Enquanto ecoavam os brados retumbantes de um povo heroico nas ruas, nas praças, nas sarjetas: “Eu sou Lula”! “Somos Milhões de Lula”! ”Lula Livre”! Lá, no suntuoso Templo da decrépita Themis, empoeiradas múmias de capas pretas, batiam o martelo do opressor: Morte à Independência!
RD News
Por Antonio Cavalcante filho
Estamos chegando a quase 200 anos da data em que dizem que “ecoou”
nas “Margens Plácidas do Ipiranga” o “grito retumbante”, tão decantado
em versos e prosas: “Independência ou Morte”! No primário, nos ensinam
que a partir daí deixamos de ser colônia de Portugal. Aquele “evento
festivo”, que ainda hoje se comemora, completa nesta sexta-feira, 7 de
setembro, 198 anos.
Sessenta e sete anos depois do tal “Grito”, com as relações dos
Reinos do Brasil e de Portugal ainda estremecidas, uma cúpula militar e
a aristocracia rural e semifeudal brasileira, com um golpe de
estado, adotariam, em 15 de novembro de 1889, um regime “republicano”
moldado na medida exata para atender às satisfações, os “direitos” e
privilégios da mais “fina flor” dos que se impuseram como os “novos”
donos do poder.
Esta mesma elite, em todos estes anos, de golpe em golpe,
quase sempre de caráter antinacional, antipopular, antidemocrático e
pró-imperialista, jamais deixaria espaço para que a classe trabalhadora
tivesse o protagonismo da história e da política.
Hoje, vendo o Brasil sangrar mais uma vez com o golpe de 2016,
forjado num conluio da aristocracia financeira interna e externa, da
mídia, de parlamentares fisiológicos e de setores do sistema de justiça,
que deveriam zelar pelo estado Democrático, precisamos refletir até que
ponto temos de fato uma independência.
O nosso país é formado, em sua maioria, por negros e pardos. De
acordo com o IBGE, na pesquisa realizada em 2012, quando a população do
país era estimada em 198,7 milhões de pessoas, os brancos eram a maioria
da população (46,6%), os pardos representavam 45,3% do total, e os
pretos somavam 7,4%.
Na coleta de dados seguinte, no ano de 2016, a população brasileira
saltou para 205,5 milhões de habitantes (aumento de 3,4% em relação à
pesquisa anterior), e os brancos deixaram de ser maioria, representando
44,2% (queda de 1,8%). Os pardos passaram a representar a maior parte da
população do Brasil (46,7%), um aumento de 6,6%, e os pretos são agora
8,2% do total de brasileiros.
Ou seja, a população autodeclarada branca no Brasil é minoria, então,
por que não possuímos uma relação maior e mais sólida com os países
africanos, que possuem tradições culturais que influenciaram na vida
brasileira? Por que não podemos estabelecer centros de pesquisas em
comum, universidades com projetos de parcerias, e mesmo o intercâmbio
estudantil não é fomentado?
Lembro-me de que, quando o Brasil celebrou convênio para trazer
médicos cubanos ao país, depois de tentar a vinda de profissionais
espanhóis, e ainda de ter sido malsucedido na tentativa de levar jovens
médicos brasileiros recém-formados para as cidades interioranas, os
cubanos, negros em sua maioria, eram vaiados nos aeroportos por uma
claque de brancos com jalecos da mesma cor.
Corei de vergonha alheia!
Com a “independência” da colonização do Reino de Portugal, ocorrida
há dois séculos, não significou que ficamos independentes de outros
“reinos” ou de novos impérios. No caso atual, somos lacaios dos Estados
Unidos. Nosso país sempre foi dirigido por uma elite branca e
escravocrata, corrupta, lesa-pátria e anti-povo. Uma minoria truculenta,
que pela força se apoderou do estado para satisfazer suas cobiças, suas
perversidades.
Foi graças a esta velha casta dominante, com o apoio de instituições
formais como a Rede Globo de Televisão e seus satélites, de partidos
como o MDB, PSDB e DEM, dos nanicos e das chamadas siglas de aluguel, de
bancos como o Itaú e de industriais da FIESP, de setores informais como
a Lava jato e de membros da magistratura, do Ministério Público e da
maçonaria, que o Brasil sofreu mais um golpe contra a Democracia e seu
povo.
Para essa minoria insensível e autoritária, que fala a língua do
capitalismo e com algum sotaque europeu, a morte da independência do
Brasil é seu objeto de desejo, pois querem nos deixar cada vez mais
dependentes dos interesses econômicos, políticos e culturais do
imperialismo, nos acorrentando para sempre aos seus interesses, egoísmos
e ambições.
E tudo isso é para continuar com o privilégio de acumular cada vez
mais fortunas, viajar à Disneylândia com regularidade, usufruir de
férias na Europa, de preferência nas cidades badaladas e chiques,
enquanto a população brasileira, pela Lei da Terceirização e Reforma
Trabalhista volta à escravização, sem seus direitos duramente
conquistados ao longo dos últimos 100 anos.
Com o congelamento de verbas da saúde e educação por vinte anos, os
golpistas nos condenam à morte, ao analfabetismo e à ignorância. Enfim,
para a grande maioria da classe trabalhadora, assim como já acontecia
antes da abolição, só resta agora continuar recebendo em seu lombo as
“borrachadas” da polícia como a única presença estatal em sua vida.
Portanto, a velha elite escravocrata sabe que não existe
independência sem justiça, sem igualdade, sem direitos, sem liberdade. É
por isso que, enquanto ecoavam os brados retumbantes de um povo heroico
nas ruas, nas praças, nas sarjetas: “Eu sou Lula”! “Somos Milhões de
Lula”! ”Lula Livre”! Lá, no suntuoso Templo da decrépita Themis,
empoeiradas múmias de capas pretas, batiam o martelo do opressor: Morte à
Independência!
Antonio Cavalcante Filho, o Ceará, é sindicalista e
escreve neste espaço às sextas-feiras - E-mail:
antoniocavalcantefilho@outlook.com