Salvo as devidas exceções, as forças armadas militares, policiais, judiciárias e políticas, dominantes, sempre estiveram do lado dos poderosos, na manutenção da "ordem" do Estado colonial, imperial, republicano, que manteve a escravidão e o extermínio de indígenas por bandeirantes facínoras, dos senhores do tráfico, comércio e escravização dos negros, açoitados nos pelourinhos, humilhados e ofendidos séculos a fio.
Laurez Cerqueira
Eles gostam dos salões dos palácios, de sinecuras, honrarias, fardões
de gala, medalhas, e subserviência. Afinal, são filhos das cortes,
servidores e protetores de monarcas, dos negócios de proprietários e
rentistas, tutores "da lei e da ordem" ao longo da história.
Ainda são muito atrasados, não se civilizaram. Não conseguem sequer
ser republicanos, democratas, cidadãos como os das sociedades modernas,
desenvolvidas. Parecem viver como sebastianistas, sonhando com a
monarquia engolida pelo tempo.
Como têm prerrogativas de uso de armas e de canetas para ameaçar os
poderes democráticos constituídos, mandar pessoas para os cárceres,
costumam demonstrar que os demais poderes da República são subordinados
aos seus desígnios.
Assim se formam os poderes marginais.
Quando militares e policiais rompem com os fundamentos da hierarquia e
disciplina, inscrito na Constituição, viram bandos armados.
Quando magistrados condenam apenas com base em convicções próprias,
sem provas, à margem da Constituição e da Lei, do devido processo legal e
das garantias legais, usam politicamente as instituições públicas para
favorecer grupos políticos e econômicos nacionais e internacionais,
vê-se que o país está dominado por déspotas, inimigos da democracia.
Quando deputados e senadores corruptos se juntam com ministros de
tribunais para forjarem falso processo por crime de responsabilidade, a
fim de cassar o mandato de uma presidente da República honesta,
democraticamente eleita, para no lugar dela colocar um vice-presidente
comprovadamente corrupto, seria possível dizer que o país foi vítima de
um golpe de uma organização criminosa?
Em 1988, em pleno funcionamento do Congresso Constituinte, o general
Leônidas Pires Gonçalves, na época Ministro do Exército, atravessou a
Esplanada dos Ministérios, com seu staff militar, para ir ao gabinete do
presidente da Câmara, Ulysses Guimarães, ameaçá-lo com a possível volta
dos militares ao poder, caso não fosse inserida na Constituição a
tutela militar, sintetizada na expressão "defesa da pátria, da lei e da
ordem". Assim o artigo 142 foi imposto e vigora como se os demais
poderes da República fossem subordinados a ele.
Salvo as devidas exceções, as forças armadas militares, policiais,
judiciárias e políticas, dominantes, sempre estiveram do lado dos
poderosos, na manutenção da "ordem" do Estado colonial, imperial,
republicano, que manteve a escravidão e o extermínio de indígenas por
bandeirantes facínoras, dos senhores do tráfico, comércio e escravização
dos negros, açoitados nos pelourinhos, humilhados e ofendidos séculos a
fio. Capatazes e jagunços seriam magistrados, policiais e militares da
época. Era quem decidia sobre encarceramentos e outras barbaridades, com
base em convicções próprias. Guardadas as devidas proporções, a empáfia
e a ideologia dessa gente permanecem encrustadas no Estado
contemporâneo como herança perversa e bizarra expressa no governo
Bolsonaro.
No Brasil, os defensores da "ordem" homenagearam exterminadores de
nações indígenas, de quilombos, com nomes em palácios, monumentos,
rodovias, como em São Paulo, o Palácio dos Bandeirantes, rodovia Raposo
Tavares, Fernão Dias, até Rede Bandeirantes, ruas, praças e edifícios
públicos, Palácio Anhanguera, em Goiânia, e em cidades espalhadas por
todo o país.
Em nome da "ordem colonial, imperial, republicana", enforcaram,
decapitaram, esquartejaram, salgaram, corpos de Felipe dos Santos,
Tiradentes, Antônio Conselheiro, Zumbi dos Palmares, Lampião e muitos
outros. Exterminaram inúmeras nações indígenas. Na ditadura militar
instaurada em 1964, prenderam, torturaram e mataram muitos brasileiros,
hipocritamente "em defesa da democracia".
A ladainha da "ordem" é a mesma do golpe civil-militar da República,
dado para reprimir os escravos libertos e proteger interesses da coroa
portuguesa e inglesa, de seus descendentes, e de outros golpes
civis-militares, como o de 1964 e de 2016, também para proteger negócios
de grandes banqueiros, de grandes impérios empresariais, nacionais e
internacionais.
Além disso entregar as riquezas do país como petróleo e gás, minério, terras, e agora a entrega da Amazônia aos Estados Unidos.
Guardadas as devidas exceções, o sistema estatal formado por forças
armadas militares, policiais, judiciárias e políticas conservadoras,
sempre protegeu os poderosos, interesses dos Estados Unidos, sempre foi
inimigo da democracia e indiferente às aviltantes desigualdades sociais,
às condições de vida dos pobres e dos trabalhadores.
As estatísticas estão aí para mostrar a realidade. Os seis
brasileiros mais ricos têm o mesmo patrimônio dos 100 milhões da base da
pirâmide social, a grande maioria formada por negros e seus
descendentes, escravizados durante 350 anos, e indígenas, abandonados à
própria sorte nas periferias das cidades brasileiras em condições
subumanas. Segundo estudos da Anistia Internacional, as forças policiais
brasileiras são as que mais matam no mundo. A grande maioria negros.
Os golpes civis-militares no Brasil não foram para assegurar
democracia coisa nenhuma. Essa mentira repetida tantas vezes precisa ser
abatida. Foi para garantir que com a violência do Estado fossem
mantidos e aperfeiçoados os mecanismos de acumulação do capital e
apropriação de bens e serviços públicos pela minoria rica do topo da
pirâmide social, por grandes corporações e bancos nacionais e
internacionais, privilégios de classe e a exploração cruel do trabalho
dos de baixo.
Com a mão de ferro dessas forças, o Brasil tornou-se o país mais
desigual do mundo, segundo pesquisas publicadas no best-seller, O
Capital no Século XXI, do economista e acadêmico francês Thomas Piketty.
O lucro líquido dos quatro maiores bancos saltou, em 2018, de R$ 65
bilhões para R$ 73 bilhões. Somente o Banco Itaú, o lucro foi de R$
24.977 bilhões, o maior da história do sistema financeiro brasileiro.
Os bancos levaram, de perdão de dívida, do golpista Michel Temer, R$
62 bilhões. O mesmo Michel Temer perdoou R$ 47,4 bilhões de dívidas de
tributos de grandes empresas, um dos maiores volumes de recursos
públicos perdoados, enquanto cortou de programas sociais destinados às
camadas mais pobres, e congelou investimentos da área social por 20
anos. O golpe de estado que derrubou a ex-presidente Dilma foi para
essas e outras falcatruas.
Aqui impera um dos mais injustos sistemas tributários do mundo, onde
71.000 milionários recebem anualmente R$ 300 bilhões a título de lucros e
dividendos, valor sobre o qual são isentos de imposto de renda.
Os grandes produtores rurais estão conversando com o governo do
capitão Bolsonaro, a fim de obter perdão de dívidas no valor de R$ 75
bilhões. Enquanto isso desmontam e cortam recursos das políticas sociais
de inclusão e proteção social.
Na proposta de reforma da previdência social, colocaram a questão da
idade mínima e tempo de contribuição como biombo, para esconder o
objetivo maior da reforma, que é retirar da Constituição a contribuição
do empresariado e perdoar R$ 450 bilhões de dívidas das grandes
empresas, principalmente estrangeiras, que não pagam a previdência e não
têm nenhum compromisso com o país. O que lhes importam são os lucros
que carreiam daqui para as nações centrais.
No entanto, os governos que tentaram, com políticas públicas de
distribuição de renda, reduzir a desigualdade e promover a soberania do
Brasil foram derrubados.
A condenação sem provas e a prisão do ex-presidente Lula, a maior
liderança popular do país, por razões puramente políticas, pelos mesmos
que se dizem "combatentes da corrupção" , "defensores da pátria", da
"ordem" e da "democracia", é a mais sagrada prova de que os capatazes e
jagunços ainda são os mesmos e as aparências não enganam não.
Fonte Brasil 247