Para entender o desmonte da indústria nacional: operação preservou fortunas pessoais de empresários e mirou Petrobras e empreiteiras. Milhares foram demitidos, receitas minguaram e setores estratégicos caem em mãos estrangeiras…
Por Artur Araújo | Imagem: Ique
Por Artur Araújo
A Operação Lava Jato, sob o disfarce de combate à corrupção, moveu
guerra de extermínio contra as empresas brasileiras dos setores de
construção civil pesada, petróleo & gás e de construção naval,
atingindo também a área metal-mecânica e de máquinas & equipamentos,
além de toda a rede produtiva a montante e a jusante dessas cadeias
longas.
Ao invés de punir
com rigor acionistas majoritários e altos executivos, corruptos e corruptores,
negociou com eles sentenças leves com preservação do grosso dos patrimônios
pessoais, obteve “delações” e concentrou todo seu aparato bélico no
destroçamento de companhias e empregos e na interferência no processo
democrático nacional, particularmente nas eleições de 2018.
Lord Keynes ganhou
destaque mundial ao publicar,
em 1919, uma brilhante previsão analítica do que resultaria do Tratado de
Versalhes, que desmontava, vingativa e interesseiramente, a capacidade produtiva
da Alemanha vencida: As Consequências
Econômicas da Paz.
Em artigo
publicado na edição de hoje (28) do Valor, Luiz Fernando de Paula e Rafael
Moura tratam das consequências da “guerra contra o Brasil” e buscam
quantificar o alcance do desastre. Seus dados demonstram que interesses
políticos e econômicos antinacionais e antidesenvolvimento valeram-se de uma
momentaneamente vitoriosa Lava Jato para predar um país derrotado, buscando
ocupar territórios estratégicos graças aos serviços mercenários prestados pelos
condottieri de Curitiba.
Abaixo, excertos
do texto, cuja íntegra (que merece leitura atenta).
“Os
principais efeitos da crise se concentraram na indústria de construção civil,
sofrendo com a paralisia resultante da retração aguda dos investimentos
estatais pelos efeitos da Lava-Jato. Os indicadores são impressionantes: entre
2014 e 2017, o setor registrou saldo negativo entre contratações e demissões de
991.734 vagas formais (com preponderância na região Sudeste); entre 2014 e
2016, representou 1.115.223 dos 5.110.284 (ou 21,8%) da perda total de postos
da população ocupada no período.
“Quando analisamos
as maiores empreiteiras, seu desmonte e descapitalização também são notórios.
Os dados levantados pelo jornal ‘O Empreiteiro’ mostram que somente entre 2015
e 2016, por exemplo, Queiroz Galvão, Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa tiveram
queda em suas receitas brutas de, respectivamente, 37%, 31% e 39%. A Odebrecht
é o caso mais emblemático: a maior construtora nacional tinha, em 2014, um
faturamento bruto de R$ 107 bilhões, com 168 mil funcionários e operações em 27
países. Já em 2017 – quase quatro anos após a eclosão do escândalo e seu
presidente/herdeiro preso – seu faturamento era de R$ 82 bilhões, com 58 mil
funcionários e atividades apenas em 14 países.
Outros gigantes do
setor – Queiroz Galvão, OAS, Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa – também
tiveram um derretimento de seus ativos financeiros consolidados de uma ordem de
R$ 25,77 bilhões em 2014 para aproximadamente R$ 8,041 bilhões em 2017 (perda
de 68,6%).
Muitas
empreiteiras, obrigadas a executarem planos de desinvestimentos para adequar-se
ao novo cenário de menos projetos e obras, além de arcar com pesados acordos de
leniência junto às autoridades, também se desfizeram de muitos ativos para
grupos estrangeiros: Odebrecht inicia processo de venda da subsidiária Braskem,
até então a maior firma petroquímica da América Latina produtora de
biopolímeros com participação expressiva da Petrobras, ao grupo holandês
LyondellBasell; Andrade Gutierrez vende seu controle sobre a Oi para acionistas
holandeses e portugueses; Camargo Corrêa vende a CPFL para a chinesa State
Grid.
(…)
As inversões da
estatal [Petrobrás] caem de 1,97% do PIB em 2013 para 0,73% do PIB em 2017 e de
9,44% do volume total de investimentos para 4,69% no mesmo recorte. Dentro do
próprio conjunto de investimentos públicos, o volume responsável pela Petrobras
também caiu de 49,3% em 2013 para 36,5% em 2017. Essa retração aguda da atuação
da empresa contribuiu para uma redução dos trabalhadores empregados formalmente
no Sistema Petrobras de 86.108 para 68.829 entre 2013 e 2016, e de 360.180 para
117.555 entre os terceirizados no período equivalente. Ou seja, num intervalo
de quatro anos a cadeia produtiva direta da empresa teve perda de quase 260 mil
postos de trabalho formais e informais.
(…)
Em síntese, o
segmento de petróleo e gás foi a ponta de lança do processo de desestruturação
econômica e desmonte da engenharia e infraestrutura do Brasil, acentuando
inclusive uma tendência grave de desnacionalização das atividades produtivas do
país em curso desde o pós-Plano Real. A desestruturação desses dois setores –
construção civil e petróleo e gás – contribuiu sobremaneira, por um lado, para
o aprofundamento da crise econômica a partir de 2015, ao qual não nos
recuperamos até momento; de outro, para a desestruturação de alguns dos poucos
setores em que o capital nacional era forte e competitivo a nível
internacional. Não é pouca coisa.”
Fonte Outras Palavras
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