"É fundamental destacar o papel dos EUA em mais essa aventura golpista que pariu um governo de extrema-direita, ultraliberal e antidemocrático", afirma o cientista político Robson Sávio Reis Souza; Sérgio Moro "foi o testa de ferro dos EUA na parte internacional do golpe que propiciou o governo que transforma o Brasil numa colônia norte-americana", acrescenta
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Por Robson Sávio Reis Souza, é Doutor em Ciências Sociais, professor universitário e membro da Comissão da Verdade de MG
Num esclarecer editorial nesse domingo (28/07), o jornalista
G. Greenwald, do The Intercept Brasil, lembra que as grandes
reportagens que revelaram as mais pérfidas sabotagens e golpes
promovidos pelos EUA -- um Estado que manipula, corrompe e destrói
democracias e estados democráticos mundo afora -- só foram possíveis
porque jornalistas e outros profissionais optaram pelo apreço à ética e à
verdade, preferindo o risco da morte, do banimento e de toda a desgraça
das perseguições à mesquinhez de simples papagaios de pirata dos donos
das empresas de mídia -- cujo único compromisso é a defesa intransigente
de seus financiadores, apesar da lorota de credores das democracias.
É claro que atores e a conjuntura interna devem ser considerados na
análise das rupturas democráticas. No caso brasileiro, é fundamental
mapear os papéis desempenhados pela "elite do atraso"; as consequências
da desagregação dos laços sociais causadas pelas históricas violência e
desigualdades estruturais; as castas que dominam o Estado e se
consideram tutoras das da democracia (sistema de justiça e Forças
Armadas), entre outros atores e fatores.
Mas, é fundamental destacar o papel dos EUA em mais essa aventura
golpista que pariu um governo de extrema-direita, ultraliberal e
antidemocrático.
Lembra-nos Greenwald que "grande parte do jornalismo mais importante
produzido nas últimas décadas foi feito graças a fontes que obtiveram
ilegalmente informações cruciais e as entregaram para jornalistas."
E, apesar dos uivos de ienas antagonistas e seus financiadores
secretos nestes tempos cabeludos, "o que fica registrado na História é o
que foi revelado pelas reportagens, e não as ações das fontes que
ajudaram na revelação."
O fundador do Intercept Brasil passa a descrever alguns casos
emblemáticos que deveriam ser estudados, obrigatoriamente, em todas as
escolas democráticas pelo mundo.
"Em 1971, um ex-oficial do Pentágono, Daniel Ellsberg, roubou dezenas
de milhares de páginas de documentos secretos provando que o governo
dos EUA estava mentindo para a população a respeito da guerra do Vietnã.
Ellsberg entregou os documentos roubados ao (jornal) New York Times e
depois para o Washington Post, e ambos produziram diversas reportagens
com base nesses documentos. Se hoje em dia o nome de Ellsberg é
lembrado, é como um herói que permitiu que essas mentiras oficiais do
governo fossem expostas por jornalistas."
Se os limpinhos e cheirosos do "Manhattan Connection", de blogs e
think tanks ultraliberais bancados por grana estadunidense produzissem
jornalismo comprometido com a democracia, esses veículos e grupos de
interesse seriam os primeiros a aderirem à narrativa do Intercept, no
episódio da VazaJato.
Continua Greenwald: "durante a chamada Guerra ao Terror promovida
pelos EUA e seus aliados desde os ataques de 11 de setembro de 2011, os
maiores veículos de mídia do ocidente – New York Times, Washington Post,
NBC News, BBC, The Guardian – receberam repetidamente informações de
fontes que violaram as leis para expor sérios crimes, como a prática de
tortura, a existência de prisões secretas da CIA, e o sistema ilegal de
vigilância da NSA. Ainda que algumas vozes autoritárias tenham clamado
pela prisão dos jornalistas que revelaram esses segredos, o público de
modo geral tratou essas reportagens como fundamentais, e todas essas
revelações receberam o prêmio máximo do jornalismo, o Pulitzer."
E tem mais um caso escabroso do governo dos EUA, que se diz o grande
defensor das democracias e dos direitos humanos, mas que usa técnicas
medievais para defender os interesses dos verdadeiros donos daquela
nação: as indústrias do petróleo, das armas, dos remédios e, agora, das
mídias eletrônicas.
E Greenwald recorda mais um caso vergonhoso: "O mesmo vale para as
reportagens, publicadas em 2013 e 2014, sobre o sistema secreto e
massivo de espionagem na internet, afetando populações inteiras, por
parte do governo dos EUA e seus aliados – reportagens essas que só foram
possíveis graças a documentos obtidos ilegalmente pelo whistleblower da
NSA, Edward Snowden. Dezenas de veículos de mídia no mundo todo –
inclusive o grupo Globo, no Brasil – manifestaram a vontade de ter
acesso aos documentos roubados para produzir reportagens sobre o sistema
secreto de espionagem mantido pelo governo dos EUA, porque em casos
como esses os jornalistas entendem que o que importa não são as ações ou
motivações da fonte, mas o conteúdo revelado ao público."
Vejam, caros leitores: as organizações Globo -- criadas com a ajuda
estratégica dos Estados Unidos durante a ditadura para defender e
promover os interesses norte-americanos nessas plagas, que se postam
acima das leis e dos poderes da república e que agora, tão
vergonhosamente defendem com unhas e dentes as práticas ilegais
lavajatistas --, já tiveram momentos de alinhamento a hackers para
divulgarem informações roubadas. Como a história é bela! Provavelmente,
daqui a alguns anos, o grupo Globo lançará mais um patético editorial
reconhecendo a verdade sobre a lavajato, como ocorreu anos depois em
relação ao reconhecimento da ditadura no Brasil.
"Hoje em dia, o que é lembrado pela História sobre o assunto não são
os julgamentos morais feitos pelo governo dos EUA e seus defensores
acerca das ações de Snowden. O que importa – o que ficou registrado na
História – é o que foi revelado pelas reportagens sobre as invasões de
privacidade massivas e indiscriminada perpetradas em segredo pelas
agências de segurança", sentencia Greenwald.
Mas, para não alongar muito, o que há em comum em todos esses
escândalos de corrupção à democracia, ao estado de direito e à autonomia
dos países? Resposta: a ação imperialista e fraudulenta dos EUA.
Inclusive, na operação lavajato: a ação sórdida dos Estados Unidos
-- que não respeitam nada daquilo que propagam aos quatro ventos -- está
fartamente documentada nas nada republicanas parceiras que membros do
judiciário e do MP fizeram com órgãos historicamente intervencionistas
dos EUA na dita operação.
Como se sabe, no caso da lavajato, essa operação (apesar de algum
minúsculo combate à corrupção, para agradar moralistas sem moral e
servir de discurso para os golpista) resultou na realização dos
interesses norte-americanos no Brasil, com esses "grandes feitos" (entre
outros):
a) A destruição da indústria pesada nacional, inclusive a indústria
do petróleo, abrindo as portas para corporações estadunidenses e o
"vamos privatizar tudo" do ultraliberal Guedes e sua patota banqueira;
b) Milhões de desempregados que hoje se submetem a condições análogas
à escravidão para conseguirem trabalho; ou seja, a precarização do
mercado de trabalho para a superexploracão dos "novos investidores"
nessa neocolônia;
c) Destruição de laços de solidariedade social e da Constituição, com
as "reformas" ultraliberais, via assunção da extrema direita no
Executivo e no Parlamento;
d) Vassalagem do Brasil à nova política imperialista norte-americana;
e) Um Judiciário que de seletivo e encastelado se transforma a passos
largos numa justiça inquisitorial, de togados movidos por fanatismo
religioso, ódio de classe e perversão moral, salvo exceções;
Os Estados Unidos -- sempre tramando contra as democracias -- são os
grandes beneficiados da lavajato. Por isso, Moro et caterva continuam a
ter o beneplácito de todos os golpistas, inclusive da globo. Ele foi o
testa de ferro dos EUA na parte internacional do golpe que propiciou o
governo que transforma o Brasil numa colônia norte-americana.
Por outro lado, alguns jornalistas, hackers, militantes sociais e
digitais -- expondo as vísceras dessa política perversa norte-americana e
seus atores bufos, como no caso da VazaJato, mostrando os vendilhões de
uma Nação infiltrados nos poderes públicos -- são os inimigos "número
um" da horda no poder.
Isso deve ser terrivelmente odioso para os poderosos e seus capachos nesse momento.
E viva os hackers e os jornalistas independentes que honram a profissão!
Fonte Brasil 247