Os mercados têm tremores e os empresários fascistas gozam. Doutores apoiam os partidários da tortura. Como evitar o mergulho nas trevas do ódio e da irracionalidade?
Por Rosemberg Cariry
Estranho tempo este em que nos encontramos diante do avanço das
forças do conservadorismo e do fascismo, representadas por um candidato
de extrema direita e pela devoção e fúria cega dos seus seguidores, que
apresentam semelhança com a tensão obscura das milícias nazistas na
década de 1930, na preparação dos holocaustos, das torturas e das
guerras. Nas carreatas, os “milicianos-bolsonaristas” apontam armas e/ou
fazem das próprias mãos armas, em gesto portador de ameaças claras
dirigidas aos seus opositores. Mãos que poderiam afagar e construir
transformam-se em símbolos da ameaça de morte e da intolerância. Gritam
palavras de ódio contra mulheres, negros, índios e gays.
Triste e obscuro tempo, onde muitos médicos, advogados, engenheiros e
outros profissionais liberais, não obstante seus cursos universitários,
perfilam ao lado da irracionalidade, ao apoiar a extrema direita e seus
slogans e “vivas” à tortura e à morte. Os homens da lei rasgam a
Constituição e manipulam decisões, em conformidade com suas ideologias
conservadoras e os interesses das classes dominantes e do mercado.
Alguns empresários judeus, em traição à memória das vítimas dos
totalitarismos, apoiam a ideologia despótica e racista. O mercado tem
tremores e os empresários fascistas gozam. A Globo e a velha imprensa
manipulam corações e mentes. Muitos pastores, com suas contas bancárias
abarrotadas de dinheiro arrancados dos fiéis apavorados, invocam Deus
para as novas cruzadas do ódio, subvertendo as pregações de Cristo em
prol do amor e da justa dignidade do homem. Está escancarado o fracasso
de uma civilização feita de destroços, de ruínas, da reedição de ódios e
de violências, de retrocessos. O grande reino do egoísmo e da
exploração do homem pelo homem se fortalece. As engrenagens perversas do
capitalismo devoram o que de humano resta no homem.
Assim como os indivíduos, as nações também adoecem e são capazes de
suicídios históricos. A opção autoritária e de extrema direita parece-me
isso: um mergulho nas trevas do ódio e da irracionalidade. Um suicídio
coletivo que parece ser indicativo do fracasso das nossas principais
instituições. A maioria das nossas escolas não forma seres humanos para a
solidariedade e para a liberdade, mas apenas para a competição, o
lucro, o preconceito, a pulsão da morte e a hegemonia das sombras.
Acredito que quem transforma o seu voto em instrumento do ódio não está
apenas tentando destruir o outro, mas está destruindo a si mesmo,
enquanto projeto de humanidade. Afinal, ser humano é uma construção, a
mais difícil e demorada de todas as construções.
Fonte Outras Palavras