"A ação terrorista de Trump é um acontecimento de altíssimo significado
geopolítico e militar que vergonhosamente não mereceu a condenação
enérgica da ONU e tampouco dos governos satélites e capachos dos EUA,
como os do miliciano Jair Bolsonaro e os de muitos países europeus", diz
o colunista Jeferson Miola
Brasil 247
Por Jeferson Miola Integrante do Instituto de Debates, Estudos e Alternativas de Porto Alegre (Idea), foi coordenadorexecutivo do 5º Fórum Social Mundial
A ação terrorista de Donald Trump que culminou no
assassinato do general iraniano Qasem Soleimani abre um capítulo
imponderável de tensões, incertezas e insegurança no mundo.
É preciso se certificar se existe na história mundial um
acontecimento de tamanho valor semiótico, em que o comandante da
hiperpotência imperial tenha ordenado o assassinato do mais alto
comandante militar de um Estado soberano para ser executado no
território dum terceiro Estado!
Nunca é demais lembrar que os EUA jamais ousariam incursionar pelo
território iraniano, nação que possui poder nuclear suficiente para
dissuadir aventuras invasoras.
A ação terrorista de Trump é um acontecimento de altíssimo
significado geopolítico e militar que vergonhosamente não mereceu a
condenação enérgica da ONU e tampouco dos governos satélites e capachos
dos EUA, como os do miliciano Jair Bolsonaro e os de muitos países
europeus.
A Rússia, a China e a França, países que integram o Conselho de
Segurança da ONU, condenaram o terrorismo estadunidense e alertaram para
os riscos que o banditismo imperial representa para o mundo.
É difícil, neste momento, predizer o que poderá acontecer, inclusive
porque a vingança prometida pelo Irã deverá acontecer de modo planejado e
estratégico; não será uma reação passional, atabalhoada ou improvisada.
O Irã sabe que, dependendo de sua reação, poderá favorecer a
reeleição do fascista que o trata como inimigo capital. Por isso a
inteligência do país planeja diligentemente o quê fazer.
O certo, de qualquer modo, é que haverá uma resposta. E deverá ser
uma resposta contundente, sistemática e duradoura a este ataque que
corresponde a uma declaração de guerra permanente.
As alegações para o ato terrorista – a principal delas, a de que
Soleimani programava ações contra os EUA – são falsas, como eram falsas
as alegações de Bush-filho em relação às armas químicas do Sadam
Houssein. O petróleo também não é, em definitivo, o fator essencial para
este empreendimento terrorista do Trump e da elite estadunidense.
São farsas escritas num release ditado por Trump para ser reproduzido
pela mídia hegemônica e pelos governos servis aos EUA mundo afora. A
ação terrorista do Trump foi motivada por cálculos domésticos da
política estadunidense em ano eleitoral, não por fatores de segurança
nacional ou de qualquer outra índole.
Trump não é o primeiro nem será o último ditador imperial a declarar
guerras com objetivos re-eleitorais. Antes de Trump, nas últimas décadas
Reagan, os Bush [pai e filho], Clinton e Obama também provocaram
guerras contra inimigos imaginários para alavancar seus planos
re-eleitorais.
Bush-pai foi o único deles que não conseguiu se reeleger, apesar da
mobilização de guerra contra o Iraque em 1991 [aliás, o Iraque e o
Oriente Médio estão sempre presentes como textos e pretextos das
eleições dos EUA].
Na política doméstica, Trump enfrenta o impeachment aprovado pela Câmara dos Deputados, de maioria do Partido Democrata.
O discurso do combate ao “inimigo externo”, por isso, é extremamente
funcional e eficaz para neutralizar a opinião como a da deputada
democrata Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Representantes
[deputados], que diz que Trump declarou guerra sem aprovação prévia do
Congresso dos EUA.
Nunca houve, em toda história dos EUA, presidente que tenha sido
impedido estando em guerra contra um “inimigo”. E não será desta vez que
isso acontecerá.
Com a economia dos EUA controlada, Trump precisaria estancar os danos que a ameaça do impeachment poderiam representar ao seu plano de reeleição.
Com sua ação terrorista, Trump poderá fortalecer seu plano de
reeleição. Ele poderá colher fruto re-eleitoral no curto prazo, mas
deverá jogar os EUA e o mundo no inferno.
Trump é um criminoso que deveria responder no Tribunal Penal Internacional de Haia.