Em menos de um ano, governo Bolsonaro já liberou registros de 439 agrotóxicos. "Sem precedentes, a gente nunca tinha visto isso", lamenta geógrafa Larissa Mies Bombardi
O governo Bolsonaro
liberou, nesta quarta-feira (27), mais 57 novos registros de
agrotóxicos. O novo ato do Ministério da Agricultura foi publicado no
Diário Oficial da União (DOU).
Oficialmente, o governo confirma a licença de um
total de 439 substâncias, mas, na verdade, o número pode chegar a 467
produtos. Independentemente, no entanto, da soma final, a quantidade de
novos registros já é a maior dos últimos 14 anos, como destacam os dados
da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida.
Entre 2008 e 2015, por exemplo, a média de
aprovações ficava em torno de 130 novos pesticidas por ano. Liberações
que saltam a partir de 2016, o ano do golpe que levou ao impeachment da
presidenta Dilma Rousseff e garantiu a presidência ao seu vice, Michel
Temer. Foram 277 registros naquele ano, 405 em 2017 e 450 em 2018.
O governo justifica afirmando que, até o momento, é
responsável pela liberação de 439 produtos – a diferença seria
referente a aprovações da gestão Temer, mas que foram publicadas apenas
neste ano no DOU.
Para a geógrafa e professora da Universidade de São
Paulo (USP) Larissa Mies Bombardi, autora do Atlas Geografia do Uso de
Agrotóxicos no Brasil e Conexões com a União Europeia, de toda forma o
governo Bolsonaro “abre as portas do inferno” com a liberação de
agrotóxicos, como reitera em entrevista à jornalista Marilu Cabañas, da
Rádio Brasil Atual.
“Não tem discussão, na verdade é um número sem precedência, a gente nunca tinha visto isso”, destaca. “Para ser precisa, este ano 34% dos novos agrotóxicos são proibidos na União Europeia”, afirma a pesquisadora, acrescentando que 34% dessas substâncias também são consideradas altamente tóxicas.
“É algo grave que a gente tem que olhar porque,
digamos assim, tem todo um argumento construído pelo governo que essas
novas aprovações são substâncias menos tóxicas e mais modernas, mas, na
verdade, de novas substâncias a gente só tem 6%. E a gente continua com
um quadro que é grave, aprovando substâncias que são proibidas em outros
países (…) Na lista dos 10 (agrotóxicos) mais vendidos no Brasil estão
produtos que são proibidos na União Europeia e foram proibidos em função
da sua toxicidade, seja humana ou para o ambiente, e não por condições
climáticas adversas. Eram utilizados, mas foram proibidos”, contesta a geógrafa.
Confira a entrevista da RBA