Uma eleição que não oferece aos cidadãos um debate limpo, olho no olho, entre os candidatos para que avaliem com profundidade a desenvoltura, capacidade e sinceridade que os postulantes fazem na defesa dos seus projetos é ardilosa, é de má fé, é uma fraude.
Por Antonio Cavalcante Filho
Após uns quarenta anos militando nos movimentos sociais, 18 deles no
movimento de combate à corrupção eleitoral, a conclusão que chego,
faltando três dias para a eleição, é que seja qual for o resultado das
urnas, o Brasil já é o maior perdedor. É inegável que este ano vivemos
uma situação vexaminosa de ilegalidades eleitorais e de atentados à
democracia, que já prenunciam tempos difíceis que virão.
O que percebo neste pleito me faz pensar que todos os crimes
eleitorais que tenho visto até hoje, como o corriqueiro uso da maquina
administrativa, a compra de voto e o abuso do poder econômico (caixa
dois) são coisinhas pequeninas de ladrõezinhos de galinhas, de
batedorzinhos de carteiras e de pivetes cheira-cola, comparados à
monstruosa barbarização, depravação, corrupção e impunidade escancarada
durante o curso eleitoral de 2018.
Enquanto uma odienta organização plutocrata, autoritária,
sanguinária, belicosa, submissa aos interesses imperialistas arquiteta a
consolidação do golpe de 2016, orquestrado por um conluio de bandidos, a
mais alta corte do poder judiciário parece dormir em berço esplêndido. É
como se não quisesse captar as ondas sonoras dos dias sombrios que nos
espreitam.
A velha Temis, que antes se fazia de cega, agora também faz ouvido
mouco. Ela faz de conta que não ver a violência galopando solta no
cavalo besta-fera do fascismo, ameaçando opositores, movimentos sociais,
minorias e até ceifando vidas pelas campinas brasileiras. O judiciário,
até à semana passada, parecia não querer ouvir nem mesmo os latidos das
cadelas raivosas do bolsonarismo contra membros da sua própria corte.
Se, de um lado, o parlamentar filho do Jair Bolsonaro promete fechar o
STF, apenas com um cabo e/ou um soldado, e “mandar prender” ministros
do Supremo, por outro, um coronel do exercito nazi-bolsonarista chama a
ministra Rosa Weber de “vagabunda”, “salafrária”, “corrupta” e
“incompetente”. Não satisfeito ainda ameaça: se seu candidato não for
eleito, haverá um banho de sangue neste país antes do fim do ano. Uma
barbárie.
Há poucos dias, um gigantesco crime eleitoral de caixa 2 foi revelado
ao país, com mais de 150 empresas doando ilegalmente para o candidato
da extrema direita, sob os olhos complacentes do Tribunal Superior
Eleitoral.
Há meses, milhões de reais em dinheiro sujo vinham sendo gastos com
confecção de outdoors, camisetas, divulgação de fake news, como o
inexistente “kitgay” e incontáveis mensagens falsas no WhatsApp e
Facebook. Tudo isso para influenciar o eleitor a votar num politicoide
mentiroso.
Pelas sucessivas peripécias de ilicitudes observadas até aqui, desde o
golpe de 2016, com o afastamento da presidente Dilma, passando pela
condenação e prisão do Lula, nada mais podemos esperar desta eleição, a
não ser o apogeu do enxovalhamento da Constituição, conseqüentemente a
morte da nossa tão debilitada democracia.
Desde 2006, com a Lei nº 11.300/2016, ficou proibida a distribuição
de chaveiros, bonés, camisetas, outdoors e a realização dos showmícios.
Mas o que vemos em 2018? Outdoors de campanha do candidato do ódio
espalhados por todo o país (não era movimento espontâneo, a arte
[layout] era padronizada), a juizada não pode alegar ignorância quanto
ao delito em questão. Eleições em que infrações como estas não são
puníveis, são campos fecundantes para as fraudes.
Cazuza dizia que ”a burguesia fede”. Mas, no campo da democracia
burguesa, o fedor é bem maior. Tudo nela exala o odor pútrido da fraude.
A mesma lei que extinguiu o financiamento empresarial de campanha, por
exemplo, permitiu aos endinheirados financiarem suas próprias campanhas.
Tal “lei”, que admite o desequilíbrio de recursos na disputa eleitoral,
é fraudulenta.
Uma eleição que não oferece aos cidadãos um debate limpo, olho no
olho, entre os candidatos para que avaliem com profundidade a
desenvoltura, capacidade e sinceridade que os postulantes fazem na
defesa dos seus projetos é ardilosa, é de má fé, é uma fraude.
Na disputa política, o debate entre propostas antagônicas é vital à
democracia. Um candidato que posa de valentão, mas se acovarda fugindo
do confronto de idéias, é um bufão fracalhão, é um frouxo, é uma fraude.
Um político com mais de trinta anos de vida publica que nada produziu
para a população, e se apresenta como o “novo”, como o “salvador da
pátria”, é um farsante, é uma mentira, é uma fraude.
Alguém que, participando do jogo democrático eleitoral para
presidente, faz apologia ao golpismo, vangloria ditaduras, defende a
tortura, ameaça prender e expatriar seus opositores, não é um democrata,
é um ditador, é um fascista, é uma fraude. Um político que pede votos
ao povo e vota contra os interesses nacionais, contra direitos dos
trabalhadores, contra recursos para a educação e saúde pública é um
traidor, é um dissimulado é uma fraude.
O golpe já lesou a democracia. Lesar é fraudar. Por isso, eu grito: “Ele Não”! Ele é o golpe! Ele é a fraude!
Antonio Cavalcante Filho, o Ceará, é sindicalista e
escreve neste espaço às sextas-feiras - E-mail:
antoniocavalcantefilho@outlook.com
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