale para Jair Bolsonaro.
Bolsonaro foi acostumando os ouvidos da audiência com ignomínias sobre negros, gays, mulheres.
A mídia ajudou a normalizar seu discurso incivilizado. Sequer é chamado de extrema direita.
O sujeito foi aplaudido numa sabatina da
Confederação Nacional da Indústria — não pelas ideias, que ele não as
tem, mas pelas bravatas.
“Não quero botar um busto do Che Guevara no Palácio do Planalto”, falou, como se isso fizesse algum sentido.
Na entrevista a Mariana Godoy na RedeTV, Bolsonaro passeou à vontade com seu terno fascista.
Arrancou, no máximo, risadas da
entrevistadora e de seu estafeta quando defendeu, na maior, que Vladimir
Herzog tinha cometido suicídio.
“Lamento a morte dele, em que
circunstância, se foi suicídio ou morreu torturado. Suicídio acontece,
pessoal pratica suicídio”, afirmou.
Herzog era “um colaborador” (do quê?) e
esse pessoal se “vitimiza”. A Anistia já resolveu tudo: “Essa é uma
história que passou”.
Há dias, a Corte Interamericana de
Direitos Humanos determinou que o Estado brasileiro apure, julgue e, se
for o caso, puna os responsáveis pela execução de Herzog.
Em outubro de 1975, o jornalista, membro do Partido Comunista Brasileiro, apresentou-se voluntariamente para depor no DOI/CODI, em São Paulo.
Foi interrogado, torturado e finalmente executado. Tinha 38 anos.
Uma farsa foi montada para simular um
suicídio. Daí a famosa foto de Herzog “enforcado” a uma altura de 1,68. O
laudo foi forjado. Seu corpo estava coberto de hematomas. O horror, o
horror.
A viúva está viva. O filho, Ivo, também.
Essa excrescência proferida por Jair Bolsonaro deveria provocar uma onda de indignação na sociedade. Não aconteceu nada.
A começar por Mariana e seu ajudante, que tocaram seu barquinho como se tivessem ouvido daquele tiozão a piada do pavê.
Milhões estão aprendendo a pensar o impensável, aponta Fintan O’Toole em seu texto.
“Eles já cruzaram, em suas mentes, os
limites da moralidade. Eles são, como Macbeth, ‘aprendizes nesse
ofício’. Entretanto, esses testes serão refinados, os resultados
analisados, os métodos aperfeiçoados, suas mensagens acentuadas. Só
então suas façanhas poderão ser realizadas”, avisa.
A barbárie está instalada. Bem-vindo.