Há algum risco de ocorrer, no Brasil de Bolsonaro, o que ocorreu no Peru de Fujimori? Creio que sim, porque estamos abandonando a opção democrática para instalar de vez um estado policial, com a opressão, o enxovalhamento do estado Democrático de Direito, onde a transparência da administração não existe e a maior corrupção de todas – a falta de liberdade – parece ser a tônica.
Pense nisso!
RD News
Por Antonio Cavalcante Filho
Na virada do século XX para o XXI, pela primeira vez na história, o governo brasileiro deu efetiva atenção ao problema da secular corrupção, principalmente na administração pública que já vinha se perpetuando desde o Brasil Colônia. Para inibir a atuação dos maus agentes e puni-los, novas leis foram criadas e aprovadas nos governos Lula/Dilma.
Por Antonio Cavalcante Filho
Na virada do século XX para o XXI, pela primeira vez na história, o governo brasileiro deu efetiva atenção ao problema da secular corrupção, principalmente na administração pública que já vinha se perpetuando desde o Brasil Colônia. Para inibir a atuação dos maus agentes e puni-los, novas leis foram criadas e aprovadas nos governos Lula/Dilma.
Foi a partir daí que, mancomunados com interesses imperialistas,
setores da extrema direita, grandes latifundiários, banqueiros,
poderosos empresários, mídia corporativa burguesa e muita “gente de
bem”, aproveitando o apelo popular da agenda de combate à corrupção,
começaram a destruir direitos, empresas e, mais recentemente, entregando
a soberania do Brasil aos gringos, destruindo as bases de nossa
indústria e da nossa economia.
O Brasil já está pagando um alto preço pelo exacerbado
“estado policial” em que vivemos, e pelos ditadores travestidos em pele
de justiceiros que povoam o cenário nacional em todos os espaços da vida
pública.
Sem querer chutar cachorro morto, lembro o exemplo do governador
Pedro Taques, que, na carona de uma representação contra Arcanjo,
abandonou o Ministério Público ingressando na política. Eleito, se
revelou uma tragédia sob todos os aspectos que se analise: péssimo
gestor, teve secretários presos no curso do mandato, inclusive
familiares dele foram recolhidos ao cárcere.
Por isso, faço aqui um alerta sobre o Jair Bolsonaro, oferecendo aos
leitores um “vai dar ruim” com base na informação histórica e nas
experiências recentes ocorridas na América do Sul. Farei, neste espaço,
uma narrativa sobre fatos reais e de coisas que já aconteceram. Nada
aqui é hipotético.
Vamos aos fatos:
Ocasionado pelas repetidas crises do capitalismo, o país viveu
colapsos econômicos durante os últimos anos. Daí, elege um presidente
que aplica um choque econômico com a intenção de organizar a economia
sem medir o seu custo social. Com isso, afrouxou as regras para o setor
privado, diminuiu a atuação das agências reguladoras e retira o controle
dos preços administrados, reduzindo subsídios e empregos públicos.
Afastou os controles de capitais e as restrições aos investimentos dos
bancos estrangeiros, permitiu importações de bens supérfluos e
simplificou a cobrança de impostos.
Num primeiro momento, essas medidas contribuíram para o crescimento
econômico, o que é diferente de desenvolvimento econômico (distribuição
de renda, diminuição da pobreza), uma vez que a perda de direitos
sociais e a queda do poder de compra dos trabalhadores, que movimenta o
mercado interno, trouxeram mais problemas e angústias à população ao
achatar os salários, provocando os maiores índices de desemprego do
país.
Logo mais, começaram os escândalos com a revelação do envolvimento
dos figurões de proa do governo em atos de corrupção e fascismo.
Acossado pelas críticas da opinião pública e de opositores,
ele dissolveu o Congresso, fechou o Poder Judiciário, o Ministério
Público, o Tribunal Constitucional e o Conselho da Magistratura. Com o
apoio incondicional das Forças Armadas, que lhe garantiu o poder “pelo
medo” e, graças ao seu estilo autoritário, inventou o que veio a se
chamar Autogolpe.
Para aparecer bem na foto, ele captura o líder do grupo armado que se
opunha ao governo, mas, com isso, começa a enfrentar o problema do
sequestro de autoridades estrangeiras em seu território, expondo a
fragilidade de sua gestão.
Após tantas medidas antidemocráticas neste país, ele passa a ser
considerado uma ditadura, de fato e de direito, acusado de perseguir,
prender, torturar, sequestrar e matar opositores com o aparato militar,
com apoio de uma rede de veículos de imprensa sensacionalistas e das
mídias sociais. Por fim, para “acabar com a pobreza”, foi acusado de
esterilizar sem consentimento (à força) mais de 300 mil mulheres, a
maioria delas descendente de indígenas.
A esta altura, alguém já deve estar se perguntando: mas que diacho de país é esse?
Alguns fatos desta narrativa já ocorreram também, no Brasil, lá nos
anos de chumbo da Ditadura Militar, entre as décadas de 60 e 70. Porém,
estou falando de um país vizinho, o Peru, que durante a ditadura de
Alberto Fujimori governou de 28 de julho de 1990 a 17 de novembro de
2000,cometendo toda espécie de atrocidades contra o seu povo.
Fujimori chegou ao governo pelas vias democráticas, mas proclamou o
Autogolpe, desfigurando toda a organização política e administrativa,
acabando com o judiciário, o ministério público, fechando o congresso
e suspendendo as garantias constitucionais. Lá, os eleitores escolheram
votar no agrônomo Alberto Fujimori em vez de optarem pelo intelectual,
escritor, jornalista e ensaísta, Mario Vargas Llosa, hoje, laureado com
o Nobel de Literatura que, na época, concorreu à eleição com o ditador
fascista.
No Brasil de 2018, 39,3% dos eleitores, aptos a votar, elegeram para
governar o país Jair Bolsonaro, um militar da reserva, graduado em
educação física pela Escola de Educação Física do Exército e mestre em
saltos pela Brigada que disputou à eleição com Fernando Haddad, um
professor universitário, democrata e humanista com um perfil intelectual
bem diferente do militar eleito. Haddad é formado em direito pela
Universidade de São Paulo, mestre em economia e doutor em filosofia.
Há algum risco de ocorrer, no Brasil de Bolsonaro, o que ocorreu no
Peru de Fujimori? Creio que sim, porque estamos abandonando a opção
democrática para instalar de vez um estado policial, com a opressão, o
enxovalhamento do estado Democrático de Direito, onde a transparência da
administração não existe e a maior corrupção de todas – a falta de
liberdade – parece ser a tônica.
Pense nisso!
Antonio Cavalcante Filho, o Ceará, é sindicalista e
escreve neste espaço às sextas-feiras - E-mail:
antoniocavalcantefilho@outlook.com
Fonte RD News