segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

OUÇAMOS O ALERTA DA HISTÓRIA


Há algum risco de ocorrer, no Brasil de Bolsonaro, o que ocorreu no Peru de Fujimori? Creio que sim, porque estamos abandonando a opção democrática para instalar de vez um estado policial, com a opressão, o enxovalhamento do estado Democrático de Direito, onde a transparência da administração não existe e a maior corrupção de todas – a falta de liberdade – parece ser a tônica. Pense nisso! 


RD News

Por Antonio Cavalcante Filho


Na virada do século XX para o XXI, pela primeira vez na história, o governo brasileiro deu efetiva atenção ao problema da secular corrupção, principalmente na administração pública que já vinha se perpetuando desde o Brasil Colônia. Para inibir a atuação dos maus agentes e puni-los, novas leis foram criadas e aprovadas nos governos Lula/Dilma.

Foi a partir daí que, mancomunados com interesses imperialistas, setores da extrema direita, grandes latifundiários, banqueiros, poderosos empresários, mídia corporativa burguesa e muita “gente de bem”, aproveitando o apelo popular da agenda de combate à corrupção, começaram a destruir direitos, empresas e, mais recentemente, entregando a soberania do Brasil aos gringos, destruindo as bases de nossa indústria e da nossa economia.

O Brasil já está pagando um alto preço pelo exacerbado “estado policial” em que vivemos, e pelos ditadores travestidos em pele de justiceiros que povoam o cenário nacional em todos os espaços da vida pública.

Sem querer chutar cachorro morto, lembro o exemplo do governador Pedro Taques, que, na carona de uma representação contra Arcanjo, abandonou o Ministério Público ingressando na política. Eleito, se revelou uma tragédia sob todos os aspectos que se analise: péssimo gestor, teve secretários presos no curso do mandato, inclusive familiares dele foram recolhidos ao cárcere.

Por isso, faço aqui um alerta sobre o Jair Bolsonaro, oferecendo aos leitores um “vai dar ruim” com base na informação histórica e nas experiências recentes ocorridas na América do Sul. Farei, neste espaço, uma narrativa sobre fatos reais e de coisas que já aconteceram. Nada aqui é hipotético.

Vamos aos fatos:

Ocasionado pelas repetidas crises do capitalismo, o país viveu colapsos econômicos durante os últimos anos. Daí, elege um presidente que aplica um choque econômico com a intenção de organizar a economia sem medir o seu custo social. Com isso, afrouxou as regras para o setor privado, diminuiu a atuação das agências reguladoras e retira o controle dos preços administrados, reduzindo subsídios e empregos públicos. Afastou os controles de capitais e as restrições aos investimentos dos bancos estrangeiros, permitiu importações de bens supérfluos e simplificou a cobrança de impostos.

Num primeiro momento, essas medidas contribuíram para o crescimento econômico, o que é diferente de desenvolvimento econômico (distribuição de renda, diminuição da pobreza), uma vez que a perda de direitos sociais e a queda do poder de compra dos trabalhadores, que movimenta o mercado interno, trouxeram mais problemas e angústias à população ao achatar os salários, provocando os maiores índices de desemprego do país.

Logo mais, começaram os escândalos com a revelação do envolvimento dos figurões de proa do governo em atos de corrupção e fascismo. Acossado pelas críticas da opinião pública e de opositores, ele dissolveu o Congresso, fechou o Poder Judiciário, o Ministério Público, o Tribunal Constitucional e o Conselho da Magistratura. Com o apoio incondicional das Forças Armadas, que lhe garantiu o poder “pelo medo” e, graças ao seu estilo autoritário, inventou o que veio a se chamar Autogolpe.

Para aparecer bem na foto, ele captura o líder do grupo armado que se opunha ao governo, mas, com isso, começa a enfrentar o problema do sequestro de autoridades estrangeiras em seu território, expondo a fragilidade de sua gestão.

Após tantas medidas antidemocráticas neste país, ele passa a ser considerado uma ditadura, de fato e de direito, acusado de perseguir, prender, torturar, sequestrar e matar opositores com o aparato militar, com apoio de uma rede de veículos de imprensa sensacionalistas e das mídias sociais. Por fim, para “acabar com a pobreza”, foi acusado de esterilizar sem consentimento (à força) mais de 300 mil mulheres, a maioria delas descendente de indígenas.

A esta altura, alguém já deve estar se perguntando: mas que diacho de país é esse?

Alguns fatos desta narrativa já ocorreram também, no Brasil, lá nos anos de chumbo da Ditadura Militar, entre as décadas de 60 e 70. Porém, estou falando de um país vizinho, o Peru, que durante a ditadura de Alberto Fujimori governou de 28 de julho de 1990 a 17 de novembro de 2000,cometendo toda espécie de atrocidades contra o seu povo.

Fujimori chegou ao governo pelas vias democráticas, mas proclamou o Autogolpe, desfigurando toda a organização política e administrativa, acabando com o judiciário, o ministério público, fechando o congresso e suspendendo as garantias constitucionais. Lá, os eleitores escolheram votar no agrônomo Alberto Fujimori em vez de optarem pelo intelectual, escritor, jornalista e ensaísta, Mario Vargas Llosa, hoje, laureado com o Nobel de Literatura que, na época, concorreu à eleição com o ditador fascista.

No Brasil de 2018, 39,3% dos eleitores, aptos a votar, elegeram para governar o país Jair Bolsonaro, um militar da reserva, graduado em educação física pela Escola de Educação Física do Exército e mestre em saltos pela Brigada que disputou à eleição com Fernando Haddad, um professor universitário, democrata e humanista com um perfil intelectual bem diferente do militar eleito. Haddad é formado em direito pela Universidade de São Paulo, mestre em economia e doutor em filosofia.

Há algum risco de ocorrer, no Brasil de Bolsonaro, o que ocorreu no Peru de Fujimori? Creio que sim, porque estamos abandonando a opção democrática para instalar de vez um estado policial, com a opressão, o enxovalhamento do estado Democrático de Direito, onde a transparência da administração não existe e a maior corrupção de todas – a falta de liberdade – parece ser a tônica.

Pense nisso!

Antonio Cavalcante Filho, o Ceará, é sindicalista e escreve neste espaço às sextas-feiras - E-mail: antoniocavalcantefilho@outlook.com

Fonte RD News