Neste Brasil de Bolsonaro, tudo significa o contrário do que é falado.
Meio ambiente é desmatamento. Segurança é milícia e morte. Nacionalismo é entrega de riquezas nacionais e de empresas estatais a grupos estrangeiros e patriotismo é subordinação sem limites aos interesses de outros países. Democracia é ditadura e AI-5.
Por Elvino Bohn Gass*
O Brasil parece estar em transe. O maior incêndio da história da
Amazônia foi convocado publicamente por fazendeiros da região com
direito a divulgação nas rádios locais. Quem foi preso foram jovens que
combatiam o desmatamento.
Há um verdadeiro extermínio de jovens, predominantemente negros, nas
periferias, e a proposta que se apresenta é a ampliação do “excludente
de ilicitude” [que, como bem disse Luis Fernando Verissimo, não passa de
licença para matar].
O escolhido para presidir a Fundação Palmares, destinada a promover a
cultura afrodescendente, diz que a escravidão foi benéfica e que não há
racismo no Brasil. O novo titular da Fundação Nacional das Artes afirma
que rock é abortivo. E Caetano Veloso é associado ao analfabetismo pelo
presidente da Biblioteca Nacional.
A ministra das mulheres é machista. O do meio ambiente é um vândalo
ambiental. O da economia ameaça com ditadura e se torna fator de
instabilidade espantando investidores.
O desemprego é uma chaga e o governo propõe taxar os desempregados.
Enquanto isso, a informalidade bate recorde e chega a 41% da força de
trabalho brasileira.
O IBGE divulga que metade dos brasileiros sobrevive com R$ 413,00 ao
mês, mas a nora do presidente diz que “perrengue” é viver com R$
33.000,00.
Como se não bastasse, no primeiro escalão há quem veja histeria nos
alertas de aquecimento global e, sem procurar muito, encontrar-se-á
terraplanistas. Enquanto o mundo celebra a coragem da adolescente Greta
Thunberg, o presidente a ofende chamando-a de “pirralha”.
Neste Brasil de Bolsonaro, tudo significa o contrário do que é falado.
Meio ambiente é desmatamento. Segurança é milícia e morte.
Nacionalismo é entrega de riquezas nacionais e de empresas estatais a
grupos estrangeiros e patriotismo é subordinação sem limites aos
interesses de outros países. Democracia é ditadura e AI-5.
Quando se atinge esse nível de dissociação entre palavras e seu
significado, o diagnóstico é de distúrbio mental grave. É preciso chamar
as coisas pelo nome. Somos governados por pessoas mentalmente
desequilibradas.
Passa da hora de reconhecer – e denunciar – este perigo e lutar pela
sanidade da nação. Antes que a loucura, o ódio, a mentira e o
preconceito ideológico nos roubem, além do presente, o futuro.
*Elvino Bohn Gass é deputado federal ( PT/RS)