Em seu 50ª dia de governo, Bolsonaro já virou um 00 à esquerda, que nem sabe o que ainda está fazendo no governo.
A distinta platéia que o elegeu a tudo assiste bestificada.
Foi para isso, devem pensar, que batemos panelas, marchamos contra a corrupção, derrubamos a Dilma, prendemos o Lula e engordamos os patos amarelos na avenida Paulista?
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A lambança na demissão do ministro dos laranjais foi a gota d´água.
Nenhuma surpresa. Acabou precocemente o governo do clã dos Bolsonaros, aos 50 dias de vida, na primeira crise que enfrentou.
A deprimente imagem do vídeo improvisado em que o presidente Jair
Bolsonaro se rende à chantagem de Bebianno, e o cobre de elogios, deve
ter arrepiado o brio até dos militares mais insensíveis.
Começa agora para valer o governo da junta militar comandada pelo general Augusto Heleno, o chefe da “turma do Haiti”.
Com a nomeação do general Floriano Peixoto para o lugar do
defenestrado Gustavo Bebianno na Secretaria-Geral da Presidência,
completa-se o quadro dos militares que estiveram nos últimos anos no
Haiti liderando a tropa de paz da ONU.
Faz parte do grupo também o general da ativa Otávio do Rêgo Barros, o porta-voz sempre assustado.
O Haiti está em guerra civil outra vez, com o país em frangalhos e morrendo de fome, mas os generais se deram bem.
Ganharam para comandar, com a vitória eleitoral de Jair Bolsonaro, um país bem maior, o Brasil.
Nem na época dos generais presidentes da ditadura eles tiveram tanto protagonismo no Palácio do Planalto.
Afinal, o presidente capitão e o vice general também são militares.
Já são quatro generais no centro do poder, além de Mourão, oito
militares no ministério e ao todo 46 fardados ou ex-fardados no primeiro
e segundo escalões do governo.
Até os militares que ainda não estão no governo já se sentem
incomodados com esta escalada de generais no governo Bolsonaro, como
mostra a reportagem “Ala militar comemora poder, mas se preocupa com o
destaque excessivo”, de Igor Gielow, publicada na Folha desta
terça-feira.
Relata a abertura da matéria:
“Se por um lado está sendo comemorada pelo núcleo militar como a
consolidação do seu poder no centro do governo Jair Bolsonaro, a chegada
do oitavo ministro egresso das Forças Armadas já começa a despertar
algumas preocupações.
A principal, ouvida pela Folha de diversos oficiais generais ao longo
da agônica demissão de Gustavo Bebianno da Secretaria-Geral, diz
respeito ao óbvio: os filhos de Bolsonaro continuarão a ser instrumentos
de interferência no governo?”
Como não dá para demitir os filhos nem o vice, inimigo deles, tudo indica que sim.
Bebianno e os filhos 01, 02 e 03 sumiram de cena de um dia para
outro, mas a crise de autoridade deflagrada pelos próprios Bolsonaros
está longe de acabar.
Mais do que nunca, a sobrevivência do capitão está nas mãos dos
generais da “turma do Haiti” liderados pelo conselheiro Heleno Fragoso,
chefe do GSI.
“Hoje, a ala militar tem um Estado-Maior em formação na
administração, com secretarias, estatais e cargos diversos. Só que esse
tipo de órgão assessora e aconselha um líder, e o episódio Bebianno
jogou dúvidas entre vários oficiais sobre a capacidade de comando do
presidente logo na sua primeira crise política”, escreve Gielow.
O clima de desconfiança entre os diferentes atores desta pantomina
institucional é tão grave que até nas reuniões entre eles os celulares
estão sendo deixados do lado de fora da sala.
É nesse cenário que o governo entrega esta semana à Câmara seus dois
mais importantes e, ao que tudo indica, únicos projetos de governo: o
pacote anticrime de Moro e a reforma da Previdência de Guedes, os únicos
civis que se sobressaem em meio ao batalhão de generais.
A reforma da Previdência é tratada como a salvação da lavoura, a bala de prata do governo para agradar o mercado e a mídia.
E se o tiro sair pela culatra, com esta base aliada mambembe, o que a junta militar poderá fazer?
Cercar o Congresso com tanques, como os militares já fizeram em
outros tristes tempos? Ou mandar um soldado e um cabo ocupar o STF, como
sugeriu o filho 03?
Em seu 50ª dia de governo, Bolsonaro já virou um 00 à esquerda, que nem sabe o que ainda está fazendo no governo.
A distinta platéia que o elegeu a tudo assiste bestificada.
Foi para isso, devem pensar, que batemos panelas, marchamos contra a
corrupção, derrubamos a Dilma, prendemos o Lula e engordamos os patos
amarelos na avenida Paulista?
Vida que segue.
Fonte Balaio do kotscho