domingo, 22 de julho de 2018

A "UBERIZAÇÃO" DO TRABALHO E AS ELEIÇÕES


Se “uber”, em inglês americanizado, significa “super”, “máximo”, “supremo”, “extremamente”, o imperialismo, mancomunado com a rede Globo, “uberiza” também a nossa inteligência. Somente um povo “super” alienado, “extremamente” despolitizado, midiotizado ao “máximo”, pode ser alçado à categoria de “supremo” coxinha.




Por Antonio Cavalcante Filho 


Inicialmente, o aplicativo de busca de transporte “Uber” (gíria inglesa da grafia alemã, “über”, da mesma origem do termo grego, “hupér”, “acima”, “sobre”, que, em inglês americano significa “super”, “máximo”, “supremo”, “extremamente”), se apresentou como um sistema de prestação de serviços que ofereceria aos consumidores veículos novos e motoristas bem-humorados. Mas logo se descobriu que, na realidade, o que se inaugurava ali era apenas uma nova forma de exploração de mão de obra barata.

Assim como em diversos setores do capitalismo, o aplicativo “Uber” explora , ao “máximo”, os seus “parceiros”, exclui unilateralmente aqueles que, de algum modo, questionam o sistema e amplia, ao “extremo”, a precarização das relações humanas e sociais, sem direitos trabalhistas ou a aposentadorias.

Em Mato Grosso, conheço diversos trabalhadores que se alinharam à “uberização”, disponibilizando seus veículos para esta modalidade de transporte, arcando com todos os custos: combustível, pneus, óleos, lubrificantes, revisão veicular, impostos e pagando ao dono do aplicativo cerca de 25% da receita bruta de tudo aquilo que recebem.

Não é necessário ser um “fera” em economia para deduzir que a conta não fecha. Com isso, muitos prestadores deste “serviço”, desiludidos, estão deixando o “trabalho” em estado de “super” insolvência.

O fato é que a “uberização” veio num momento em que os direitos dos trabalhadores são pisoteados e destruídos sem dó, sem misericórdia ou piedade pelo sistema golpista imposto por uma elite perversa, predatória, representada por uma classe política e empresarial de viés conservador, corrupto e fascista.

Egoístas e bestializados ao “extremo”, esses herdeiros de escravocratas, assassinos de índios, torturadores de negros e espoliadores dos pobres, não percebem que os trabalhadores são também os consumidores, que, sem uma renda adequada, cairão as vendas dos manufaturados que o seu sistema produz, sendo que no fim todo mundo sofre.

Com a destruição das leis do trabalho, pomposamente apelidada de “Reforma Trabalhista”, se permite absurdos, como o do “salário intermitente”, que é o caso do atendente de lanchonete que fica o dia inteiro trabalhando e no final do dia a sua remuneração não lhe permite comprar sequer um daqueles sanduíches que vendeu.

Com o golpe e a “uberização” do trabalho, num patamar um pouco abaixo, vêm as figuras dos “palhaços de semáforos”, os “malabaristas de rua”, disputando os mesmos espaços com os flanelinhas e os pedintes “ganhando a vida” em troca de algumas moedas, uma maneira de disfarçar o seu estado de mendicância.

Há muito tempo não se via, em Cuiabá, tantos pedintes nas ruas, de crianças e anciãos implorando uns trocados ou um pedaço de pão. E tudo isso porque o sistema de exploração capitalista imposto por essa mesma elite desumanizada assim o quis.

O golpe tramado pelo imperialismo em conluio com a corrupta e embrutecida burguesia nacional: FIESP, Rede Globo e seus satélites, Aécio//FHC/Alckmin/Serra (PSDB), Temer/Cunha (MDB) e caterva, Pauderney Avelino/Rodrigo Maia/Ronaldo Caiado/Agripino Maia/ACM Neto (DEM), Jair Bolsonaro (PSC) e companhia, setores do Ministério Público, da Polícia Federal e do Judiciário, apoiados pelo “exército” de militontos coxinhas, já têm seus números para mostrar ao mundo a maldade que fizeram ao Brasil. Os resultados não são nada bons para os trabalhadores.

Desde 2015, quando fizeram o nosso país refém do “golpitima”, esses lesa-pátrias conseguiram o fechamento de 64 mil empresas, que cerraram as portas e demitiram 2 milhões de pessoas. Só entre 2015 e 2016, caiu 1,3% o número de empresas registradas no Brasil, passando de 5.114.983 para 5.050.615. Foram demitidos 4% dos trabalhadores.

Agora, quero ver o que dizem os dirigentes das federações do comércio, da indústria e do agronegócio, que juntamente com a maçonaria e outros setores reacionários da “sociedade”, enchiam nossa paciência com suas “manifestações espontâneas”, mandando seus empregados irem às ruas vestidos com a camiseta amarela da “honestíssima” CBF para protestarem ao lado dos patos amarelos da FIESP.

Tudo isso é apenas um pequeno resumo da “uberização” do trabalho que os golpistas “presentearam” ao povo brasileiro em 2016. Agora, após afastarem a Dilma sem crime de responsabilidade, querem manter o ex-presidente Lula imobilizado e amordaçado numa masmorra para não disputar nem influir com o seu carisma, com a sua popularidade, com o seu discurso, suas propostas e credibilidade nos resultados da eleição desse ano.

É doloroso saber que os mesmos politicoides, em sua grande maioria respondendo a vários processos, os mesmos responsáveis pelo golpe, pelo roubo de direitos dos trabalhadores, pela entrega das nossas riquezas às multinacionais, serão reeleitos este ano. Ao menos é isso que revelam as pesquisas encomendadas por eles mesmos.

Se verdadeiras tais pesquisas, podemos afirmar que, se “uber”, em inglês americanizado, significa “super”, “máximo”, “supremo”, “extremamente”, o imperialismo, mancomunado com a rede Globo, “uberiza” também a nossa inteligência.

Somente um povo “super” alienado, “extremamente” despolitizado, midiotizado ao “máximo”, pode ser alçado à categoria de “supremo” coxinha.  Já somos uma nação “uberizada”? O resultado da eleição deste ano nos trará a resposta.

Antonio Cavalcante Filho, o Ceará, é sindicalista e escreve neste espaço às sextas-feiras - E-mail: antoniocavalcantefilho@outlook.com

Fonte RD News


"Todo movimento de revolta invoca tacitamente um valor... A revolta nasce do espetáculo da desrazão diante de uma condição injusta e incompreensível". (Albert Camus)