“Qualquer exercício militar é conduzido por duas razões. Ou ele é executado de acordo com os planos de treinamento da prontidão de combate que um país tem, ou quando existem acordos internacionais entre órgãos de Defesa sobre exercícios conjuntos. O cenário de tal exercício pode ser de caráter tanto aberto quanto fechado”, afirmou o especialista.
Publicado no Sputnik
Exercícios navais conjuntos do Irã, Rússia e China trazem consigo
questões de segurança e econômicas e ocorrem enquanto EUA conduzem sua
política contra o Irã.
Em meio a tensões no Oriente Médio, o Irã, a Rússia e a China
realizaram exercícios navais conjuntos no golfo de Omã. A ação decorreu
do dia 27 ao dia 30 de dezembro no norte do oceano Índico. A Sputnik
explica as implicações dos exercícios, assim como que sinal eles trazem
consigo.
Para as manobras Moscou enviou o navio de patrulha Yaroslav Mudry,
além de um navio-tanque e o rebocador Viktor Konetsky. Já a China
designou seu destróier Xining.
Conforme contou à Sputnik Irã o vice-comandante do Exército do Irã,
Habibollah Sayyari, os exercícios têm como objetivo “demonstrar a
autoridade marítima do Irã no norte do oceano Índico e apresentar a sua
experiência a outras nações […] assim como o reforço das relações
internacionais entre Irã, Rússia e China e a busca de caminhos para
futuros exercícios”.
Reação externa
Os EUA expressaram sua desaprovação dos exercícios. Recentemente, Washington declarou que acompanhará de perto a atividade.
Além disso, os EUA tentaram desestimular os exercícios convocando a China e a Rússia a tomarem parte das sanções contra o Irã.
“Não é hora de os governos realizarem qualquer tipo de exercício militar com tal regime [referência ao Irã]. Nós achamos que agora é tempo de introduzir sanções contra o governo iraniano por sua violação dos direitos humanos”, declarou um alto funcionário do Departamento de Estado dos EUA a jornalistas no último dia 30.
Embora as manobras não signifiquem que Rússia, Irã e China formem uma coalizão, Teerã expressa o desejo em repetir os exercícios em ocasiões futuras.
“Os exercícios navais do Irã, Rússia e China no norte do oceano
Índico certamente não serão os últimos”, disse Sayyari no site do
Exército do Irã.
Segundo disse à Sputnik Brasil o diretor da revista Arsenal
Otechestva, Aleksei Leonkov, exercícios militares entre dois ou mais
países podem ter objetivos explícitos ou não.
“Qualquer exercício militar é conduzido por duas razões. Ou ele é
executado de acordo com os planos de treinamento da prontidão de combate
que um país tem, ou quando existem acordos internacionais entre órgãos
de Defesa sobre exercícios conjuntos. O cenário de tal exercício pode
ser de caráter tanto aberto quanto fechado”, afirmou o especialista.
Reforçando a ideia, o especialista militar e antigo oficial da Marinha russa Vasily Dandykin declarou à Sputnik Sérvia que o comportamento dos EUA na região seria uma razão.
“Tais exercícios são uma resposta ao comportamento dos EUA, os quais
anunciaram a China como sua principal adversária, e não a Rússia […] É
um forte sinal para os EUA, para os países da OTAN, para seus aliados no
Oriente Médio, um sinal de que existem forças que podem controlar a
situação”, afirmou Dandykin.
É necessário levar em conta a forte presença militar americana no
golfo Pérsico assim como os esforços de Washington para criar uma
coalizão na região, principalmente após os ataques cometidos contra as
instalações da Saudi Aramco.
Na ocasião, o Irã foi considerado por Washington como culpado pelo
ataque, assim como pelos ataques realizados contra navios-tanque no
golfo Pérsico em meados de 2019.
Em resposta, os EUA aumentaram seu contingente militar na Arábia
Saudita, assim como fortaleceram sua pressão contra o país persa ao
promover um boicote ao petróleo iraniano.
Mesmo assim, a ameaça que o terrorismo representa na região do golfo
Pérsico não é excluída como outra das razões dos exercícios.
“Atualmente, nesta região a ameaça principal é o terrorismo”, destacou Leonkov.
Interesses econômicos
De qualquer forma, os exercícios, chamados de Cinturão de Segurança
Naval, têm como fundo tanto a rivalidade entre os EUA e o Irã, como
entre Washington e Pequim.
A região é uma das espinhas dorsais do abastecimento energético do
gigante asiático, enquanto o Irã é frequentemente referido pelos EUA
como uma “ameaça”.
Além disso, o país faz parte dos interesses de cooperação econômica tanto de Moscou quanto de Pequim.
“O Irã está presente em muitos projetos políticos e econômicos
realizados por países como a Rússia e a China. Desta forma, não é de
surpreender que a cooperação econômica, e em outros projetos, também
traga consigo a cooperação militar”, disse Leonkov.
Na contramão dos projetos russos e chineses estariam os EUA, os quais
impõem sanções contra a economia iraniana, visando o enfraquecimento do
país.
Tal fato explicaria a razão dos exercícios não serem bem vistos por outros países.
“Tais exercícios geram uma reação negativa nos EUA, e talvez na
Europa e em outros países da região, os quais veem o Irã como o inimigo e
tentam de tudo para destruir a economia do Irã”, declarou Dandykin.
Fonte Sputnik
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