Bolsonaro age como um profeta do caos. Uma embaixador mundial das ditaduras, como fez no Paraguai, ao chamar Stroessner de estadista, e na última quinta, 21, em visita oficial ao Chile, quando, para constrangimento geral, reverenciou o ditador Augusto Pinochet, que comandou o país de 1973 a 1990, em anos marcados por violência com a morte de mais de três mil pessoas, segundo estatísticas do governo chileno.
Publicado originalmente no site A confeitaria política de Gilberto Pão Doce
POR RICARDO MIRANDA, jornalista
“Nosso presidente já determinou ao Ministério da Defesa que faça
as comemorações devidas com relação ao 31 de Março de 1964 incluindo a
ordem do dia, patrocinada pelo Ministério da Defesa, que já foi aprovada
pelo nosso presidente”.
(Porta-voz da Presidência, general Otávio Rêgo Barros)
Repitam comigo. Os regimes sanguinários de Augusto Pinochet, no
Chile, e Alfredo Stroessner, no Paraguai, foram democracias e seus
generais ditadores foram estadistas. O presidente da Venezuela, Nicolás
Maduro, eleito, é um ditador, tem que ser deposto e o Brasil reconhece
um presidente auto-proclamado – não eleito. Ah, e o golpe militar de dia
31 de março de 1964, que completa 55 anos, último período ditatorial no
país, não apenas não foi uma ditadura, mas deve voltar a ser
“comemorado” nos quartéis. Mais perdido do que cego em tiroteio, em um
governo pífio que não consegue focar em prioridades, pavio curto a ponto
de afrontar o gelatinoso presidente da Câmara, Rodrigo Maia, embora
precise do aliado para aprovar a reforma da Previdência, Bolsonaro pariu
mais um factoide, acendendo o ânimo dos golpistas civis e fardados –
instalados em diversos pontos da sociedade. Na contramão de toda a
pacificação – construída pela Nova República, Bolsonaro deu ordem para
que os comandantes militares não deixem domingo, 31 de março, passar em
branco. Agora, além dos esclerosados de pijama dos clubes militares, a
data deve ser comemorada em unidades por militares da ativa. A definição
de “celebrados” ficou no ar. Num país pendurado numa Lei de Anistia mal
ajambrada, e onde militares e civis fazem vista grossa para as
expressões “revolução” e “ditadura”, o Estado decidiu assumir
institucionalmente o lado dos que não veem os chamados anos de chumbo
como uma interrupção democrática.
Pior. Desde que assumiu o mandato, Bolsonaro não apenas não consegue
pacificar o país, como comporta-se como se estivesse em campanha, no
palanque, falando para os seus, por meio de uma twittercracia boçal –
nas palavras de Carlos Bolsonaro, porque “é isso que o conecta com o
povo, já que não tem mídia a seu favor” -, e opondo-se aos “outros”, os
que não concordam com ele, número crescente segundo as pesquisas de
popularidade. A ordem de Bolsonaro, transmitida pelo metálico porta-voz
da Presidência, general Otávio Rêgo Barros, de que queria uma celebração
“devida” de 64, deve ser interpretada pelos comandantes militares, e
generais empoleirados no Planalto, que parecem ter mais juízo, como uma
orientação presidencial para que 31 de Março seja lembrado intramuros,
ou seja, dentro de quartéis e batalhões, com a leitura da ordem do dia,
realização de formaturas e palestras sobre o tema. Mas para a sociedade
fraturada é a antecipação de mais embates, que não se limitarão às redes
sociais, mas que servem como uma convocação às ruas. Quem acha que o
regime dos generais, que durou 21 anos, foi uma ditadura, com mortes e
desaparecimentos, de um lado; e quem acha que foi uma revolução para
impedir que o país caísse nas mãos do fantasma do comunismo, de outro.
Todos estão convocados a sair às ruas. Talvez se enfrentar. Quem sabe
não é exatamente o que Bolsonaro quer.
Bolsonaro age como um profeta do caos. Uma embaixador mundial das
ditaduras, como fez no Paraguai, ao chamar Stroessner de estadista, e na
última quinta, 21, em visita oficial ao Chile, quando, para
constrangimento geral, reverenciou o ditador Augusto Pinochet, que
comandou o país de 1973 a 1990, em anos marcados por violência com a
morte de mais de três mil pessoas, segundo estatísticas do governo
chileno. As declarações de Bolsonaro foram classificadas como
“infelizes” pelo atual presidente do Chile, Sebastian Pinera. Por aqui,
os militares deixaram o Palácio do Planalto em 1985, com aposse do
ex-presidente José Sarney, vice de Tancredo Neves – que foi eleito ainda
pelo voto indireto, mas morreu antes de receber a faixa presidencial.
Bolsonaro quer recontar as histórias. Talvez em breve ordene que o
Ministério da Educação, que virou uma repartição de Olavo de Carvalho,
revise os livros de história. Já foi assim, quando eu nascido em 1966,
durante a ditadura estudei. O fato é que conseguir sem entender qual é
natureza da função para a qual foi escolhido pela maioria dos eleitores
no ano passado, Bolsonaro, como escreveu em editorial O Estado de S.Paulo –
veja só, hem – “drena as energias do País ao concentrar-se em temas de
pouca relevância, mas com potencial de causar tumulto. Ocupado com
questiúnculas que fazem a alegria de sua militância, Jair Bolsonaro
parece ter abdicado de governar para todos”.
Fonte A confeitaria política de Gilberto Pão Doce
https://www.facebook.com/antoniocavalcantefilho.cavalcante
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