segunda-feira, 10 de setembro de 2018

MORTE À INDEPENDENCIA!


Enquanto ecoavam os brados retumbantes de um povo heroico nas ruas, nas praças, nas sarjetas: “Eu sou Lula”! “Somos Milhões de Lula”! ”Lula Livre”! Lá, no suntuoso Templo da decrépita Themis, empoeiradas múmias de capas pretas, batiam o martelo do opressor: Morte à Independência! 





 RD News

 Por Antonio Cavalcante filho


Estamos chegando a quase 200 anos da data em que dizem que “ecoou” nas “Margens Plácidas do Ipiranga” o “grito retumbante”, tão decantado em versos e prosas: “Independência ou Morte”! No primário, nos ensinam que a partir daí deixamos de ser colônia de Portugal. Aquele “evento festivo”, que ainda hoje se comemora, completa nesta sexta-feira, 7 de setembro, 198 anos.
 
Sessenta e sete anos depois do tal “Grito”, com as relações dos Reinos do Brasil e de Portugal ainda estremecidas, uma cúpula militar e a aristocracia rural e semifeudal brasileira, com um golpe de estado, adotariam, em 15 de novembro de 1889, um regime “republicano” moldado na medida exata para atender às satisfações, os “direitos” e privilégios da mais “fina flor” dos que se impuseram como os “novos” donos do poder.

Esta mesma elite, em todos estes anos, de golpe em golpe, quase sempre de caráter antinacional, antipopular, antidemocrático e pró-imperialista, jamais deixaria espaço para que a classe trabalhadora tivesse o protagonismo da história e da política.

Hoje, vendo o Brasil sangrar mais uma vez com o golpe de 2016, forjado num conluio da aristocracia financeira interna e externa, da mídia, de parlamentares fisiológicos e de setores do sistema de justiça, que deveriam zelar pelo estado Democrático, precisamos refletir até que ponto temos de fato uma independência.

O nosso país é formado, em sua maioria, por negros e pardos. De acordo com o IBGE, na pesquisa realizada em 2012, quando a população do país era estimada em 198,7 milhões de pessoas, os brancos eram a maioria da população (46,6%), os pardos representavam 45,3% do total, e os pretos somavam 7,4%.

Na coleta de dados seguinte, no ano de 2016, a população brasileira saltou para 205,5 milhões de habitantes (aumento de 3,4% em relação à pesquisa anterior), e os brancos deixaram de ser maioria, representando 44,2% (queda de 1,8%). Os pardos passaram a representar a maior parte da população do Brasil (46,7%), um aumento de 6,6%, e os pretos são agora 8,2% do total de brasileiros.

Ou seja, a população autodeclarada branca no Brasil é minoria, então, por que não possuímos uma relação maior e mais sólida com os países africanos, que possuem tradições culturais que influenciaram na vida brasileira? Por que não podemos estabelecer centros de pesquisas em comum, universidades com projetos de parcerias, e mesmo o intercâmbio estudantil não é fomentado?

Lembro-me de que, quando o Brasil celebrou convênio para trazer médicos cubanos ao país, depois de tentar a vinda de profissionais espanhóis, e ainda de ter sido malsucedido na tentativa de levar jovens médicos brasileiros recém-formados para as cidades interioranas, os cubanos, negros em sua maioria, eram vaiados nos aeroportos por uma claque de brancos com jalecos da mesma cor.

Corei de vergonha alheia!

Com a “independência” da colonização do Reino de Portugal, ocorrida há dois séculos, não significou que ficamos independentes de outros “reinos” ou de novos impérios. No caso atual, somos lacaios dos Estados Unidos. Nosso país sempre foi dirigido por uma elite branca e escravocrata, corrupta, lesa-pátria e anti-povo. Uma minoria truculenta, que pela força se apoderou do estado para satisfazer suas cobiças, suas perversidades.

Foi graças a esta velha casta dominante, com o apoio de instituições formais como a Rede Globo de Televisão e seus satélites, de partidos como o MDB, PSDB e DEM, dos nanicos e das chamadas siglas de aluguel, de bancos como o Itaú e de industriais da FIESP, de setores informais como a Lava jato e de membros da magistratura, do Ministério Público e da maçonaria, que o Brasil sofreu mais um golpe contra a Democracia e seu povo.

Para essa minoria insensível e autoritária, que fala a língua do capitalismo e com algum sotaque europeu, a morte da independência do Brasil é seu objeto de desejo, pois querem nos deixar cada vez mais dependentes dos interesses econômicos, políticos e culturais do imperialismo, nos acorrentando para sempre aos seus interesses, egoísmos e ambições.

E tudo isso é para continuar com o privilégio de acumular cada vez mais fortunas, viajar à Disneylândia com regularidade, usufruir de férias na Europa, de preferência nas cidades badaladas e chiques, enquanto a população brasileira, pela Lei da Terceirização e Reforma Trabalhista volta à escravização, sem seus direitos duramente conquistados ao longo dos últimos 100 anos.

Com o congelamento de verbas da saúde e educação por vinte anos, os golpistas nos condenam à morte, ao analfabetismo e à ignorância.  Enfim, para a grande maioria da classe trabalhadora, assim como já acontecia antes da abolição, só resta agora continuar recebendo em seu lombo as “borrachadas” da polícia como a única presença estatal em sua vida.

Portanto, a velha elite escravocrata sabe que não existe independência sem justiça, sem igualdade, sem direitos, sem liberdade. É por isso que, enquanto ecoavam os brados retumbantes de um povo heroico nas ruas, nas praças, nas sarjetas: “Eu sou Lula”! “Somos Milhões de Lula”! ”Lula Livre”! Lá, no suntuoso Templo da decrépita Themis, empoeiradas múmias de capas pretas, batiam o martelo do opressor: Morte à Independência!

Antonio Cavalcante Filho, o Ceará, é sindicalista e escreve neste espaço às sextas-feiras - E-mail: antoniocavalcantefilho@outlook.com

Fonte RD News


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