É assustadora a bomba-relógio que temos pela frente.
Não há por que melhorar. A economia está parada
porque ninguém tem renda. O consumo está baixo, estagnado e a reforma
não vai mudar nada. Por que os empresários vão investir? Só porque agora
tem uma reforma? Não. Essa é uma demanda do setor financeiro, dos
rentistas e o Guedes representa esse grupo.
É assustadora a bomba-relógio que temos pela frente.
Por Patricia Fachin, IHU Unisinos
Os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – Pnad Contínua, publicados recentemente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE,
mostram que os estratos sociais mais pobres ainda estão sentindo os
efeitos da recessão econômica que atingiu seu ponto mais alto em 2016.
Para medir e avaliar os impactos da crise, o
economista Waldir Quadros analisa as condições de vida da população de
baixa de renda divididas em três categorias gerais: “superior dos pobres”, que corresponde ao que alguns pesquisadores chamam de “baixa classe média”, “pobres” e “miseráveis”.
Segundo ele, “olhando os dados recentes, como o
dado do último trimestre de 2018, percebe-se que 80% dos ocupados são
classificados em alguma dessas categorias de pobres: 40% estão na camada
‘superior dos pobres’, 27% na camada dos ‘pobres’ e 13% na camada dos
‘miseráveis’”. Em termos de renda, informa, aqueles que estão na camada “superior dos pobres” têm uma renda média mensal de 1.700 reais, os “pobres” recebem 920 reais mensais e os “miseráveis”, 310 reais mensais.
Na entrevista a seguir, concedida por telefone para a IHU On-Line,
Quadros menciona que os dados da Pnad indicam que a crise econômica
gerou ao menos três consequências: desemprego, queda da renda dos
trabalhadores e aumento do número de desempregados com ensino superior
completo.
Waldir José de Quadros
possui graduação em Economia pela Universidade de São Paulo – USP e
mestrado e doutorado em Ciência Econômica pela Universidade Estadual de
Campinas – Unicamp, onde atualmente é professor associado do Instituto
de Economia.
“É assustadora a bomba-relógio que temos pela
frente. Considerando os dados do quarto trimestre de 2018 da Pnad
Contínua, é possível observar que dos 5,8 milhões de ocupados com ensino
superior incompleto, 4,6 milhões são ‘pobres’. Mais grave ainda: 8,3
milhões de ocupados que estão classificados na categoria ‘pobres’ têm
ensino superior completo. Se juntarmos aqueles que têm ensino superior
incompleto e aqueles que têm ensino superior completo, temos 12,9
milhões de trabalhadores ‘pobres’ com nível superior”, afirma.
E adverte: “Isso significa confusão; esse
pessoal não vai aceitar essa condição tranquilamente, porque eles foram
fazer faculdade, boa parte pagando a mensalidade com o Fies, esperando
uma melhora de vida, e agora não tem melhora”.
Segundo ele, os dados da Pnad Contínua revelam ainda que “tanto
os desempregados quanto os ocupados que têm nível superior completo
estão vivendo num nível social muito inferior, o qual é incompatível com
o que se espera de alguém que tem ensino superior. Todo mundo imagina
que após concluir o curso superior é possível ao menos ir para a média
classe média, mas não é o que está acontecendo no Brasil. Então, o
significado disso é uma profunda insatisfação. Aliás, esse quadro agrava
a insatisfação e pode se encaminhar para uma revolta”.
Confira a entrevista:
IHU On-Line – Em 2017, o senhor informou
que 5% da população, cerca de 11 milhões de pessoas, havia sofrido uma
mobilidade descendente em 2015 por conta do aumento do desemprego e da
queda da renda. Qual tem sido a situação de lá para cá? O que os dados
da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – Pnad que o senhor
monitora informam sobre a situação de desemprego, a queda da renda e o
aumento da pobreza no Brasil?
Waldir Quadros – O IBGE mudou a
metodologia da Pnad e desde 2012 está publicando a Pnad Contínua.
Então, aquela série antiga de análises que eu fazia foi concluída em
2015, porque em 2016 o IBGE também mudou a metodologia que possibilita
obter os dados sobre as famílias, e, sem agregar esses dados, não
consigo analisar a mobilidade, como eu fazia antes. A Pnad Contínua
melhorou muito, os dados estão melhores, mas há esse problema da quebra
da série. Diante disso, ainda não tenho o estudo de mobilidade social,
mas com os dados disponíveis podemos caracterizar a crise que começa em
2015. Então, embora haja uma ruptura daquela série de análise, vou fazer
uma estimativa aproximada dos dados de 2015.
O que os dados da Pnad Contínua mostram sobre a crise a partir de 2015?
Os dados da Pnad Contínua desde 2012 mostram
que o grande impacto no mercado de trabalho por causa da crise econômica
ocorreu em 2016. O que acontece a partir de 2016? Eu e vários outros
professores estamos ajustando nosso olhar para analisar esse cenário de
crise, porque até então trabalhávamos com uma perspectiva analítica
daquele período anterior, que era de mobilidade ascendente e de
progresso social. Mas esse cenário mudou. Por conta disso, a própria
denominação da estrutura da minha pesquisa mudou: não estou mais
trabalhando com a categoria “baixa classe média”. Estou chamando essa
categoria de “camada superior dos pobres”, porque a crise está
provocando um empobrecimento das estruturas sociais. Porém continuo
trabalhando com as categorias “alta classe média” e “média classe
média”, que sempre foram os dois segmentos que de fato representam a
classe média.
Além da categoria “camada superior dos pobres”,
estou trabalhando com outras duas: os pobres, que são a massa
trabalhadora, e os miseráveis. Estamos analisando com mais atenção as
camadas “superior dos pobres”, “pobres” e “miseráveis”. Fazendo essa
agregação e olhando os dados recentes, como os do último trimestre de
2018, percebe-se que 80% dos ocupados são classificados em alguma dessas
categorias: 40% estão na camada superior dos pobres, 27% na camada dos
pobres e 13% na camada dos miseráveis.
Qual é a renda média dos trabalhadores de cada um desses estratos?
A camada “superior dos pobres” tem uma renda
média mensal de 1.700 reais, os “pobres” recebem 920 reais mensais e os
“miseráveis”, 310 reais mensais. Como se vê, a renda é consistente com a
denominação.

O que aconteceu de 2015 para cá? Primeiro, o
impacto imediato da crise foi em relação ao desemprego: em 2015 houve um
crescimento do desemprego de 26,5%. Esse desemprego imediato ocorreu
após o ajuste do governo Dilma. Em 2016, que foi o ano mais grave da
crise, o aumento da taxa de desemprego foi de 37%, em 2017 teve um
crescimento de 13,5% e em 2018 houve uma redução de 2,2%. O grande
fenômeno em termos de mercado de trabalho é o desemprego e este é o
primeiro aspecto da crise.
O segundo aspecto da crise no mercado de
trabalho é o aumento da participação de trabalhadores autônomos, porque
todo mundo que fica desempregado e vai procurar algum trabalho, acaba
exercendo alguma atividade autônoma, como vendedor, motoboy etc. Esse
percentual vem crescendo desde 2016.

Outro aspecto da crise mostra a estratificação
social dos ocupados em família. Se numa família há três ocupados,
considero o membro que é mais bem remunerado, ou seja, a família é
classificada a partir da situação do membro melhor remunerado. Ao
analisar a estratificação familiar dos ocupados, que é a visão mais
ampla que temos, fica claro que o grande baque para as famílias ocorreu
em 2016, quando houve uma grande retração na “alta classe média” e um
crescimento de 2% nos “miseráveis”, ou seja, nos dois extremos. A
estrutura piorou em 2016, que foi o grande ano da crise, e continua ruim
até agora, já que não houve nenhuma melhora na economia.
Este é o cenário, mas há alguns agravantes:
quando olhamos os pobres ocupados — classificados nas três categorias
que mencionei —, observamos que existe uma grande parcela de
trabalhadores com nível superior. Então, é assustadora a bomba-relógio
que temos pela frente. Considerando os dados do quarto trimestre de 2018
da Pnad Contínua, é possível observar que dos 5,8 milhões de ocupados
com ensino superior incompleto, 4,6 milhões são “pobres”.
Mais grave ainda: 8,3 milhões de ocupados que
estão classificados na categoria “pobres” têm ensino superior completo.
Se juntarmos aqueles que têm ensino superior incompleto e aqueles que
têm ensino superior completo, temos 12,9 milhões de trabalhadores
“pobres” com nível superior. Isso significa confusão; esse pessoal não
vai aceitar essa condição tranquilamente, porque eles foram fazer
faculdade, boa parte pagando a mensalidade com o Fies, esperando uma
melhora de vida, e agora não tem melhora.

Na classe média pobre, há 9 milhões de pessoas
que fizeram faculdade — concluíram ou estavam cursando — esperando
passar para a média classe média, mas não terão essa oportunidade.
Então, essa é uma situação que está represada e que tem um componente
muito explosivo para a crise social. Entre todos os desempregados de
todas as classes, 2 milhões têm nível superior; é muita gente, porque
estamos falando de um número de 12,5 milhões de desempregados.
Em linhas gerais, essa é a síntese da análise
que fiz. Depois, fiz uma análise por ocupações, por regiões, mas chamo a
atenção para a proporção de pobres e sobre esse novo olhar para a baixa
classe média, porque está claro que há uma camada superior de pobres
que continua sendo pobre. É um cenário difícil, que começou em 2015,
surgiu com intensidade em 2016 e já estamos em 2019 e nada indica que o
cenário vai melhorar. Então, é um cenário preocupante e, com certeza,
neste cenário a mobilidade também sofreu. No geral, caiu a “alta classe
média”, caiu a “média” e cresceu o número de “pobres”.
Qual é o impacto social e cultural de ter um número significativo de pessoas com nível superior completo desempregadas?
Tanto os desempregados quanto os ocupados que
têm nível superior completo estão vivendo num nível social muito
inferior, o qual é incompatível com o que se espera de alguém que tem
ensino superior. Todo mundo imagina que após concluir o curso superior é
possível ao menos ir para a média classe média, mas não é o que está
acontecendo no Brasil. Então, o significado disso é uma profunda
insatisfação. Aliás, esse quadro agrava a insatisfação e pode se
encaminhar para uma revolta. O que ocorreu em 2013 foi nesse sentido: o
descontentamento virou revolta.
Essa crise social é muito séria e tem este
componente de novidade: o número de pessoas com nível superior cresceu
muito por causa do progresso que ocorreu nos últimos anos, com cotas,
ProUni, Fies, mas agora há uma grande frustração. Então, é um componente
que pode se transformar numa coisa mais séria. Entre os desempregados a
situação é ainda pior, porque eles têm nível superior e não conseguem
emprego. Quando conversamos com os motoristas de Uber, percebemos que
uma boa parte tem curso superior e está numa ocupação altamente
precária.
Há dois anos o senhor atribuiu o quadro de
desemprego e aumento da pobreza à crise econômica. As causas da situação
atual continuam as mesmas ou há algum agravante de lá para cá, como a
crise política ou até mesmo dificuldades por conta do novo governo?
Veja bem, o novo governo começou agora. A
grande responsável por isso foi Dilma Rousseff em 2015. Foi ela quem
jogou o país numa recessão brutal, que gerou uma queda de 8% da renda
per capita. A responsabilidade maior é dela. Depois, o Temer manteve
esse quadro e, agora, Bolsonaro e Guedes querem tripudiar. Basta ver a
quantidade de cortes que estão implementando e o tratamento que estão
dando à reforma da Previdência, como se ela fosse a salvação da lavoura.
Enquanto isso o investimento não reage, a produção não reage. Então, a
crise iniciou em 2015 com Dilma e [Joaquim] Levy, que colocaram o país
na recessão. Nesse contexto, a esquerda ficou desmobilizada e quem
entrou foi Bolsonaro, que explorou a raiva.
Qual tem sido o impacto da reforma
trabalhista neste cenário? Já é possível avaliar se ela tem contribuído
ou prejudicado os trabalhadores no atual contexto de crise e desemprego
que o país vive?
A reforma trabalhista ajudou a precarizar a
situação, com o contrato temporário. Tudo aquilo que “não pegava” na
época de ascensão, agora está funcionando: o trabalhador aceita qualquer
oferta de trabalho porque está desempregado. E a reforma trabalhista
não protege, não ajuda o trabalhador. O que reduz o desemprego é o
crescimento econômico, por isso, enquanto o país não sair desse buraco,
não tem saída.
O governo e vários setores apostam na
melhora da economia após a aprovação da reforma da Previdência. Como o
senhor vê essa expectativa?
Não há por que melhorar. A economia está parada
porque ninguém tem renda. O consumo está baixo, estagnado e a reforma
não vai mudar nada. Por que os empresários vão investir? Só porque agora
tem uma reforma? Não. Essa é uma demanda do setor financeiro, dos
rentistas e o Guedes representa esse grupo. É claro que é preciso uma
reforma da Previdência, porque a atual é cheia de privilégios, mas a
reforma proposta não mexe nos privilégios; ao contrário, mexe no
Benefício de Prestação Continuada – BPC, nos benefícios do trabalhador
rural etc. A reforma, se for levada ao limite, vai significar um alívio
para os empresários no sentido de diminuir os custos, de tirar todos os
direitos do trabalhador, mas não vai empregar mais. A reforma não é a
salvação da lavoura.
Fonte Pragmatismo Político
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