As populações pobres de municípios médios e pequenos de regiões distantes e das periferias das grandes cidades que já estão sem o atendimento dos cubanos do Mais Médicos não devem cobrar apenas de Bolsonaro, mas principalmente de quem o levou a sair das franjas para o Planalto.
Mario Vitor Santos
– Tá uma porção de gente ligando, mandando mensagem, todo tipo de ameaça. As mulheres tão no desespero, a gente
– Tá uma porção de gente ligando, mandando mensagem, todo tipo de ameaça. As mulheres tão no desespero, a gente
...
– Não dá agora por aqui. Vamos encontrar naquele lugar. Nem sei como tá isso aqui.
– O papo é sério, garoto, se não tiver uma saída logo eu denuncio tudo.
Pode avisar a eles. A gente tá há dois meses trancado, sem sair, nesse
lugar, a noite é horrível, ninguém dorme naquela casa, nem os caras
que fazem a segurança a gente confia. Olha aqui: Não pensa que vão usar
o mesmo esquema da vereadora. Eu falo tudo. Qualquer sinal a gente
fala.
– Suave. A gente tá no controle, só não dá pra vc falar direto com
eles. Acham que ta tudo grampeado, uma noia. O pior é que um deles é
muito esquentado, sem falar dos noia em volta do bagulho, gente que a
gente nem controla.
– Perigoso mesmo. Mas amizade e fidelidade é tudo, na hora boa, na ruim.
Os caras também tão se achando cercados, vítimas dos milicos que tão
sabotando eles. Já não confiam em ninguém e acham que até os economistas
tá tão fazendo ligação direta com os fardados. Tá foda. Ninguém se
entende. Nem eu tô conseguindo falar com eles. Mas fica frio, e olha
bem, vocês tão na mira de uns caras que você conhece. Tudo maluco. Não
custa muito pra eles surtarem. Se for na boa, tem tudo. Senão, nada. Mas
fica frio, só não dá por aqui.
...
A imagem do superministro indicado da Justiça, Sergio Moro,
esgueirando-se das perguntas dos jornalistas ao final da entrevista em
Brasília, espelham a acelerada deterioração do capital político do
caçador de corruptos: o corpo torcendo-se, a cabeça travada ao pescoço
em rotação panorâmica fazer o conjunto dar as costas, desligando-se dos
microfones, depois das câmeras, as pernas num caminhar instintivo, o
olhar autômato em diagonal; por último, atrasado, ocioso, o braço e no
limite a mão, expressiva de um conflito em torno de que sinal emitir. O
membro vai virando e erguendo, indeciso, o dedo indicador, primeiro,
apontando para a frente, num gesto quase fuzilante, o que é ruim. Acode o
dedo médio, tíbio, que evolui num V da vitória, o qual por sua vez
tenta amenizar a mensagem do corpo que já deu as costas em fuga enquanto
os gritos do lado de cá dos microfones se sucedem ecoando: Coaf, coaf,
coaf...
...
Pode haver vários desfechos e desenvolvimentos, mas jamais será
possível esquecer que os atores por trás de Bolsonaro são os maiores
responsáveis pelos estragos que ele já está causando. O capital
financeiro, os grandes empresários irmanados em torno da direita, os
meios de comunicação, a Justiça atravessada pelo fascismo político e
moral: dominada pelo fascismo, as igrejas evangélicas, os militares
degenerados, os bilionários prejuízos potenciais causados na presença
brasileira nos mercados internacionais tão duramente conquistada junto à
China, ao Mercosul, ao Oriente Médio. Como relata André Barrocal, na
revista Carta Capital, ao menos um analista de banco já dedica longo
tempo a explicar aos investidores as chances de Paulo Guedes e seu
programa serem comprometidos por envolvimentos em irregularidades. As
populações pobres de municípios médios e pequenos de regiões distantes e
das periferias das grandes cidades que já estão sem o atendimento dos
cubanos do Mais Médicos não devem cobrar apenas de Bolsonaro, mas
principalmente de quem o levou a sair das franjas para o Planalto.
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É dos programas mais divertidos acompanhar sites pró-Bolsonaro, como o
Infomoney. O Coafão, o Coafgate, o Motorista da Família, nem dão as
caras nas homepages dos cheerleaders do mercado.
Mario Vitor Santos é jornalista. Foi ombudsman da Folha e do portal iG, secretário de Redação e diretor da Sucursal de Brasilia da Folha.
Fonte Contexto Livre