sexta-feira, 11 de outubro de 2019

LULA E AS MÃOS QUE FAZEM O BRASIL


“Qualquer brasileiro poderá governar esse Brasil. Lenhador, lavrador, pescador, vaqueiro, marinheiro, funileiro, carpinteiro, contanto que seja digno do governo do Brasil, que tenha olhos para ver pelo Brasil, ouvidos para ouvir pelo Brasil, coragem de morrer pelo Brasil, ânimo de viver pelo Brasil, mãos para agir pelo Brasil".
 



Quando três profissionais talentosos se encontram e trabalham no mesmo propósito, o resultado é perene. Ainda que não dividam o mesmo tempo nem que sequer tenham se conhecido. É o caso de Fernando Morais, biógrafo de Lula, que encontrou em Gilberto Freyre, que morreu em 1987, aos 87 anos,  as palavras precisas para um ensaio de Ricardo Stuckert, fotógrafo do ex-presidente.

Ele conhece Stuckert, mas não conviveu com Freyre, talvez o tenha entrevistado, nada além disso.

As mãos de Lula e do povo que abraça Lula inspiraram Stuckert, que inspirou Morais, que foi ao Facebook. Repórter com texto primoroso, ele mesmo poderia escrever sobre as imagens. Mas certamente viu que não é necessário quando outro já o fez, com precisão. Mas não é sobre Lula stricto sensu que Gilberto Freyre escreve — nem poderia ser, já que o texto é de 1926.

E seria sobre quem?

Sobre Lula, no sentido amplo. No sentido de que haveria um brasileiro que, depois daqueles agitados anos 20, haveria de conduzir o Brasil com soberania.

Veio Getúlio em 1930, e veio também Lula, ambos resultados das mãos que se entrelaçam. Primeiro, o texto, depois as fotos. Os brasileiros de alma entenderão que são praticamente a mesma coisa.

Segue o texto:

“Qualquer brasileiro poderá governar esse Brasil

lenhador

lavrador

pescador

vaqueiro

marinheiro

funileiro

carpinteiro

contanto que seja digno do governo do Brasil

que tenha olhos para ver pelo Brasil,

ouvidos para ouvir pelo Brasil

coragem de morrer pelo Brasil

ânimo de viver pelo Brasil

mãos para agir pelo Brasil

mãos de escultor que saibam lidar com o barro forte e novo dos Brasis

mãos de engenheiro que lidem com ingresias e tratores europeus e norte-americanos a serviço do Brasil

mãos sem anéis (que os anéis não deixam o homem criar nem trabalhar).

mãos livres

mãos criadoras

mãos fraternais de todas as cores

mãos desiguais que trabalham por um Brasil sem Azeredos,

sem Irineus

sem Maurícios de Lacerda.

Sem mãos de jogadores

nem de especuladores nem de mistificadores.

Mãos todas de trabalhadores,

pretas, brancas, pardas, roxas, morenas,

de artistas

de escritores

de operários

de lavradores

de pastores

de mães criando filhos

de pais ensinando meninos

de padres benzendo afilhados

de mestres guiando aprendizes

de irmãos ajudando irmãos mais moços

de lavadeiras lavando

de pedreiros edificando

de doutores curando

de cozinheiras cozinhando

de vaqueiros tirando leite de vacas chamadas comadres dos homens.

Mãos brasileiras

brancas, morenas, pretas, pardas, roxas

tropicais

sindicais

fraternais.

Eu ouço as vozes

eu vejo as cores

eu sinto os passos

desse Brasil que vem aí.”


Seguem as fotos:




E eu acrescento mais duas mãos:





Fonte Diário do Centro do Mundo

https://www.facebook.com/antoniocavalcantefilho.cavalcante