É vergonhoso para um país que, no começo deste século, cresceu economicamente, soube se relacionar igualmente com todos os países do mundo e adquiriu enorme prestígio internacional, ter agora um governo que faz questão de ser subordinado aos interesses do governo Donald Trump.
Talvez não vem ao caso a continência prestada para a bandeira dos Estados Unidos e o boné de apoio ao Trump em 2020, mas esse claro objetivo de entregar o Brasil como uma simples colônia americana trará prejuízos irreversíveis ao país.
Othoniel Pinheiro Neto*
A capacidade de recuperação da economia brasileira está praticamente arruinada com as vergonhosas medidas entreguistas e temerárias de Michel Temer e de Jair Bolsonaro,
que estão minando o poder de compra do povo brasileiro, desarticulando
os órgãos responsáveis pelas medidas de redistribuição de renda,
entregando nossas riquezas e nosso patrimônio a preço de banana para a
agiotagem internacional, outorgando privilégios ao mercado financeiro e
concedendo absurdas isenções (em um só leilão do petróleo, o Brasil
abriu mão de um trilhão de reais de receitas).
Adicione-se ao fato da destruição da capacidade de investimento do Estado brasileiro com a vergonhosa “PEC do Teto dos Gastos” ou Emenda Constitucional nº 95,
que limita o crescimento dos investimentos públicos ao índice de
inflação, impedindo os investimentos mesmo que exista caixa para tanto.
Jessé Souza, com uma maestria e uma precisão poucas
vezes antes vistas na história do Brasil, afirma que o povo brasileiro é
feito de imbecil para pensar que a corrupção principal do país está na
política. Em verdade, afirma Jessé, o sistema político inteiro é montado
para ser corrupto e, principalmente, para ser comprado pelo mercado,
que é o principal protagonista da verdadeira corrupção do país na
relação da compra do Estado pela economia. Adiciona o autor, que essa
rede de rapinagem do mercado tem a proteção, inclusive, do Poder
Judiciário brasileiro, que fecha os olhos para esse tipo de corrupção,
simplesmente, como já afirmou o Senador Roberto Requião, por ser um
enfretamento que não dá Ibope, uma vez que não possui eco na conivente
grande mídia brasileira.
Entretanto, esse poder do mercado deverá, no
governo Jair Bolsonaro, adquirir particularidades e radicalizações ainda
mais alarmantes e perigosas.
Não é só pelo fato de Jair Bolsonaro ser o
escudeiro medieval assumido da verdadeira e obscura face da corrupção
(banqueiros, grandes empresários, mercado etc.). É que as medidas já
anunciadas pela equipe de seu governo ultrapassam em muito as ideias
liberais para adentrar no simples e ridículo entreguismo, aliadas a
estratégias de desmonte completo do Estado de Bem-estar Social.
Trata-se da nova fase do colonialismo mundial, em que a colonização da América Latina é essencial para os Estados Unidos na guerra comercial com a China.
Não é preciso muito esforço para perceber que o
alinhamento dos governos Trump e Bolsonaro não vai dar coisa boa para o
Brasil por uma simples questão: Trump é protecionista e Bolsonaro é
entreguista.
Nesse contexto, a turma do Steve Bannon, americano ligado a Donald Trump e arquiteto das Fakes News das eleições de 2018,
está cobrando a fatura pela vitória de Bolsonaro. E isso fica claro em
quase todas as medidas já anunciadas pela equipe do novo governo.
São medidas que passam pela inconsequente e
irresponsável mudança da embaixada brasileira para Jerusalém, pelo
desprezo das relações comerciais com a China e com o MERCOSUL,
pela rapinagem travestida de privatização, pela destruição do
Ministério do Trabalho e pelo constrangedor papel de capacho a fim de
garantir que os Estados Unidos metam a mão na maior reserva de petróleo
do mundo, que é a Venezuela.
As Fakes News do Kit Gay,
da mamadeira de piroca, da doutrinação comunista nas escolas e outras
que atacavam o Partido dos Trabalhadores substituíram o debate público
de propostas, que foi tomado com uma cegueira inexplicável aos olhos do
mundo.
É vergonhoso para um país que, no começo deste
século, cresceu economicamente, soube se relacionar igualmente com todos
os países do mundo e adquiriu enorme prestígio internacional, ter agora
um governo que faz questão de ser subordinado aos interesses do governo
Donald Trump.
Talvez não vem ao caso a continência prestada para a bandeira dos Estados Unidos e o boné de apoio ao Trump em 2020, mas esse claro objetivo de entregar o Brasil como uma simples colônia americana trará prejuízos irreversíveis ao país.
Enfim, os autores desse projeto de colonização
sabem que não há como explorar um país sem a construção de uma cultura
de pacificidade, de manipulação e de adestramento da população
brasileira.
Cabe agora, aos brasileiros que não foram tomados
pela cegueira bolsonarista, agir com inteligência e racionalidade,
sabendo construir as bases de uma resistência planejada e articulada.
*Othoniel Pinheiro Neto é Doutor em
Direito pela UFBA, Defensor Público do Estado de Alagoas, Professor de
Direito Constitucional e colaborou para Pragmatismo Político
Fonte Pragmatismo Político