As velhas cantilenas das casernas já estão de volta, entoando por aí seus sons fúnebres que lembram ditaduras, torturas, assassinatos e desaparecimentos de corpos.
Por Antonio Cavalcante Filho
A história ainda julgará a nossa atual geração, por permitir com a nossa indiferença ou covardia a marcha à ré, gestada e parida no golpe de 2016, impondo ao nosso povo, principalmente à classe trabalhadora e aos mais pobres décadas de retrocessos políticos, sociais e econômicos que já havíamos conquistados.
A narrativa do primeiro ato começa com a derrota eleitoral para a
presidência do Brasil o combalido senador Aécio Neves, do PSDB, em 2014,
que (“para encher o saco de seus adversários”) articulou a deposição da
presidenta eleita, Dilma Roussef.
Com argumentos toscos, de ter cometido pedaladas fiscais
(palavras que até já despareceram dos noticiários da burguesia),
partidos golpistas, empresas de comunicação (mercadoras de opinião),
setores do sistema de justiça e falsos movimentos financiados por
bancos, grandes empresas nacionais e estrangeiras, derrubaram a
presidente que investigava e punia a corrupção.
A farsa do golpe, apelidado de impeachment, começou em 2 de dezembro
de 2015, quando o achacador da República, (hoje, já engaiolado),
ex-presidente da Câmara dos Deputado, Eduardo Cunha, deu início ao maior
crime contra o Estado Democrático de Direito dos últimos 52 anos. Este
assalto contra a jovem democracia, que durou 273 dias, se consumou em 31
de agosto de 2016, tendo como resultado o roubo de mais de 50 milhões
de votos que o povo brasileiro depositara na Dilma Roussef.
Hoje, se percebe que diversos políticos que participaram desde a fase
inicial do golpe já estão sendo desmascarados e alguns até punidos:
Com vergonha de pedir votos, Aécio Neves, do PSDB, para continuar com
o foro privilegiado, faz campanha em Minas Gerais disputando uma vaga
para deputado federal. Eduardo Cunha, do MDB, curte uma condenação de 15
anos de prisão por desvio de recursos públicos e lavagem de dinheiro.
José Serra e FHC, do PSDB, já tiraram o “time de campo”.
Geraldo Alckmin (PSDB) não decola nem com “reza brava”. Beto Richa
(PSDB), ex-governador do Paraná e atual candidato ao Senado, foi preso
com sua mulher, Fernanda Richa, na última terça feira, dia 11, pelo
Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) do
MP/Paraná.
O governador do Mato grosso do Sul, Reinaldo Azambuja (PSDB), é
investigado no STJ, que no dia12, quarta-feira, autorizou mandados de
busca e apreensão na sua casa e gabinete. A operação investiga
pagamentos de propina a representantes da cúpula do governo em troca de
créditos tributários a empresas. Um dos filhos do governador, Rodrigo
Silva, foi preso.
Já aqui, em Mato Grosso, o governador Pedro Taques, que, ainda no
PDT, se alinhou ao Aécio, traindo a base do governo Dilma, logo se
filiou ao PSDB, tornando-se um dos maiores defensores do “impitimismo
americanófilo golpista”. Candidato à reeleição, além de amargar uma
rejeição histórica, em toda esquina Taques precisa explicar porque
tantos assessores, um primo incluído, foram presos sob a acusação de
infrações diversas.
O Tribunal de Contas da União, que deu suporte ao golpe, através do
ex-deputado Augusto Nardes, também foi exposto, e o relator do
“golpitiman” é réu em processo por corrupção.
O segundo ato do Golpe foi abrir o “feirão” e a entrega de patrimônio
do povo brasileiro para empresas e países estrangeiros. O interessante é
que tudo isso (esse “leilão 0800”) é tocado por bandidos da pior
espécie, que atuam sob as barbas de fiscais como Raquel Dodge e Rodrigo
Janot, do Ministério Público Federal.
Lá se foi o pré-sal, parte da Petrobrás, a Eletrobrás, a Embraer,
entre tantas outras. Além do mais, os golpistas solaparam, sem dó nem
piedade, nossos direitos sociais.
Sob o argumento de que uma reforma nas leis trabalhistas teria o
efeito mágico de gerar postos de trabalho, a CLT (Consolidação das Leis
Trabalhistas) foi estuprada por Michel Temer e seus partidos aliados
(MDB, PSDB, DEM, PPS, entre outros). As despesas com escola e postos de
saúde foram congeladas por 20 anos, significando que duas gerações de
brasileiros irão ver o pronto socorro de Cuiabá nas mesmas condições
atuais.
O terceiro ato é a intervenção da ditadura judicial e dos militares
nos legítimos processos democráticos, com o desejo louco de tutelar a
vontade das pessoas. A todo custo criaram uma farsa judicial para
impedir Lula de disputar eleição. Mas ele lidera a preferência em todos
os cenários pesquisados, e se deduz que a substituição de Luis Inácio
por Fernando Haddad, este como candidato a presidente, cria francas
condições para uma eleição vitoriosa do campo popular e assim
resgatarmos a democracia que nos foi roubada.
A verdade é que os setores retrógrados da vida nacional não suportam a
democracia, nem aceitam a vontade popular. Há alguns anos observamos
chantagens na eleição, com alguns fascistas inventando falsos problemas
para dar soluções midiáticas.
As velhas cantilenas das casernas já estão de volta, entoando por aí
seus sons fúnebres que lembram ditaduras, torturas, assassinatos e
desaparecimentos de corpos. Foi contra tudo isso que, ao defender a
inviolabilidade da pessoa humana em plena ditadura militar, Alencar
Furtado chamava-nos a atenção para os lares em prantos dos “órfãos do
talvez ou do quem sabe”, dos filhos de pais vivos — quem sabe — mortos,
talvez. Das esposas que enviuvavam com maridos vivos, talvez; ou
mortos, quem sabe? Viúvas do quem sabe ou do talvez. ”
Francamente, é esse o tipo de rescaldo do golpe que devemos combater com todas as forças.
Viva a Democracia!
Antonio Cavalcante Filho, o Ceará, é sindicalista e
escreve neste espaço às sextas-feiras - E-mail:
antoniocavalcantefilho@outlook.com