domingo, 8 de julho de 2018

O VOTO E O VENENO


Já foi dito que o voto é a arma cidadã contra os maus feitos dos politiqueiros, mas, se mal manuseado, pode ser também a “bala perdida” explodindo na cabeça do próprio eleitor. Se você quer mais veneno em sua mesa, continue defendendo, dando ou vendendo os seus votos a esses párias da politicalha, bate-paus do agronegócio e lacaios do agrotóxico. Nesse caso, o seu voto pode ser aquela “bala perdida”, o seu cálice suicida, sua cicuta, sua dose de veneno.




Por Antonio Cavalcante Filho 


Nos últimos dois anos foram tantas as maldades praticadas contra os trabalhadores por esse desgoverno golpista que qualquer nova decisão que sai do Supremo Tribunal Federal (e da juizada Brasil afora), ou que se publica uma nova lei, eu temo pela supressão de mais direitos do cidadão.

Aqui mesmo pertinho da gente, em Jaciara, cerca de 400 famílias foram despejadas pela segunda vez em menos de três anos. São famílias de sem-terra e sem-moradia que foram jogadas à rua por uma decisão de juiz que recebe quase R$ 5 mil/mês de auxílio-moradia.

Uma triste ironia!

E agora vem a notícia de que os deputados federais, enquanto a torcida vibrava com os gols da seleção, silenciosamente driblaram a nação aprovando mais uma maldade: o “Pacote do Veneno”, liberando a utilização de produtos tóxicos de alta periculosidade nas plantações de alimentos, pondo ainda mais em risco a já tão combalida saúde pública.

O Projeto de Lei nº 6.299/2002, que veio do Senado depois de um empurrão do “Rei da Soja”, o “Moto Serra de Ouro”, Blairo Maggi, promete liberar uma porção de venenos proibidos, para serem utilizados nas lavouras, um crime sem tamanho contra a nossa população.

O Pacote do Veneno modifica muitas normas, entre elas a Lei nº 7.802, de 11 de julho de 1989, que trata da pesquisa, experimentação, produção, embalagem e rotulagem de veneno. E ainda regulamenta o transporte, o armazenamento, a comercialização, a propaganda comercial, a utilização, a importação, a exportação, o destino final dos resíduos e embalagens, o registro, a classificação, o controle, a inspeção e a fiscalização de agrotóxicos, seus componentes e afins.

De nada valeram os apelos de entidades sérias e do ramo, como a Anvisa, o Fórum Nacional de Combate aos Efeitos dos Agrotóxicos e Transgênicos, o Conselho Nacional de Saúde, o Conselho Nacional de Direitos Humanos, o Ministério Público Federal, a Aliança pela Alimentação Adequada e Saudável, Campanha Permanente contra os Agrotóxicos e pela Vida, a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura, o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor e a Associação Brasileira de Saúde Coletiva e a Associação dos Professores de Direito Ambiental do Brasil.

O Pacote do Veneno, que pretende deixar a sua vida anda pior, não teve apenas a participação de Maggi, outras figuras da política em Mato Grosso também se empapuçaram na “sustância” dessa “sopa ricamente” tóxica.

Esta maldita lei foi votada, defendida e aprovada pelos deputados federais (guarde bem esses nomes) Adilton Sachetti (PRB), Fábio Garcia (DEM), Nilson Leitão (PSDB) e Victório Galli (PSL). Com isso, sofra quem sofrer, morra quem morrer, o que não faltará neste ano eleitoral são gordos recursos encharcados de veneno em suas campanhas milionárias.

Como eu, tema você também por cada “novidade” que venha com a publicação de uma lei aprovada pela turma do Vampirão golpista, ou por uma decisão tomada por algum togado, de alto cunho ideológico e discriminatório!

Lembre-se desses irresponsáveis sempre que ver alguém sofrendo pela perda de um ente querido para o câncer, uma criança com dificuldade de respiração num posto de saúde sucateado, ou um idoso com vertigens, com dificuldades para se locomover, e que não dispõe de médicos e remédios na sua comunidade. Tudo isso é reflexo do veneno que estará exposto em nossas mesas.

Aqueles camponeses despejados de uma área em Jaciara, a que me referi no início do texto, já foram escorraçados de uma “propriedade” ligada à Amaggi porque são agricultores que lutam contra agrotóxicos.

A entidade que os representa, o MST, defende uma agricultura orgânica, que produza saúde, sem o uso de venenos que só enriquece as multinacionais do agronegócio que semeiam doenças e mortes na imensidão da terra e dos rios devastados e envenenados.

Já foi dito que o voto é a arma cidadã contra os maus feitos dos politiqueiros, mas, se mal manuseado, pode ser também a “bala perdida” explodindo na cabeça do próprio eleitor.

Se você quer mais veneno em sua mesa, continue defendendo, dando ou vendendo os seus votos a esses párias da politicalha, bate-paus do agronegócio e lacaios do agrotóxico que pensam somente no próprio umbigo, na reeleição, e esquecem das necessidades dos empobrecidos, dos interesses coletivos, do bem comum.

Nesse caso, o seu voto pode ser aquela “bala perdida”, o seu cálice suicida, sua cicuta, sua dose de veneno.

Antonio Cavalcante Filho, o Ceará, é sindicalista e escreve neste espaço às sextas-feiras - E-mail: antoniocavalcantefilho@outlook.com

Fonte RD News