sábado, 27 de outubro de 2018

O BRASIL PERDEU A ELEIÇÃO PARA A FRAUDE


Uma eleição que não oferece aos cidadãos um debate limpo, olho no olho, entre os candidatos para que avaliem com profundidade a desenvoltura, capacidade e sinceridade que os postulantes fazem na defesa dos seus projetos é ardilosa, é de má fé, é uma fraude. 




Por Antonio Cavalcante Filho 


Após uns quarenta anos militando nos movimentos sociais, 18 deles no movimento de combate à corrupção eleitoral, a conclusão que chego, faltando três dias para a eleição, é que seja qual for o resultado das urnas, o Brasil já é o maior perdedor. É inegável que este ano vivemos uma situação vexaminosa de ilegalidades eleitorais e de atentados à democracia, que já prenunciam tempos difíceis que virão.

O que percebo neste pleito me faz pensar que todos os crimes eleitorais que tenho visto até hoje, como o corriqueiro uso da maquina administrativa, a compra de voto e o abuso do poder econômico (caixa dois) são coisinhas pequeninas de ladrõezinhos de galinhas, de batedorzinhos de carteiras e de pivetes cheira-cola, comparados à monstruosa barbarização, depravação, corrupção e impunidade escancarada durante o curso eleitoral de 2018.

Enquanto uma odienta organização plutocrata, autoritária, sanguinária, belicosa, submissa aos interesses imperialistas arquiteta a consolidação do golpe de 2016, orquestrado por um conluio de bandidos, a mais alta corte do poder judiciário parece dormir em berço esplêndido. É como se não quisesse captar as ondas sonoras dos dias sombrios que nos espreitam.

A velha Temis, que antes se fazia de cega, agora também faz ouvido mouco. Ela faz de conta que não ver a violência galopando solta no cavalo besta-fera do fascismo, ameaçando opositores, movimentos sociais, minorias e até ceifando vidas pelas campinas brasileiras. O judiciário, até à semana passada, parecia não querer ouvir nem mesmo os latidos das cadelas raivosas do bolsonarismo contra membros da sua própria corte.

Se, de um lado, o parlamentar filho do Jair Bolsonaro promete fechar o STF, apenas com um cabo e/ou um soldado, e “mandar prender” ministros do Supremo, por outro, um coronel do exercito nazi-bolsonarista chama a ministra Rosa Weber de “vagabunda”, “salafrária”, “corrupta” e “incompetente”. Não satisfeito ainda ameaça: se seu candidato não for eleito, haverá um banho de sangue neste país antes do fim do ano. Uma barbárie.

Há poucos dias, um gigantesco crime eleitoral de caixa 2 foi revelado ao país, com mais de 150 empresas doando ilegalmente para o candidato da extrema direita, sob os olhos complacentes do Tribunal Superior Eleitoral.

Há meses, milhões de reais em dinheiro sujo vinham sendo gastos com confecção de outdoors, camisetas, divulgação de fake news, como o inexistente “kitgay” e incontáveis mensagens falsas no WhatsApp e Facebook. Tudo isso para influenciar o eleitor a votar num politicoide mentiroso.

Pelas sucessivas peripécias de ilicitudes observadas até aqui, desde o golpe de 2016, com o afastamento da presidente Dilma, passando pela condenação e prisão do Lula, nada mais podemos esperar desta eleição, a não ser o apogeu do enxovalhamento da Constituição, conseqüentemente a morte da nossa tão debilitada democracia.

Desde 2006, com a Lei nº 11.300/2016, ficou proibida a distribuição de chaveiros, bonés, camisetas, outdoors e a realização dos showmícios. Mas o que vemos em 2018? Outdoors de campanha do candidato do ódio espalhados por todo o país (não era movimento espontâneo, a arte [layout] era padronizada), a juizada não pode alegar ignorância quanto ao delito em questão. Eleições em que infrações como estas não são puníveis, são campos fecundantes para as fraudes.

Cazuza dizia que ”a burguesia fede”. Mas, no campo da democracia burguesa, o fedor é bem maior. Tudo nela exala o odor pútrido da fraude. A mesma lei que extinguiu o financiamento empresarial de campanha, por exemplo, permitiu aos endinheirados financiarem suas próprias campanhas. Tal “lei”, que admite o desequilíbrio de recursos na disputa eleitoral, é fraudulenta.

Uma eleição que não oferece aos cidadãos um debate limpo, olho no olho, entre os candidatos para que avaliem com profundidade a desenvoltura, capacidade e sinceridade que os postulantes fazem na defesa dos seus projetos é ardilosa, é de má fé, é uma fraude.

Na disputa política, o debate entre propostas antagônicas é vital à democracia. Um candidato que posa de valentão, mas se acovarda fugindo do confronto de idéias, é um bufão fracalhão, é um frouxo, é uma fraude. Um político com mais de trinta anos de vida publica que nada produziu para a população, e se apresenta como o “novo”, como o “salvador da pátria”, é um farsante, é uma mentira, é uma fraude.

Alguém que, participando do jogo democrático eleitoral para presidente, faz apologia ao golpismo, vangloria ditaduras, defende a tortura, ameaça prender e expatriar seus opositores, não é um democrata, é um ditador, é um fascista, é uma fraude. Um político que pede votos ao povo e vota contra os interesses nacionais, contra direitos dos trabalhadores, contra recursos para a educação e saúde pública é um traidor, é um dissimulado é uma fraude.

O golpe já lesou a democracia. Lesar é fraudar. Por isso, eu grito: “Ele Não”! Ele é o golpe! Ele é a fraude!

Antonio Cavalcante Filho, o Ceará, é sindicalista e escreve neste espaço às sextas-feiras - E-mail: antoniocavalcantefilho@outlook.com




NA HORA "H" EU, VOCÊ E TODOS NÓS VAMOS VOTAR 13