É um crime contra a humanidade. Algo que parece ser um “pouco” mais grave que “pedaladas fiscais”. Espero que um dia Bolsonaro seja entregue às cortes internacionais, assim como se fez com tantos criminosos de guerra que atentaram contra a humanidade.
por João Sette Whitaker Ferreira
A estas alturas, fica escancarado que o modelo econômico do
capitalismo global das últimas décadas, semelhante a um frágil
castelo de cartas, uma pirâmide de endividamento geral com dinheiro
virtual, altíssima concentração da renda e canalização maciça
de dinheiro público para o setor privado, não é capaz de sustentar
um evento catastrófico de maior porte.
O sistema tende a desmoronar pela incapacidade do setor privado em
fazer frente a uma demanda que, ao contrário da sua lógica de
funcionamento, precisa ser universal, e não exclusivista. O problema
aqui é que se não for possível conseguir a atenção universal,
todos, inclusive os mais ricos, serão afetados. Então, todo o
sistema se volta para o setor público e, surpresa, descobre-se que
este vinha sendo dilapidado pela ganância do sistema vigente. Esse é
o poder “transformador” que a pandemia está gerando, ao ponto do
presidente francês Macron, conhecido liberal, ir defender que
“somente o serviço público é capaz de responder a uma situação
como essa”.
A pandemia causada pelo coronavírus SARS-CoV-2 tem um aspecto que
ainda permite supor que não haverá – ainda – o fim da
humanidade, ou um estremecimento daqueles que nos levará em
definitivo para um mundo “à la Blade Runner”: é o fato
de que a pandemia tende a retroceder à medida que pessoas vão se
imunizando, fato que ocorreu na China, onde parece que não há mais
casos no epicentro da epidemia, em Wuhan. Assim, apesar do pânico
geral e das prováveis e tristes mortes de entes queridos, idosos ou
pessoas com doenças crônicas, o mundo se agarra nessa perspectiva
de que isso “só” durará alguns meses. A pergunta que fica é: e
se qualquer hora aparecer um vírus cujas características não
permitam que ele retroceda? O que estamos vendo é que ou o mundo
muda sua lógica, ou a qualquer hora um vírus desses acaba com o
mundo. É uma perspectiva transformadora, mas dada a lógica de uma
sociedade criada na ganância, no individualismo, na competição, na
busca do lucro acima de tudo, ela não será assim tão tranquila.
Um exemplo do quão difícil é essa transformação está na postura
do Presidente Bolsonaro que, infelizmente, representa a forma de ser
e de pensar de uma parcela significativa dos brasileiros, mas também
da população mundial, já que alhures o seu papel é assumido por
outros loucos de plantão, sendo o Trump o maioral. A questão é que
o “sistema”, governado por corporações do capital, se tornou
tão autônomo que consegue se autogovernar, desde que coloquem na
condução da economia algum soldado mandado por ele, como no caso do
Guedes no Brasil. De resto, na política quanto mais louco o cara,
melhor, já que assim ele permanentemente atrai para si os holofotes
com declarações incessantes em todos os meios da divulgação
digital, flertando permanentemente com tudo que nossa civilização
já viveu de mais tenebroso.
O problema é que esse modelo repousa no fato de que, para falar bem
de nazista e mal de negros, mulheres e afins, qualquer tosco que se
acha dono de toda a sabedoria do alto de seus parcos neurônios
serve. São esses caras, iguais aqueles que você vê por ai se
metendo em briga de macho, tomando bomba proibida na academia,
andando no acostamento e batendo em gays e mulheres, que chegaram ao
poder no Brasil. São muito bons para fazer essas coisas. A
princípio, isso poderia durar quatro anos, quem sabe até oito.
Danem-se os intelectuais, esquerdistas e outros comunistinhas se
acharem isso ruim.
Só que não. Não esperavam, mas caiu no turno deles um
acontecimento que supera sua capacidade reduzida de pensamento em
milhares e milhares de vezes, que exige gestão pública de verdade,
governança pra valer e, acreditem, isso não é fácil. Temos à
frente do país, para conduzi-lo nesse momento de crise aguda, um
louco que acha que a Terra é plana, outro que diz que se a China
fosse livre (do comunismo) não teríamos o vírus, outro que nega a
realidade e faz o oposto do que qualquer ser sensato com mais de
cinco anos de idade entenderia que é o correto a ser feito, e assim
por diante. A ironia disso tudo é que Olavo de Carvalho, guru dessa
gente, diz ter sido infectado pelo vírus que até há pouco tinha
seu alcance subestimado por seus seguidores.
Ou seja, estamos perdidos em termos de enfrentamento da pandemia, mas
alguns ainda estão em situações ainda mais preocupantes: os mais
velhos que não forem protegidos, mas, sobretudo, os mais velhos
dentre os mais pobres. E, caso não se lembrem, o Brasil tem um
bocado de pessoas vivendo com rendas baixíssimas. Um problema que
estava na pauta dos governos Lula e Dilma com o slogan explícito de
acabar com a miséria, mas que sumiu do horizonte desde que Temer foi
ao poder. 1
O vírus bolsonaristas
E é aí que entra o maior problema: a imbecilidade óbvia de
Bolsonaro, seus filhos, seus ministros, começa a ficar evidente até
para aquela atriz arrependida da Globo que bateu panela contra a
Dilma e agora bate contra o Capitão. Essa imbecilidade é óbvia e
começa a render problemas políticos ao presidente, que vê a
pressão de um impeachment se aproximar porque está sendo encampado
por uma classe média sonsa, mas que tem acesso à informação e às
suas sandices. É uma imbecilidade óbvia, de maneira mais ampla, não
somente para as classes de renda que têm acesso ao Facebook, às
redes sociais e à informação em geral, mas também nas faixas de
renda baixa, há muita gente politizada e informada que já sabia há
tempos de quem se tratava o capitão, que de mito não tem nada.
O problema é a massa de população facilmente manipulável que crê
nas bobagens desse bando de imbecis. Gente de renda mais baixa, mas
também uma multidão de gente de classe média iludida pelo
consumismo, e uns tantos socialites habituados à sua condição de
elite. Aquela que acreditou em fake News de mamadeira de piroca e que
acha possível que a Terra seja mesmo plana. Para ela, tudo que sai
da boca do Capitão e seus asseclas é sinal de irreverência,
coragem, enfrentamento à “velha política”, é tudo aplaudido.
Que ele diga que uma jornalista gosta de “dar furos”, ou que
outro tem um “jeito de homossexual horrível”, é tudo aceitável
e visto como o traço corajoso do presidente em enfrentar essa tal de
“esquerda” que supostamente acabou com o Brasil.
Até aí está ótimo. Com isso, ele
alimenta sua base política com suas bravatas manipuladoras. O
problema é quando o assunto não é mais a manutenção de sua força
política, mas a vida dos brasileiros. Nesse momento, a confusão
entre o político tosco e o Estadista que não existe torna-se
criminosa. Esse é o problema da pandemia de Covid-19 com Jair
Bolsonaro. Agora, as bravatas não são mais uma questão de
ferir nossa ética e de termos que engolir tosquices
repugnantes, são uma questão de preservar ou não milhares de
vidas.
Quando ele diz que o Coronavirus é superestimado, quando seu filho
diz que é invenção dos chineses, quando ele sai contaminando seus
apoiadores em praça pública, quando ele se confunde na difícil
tarefa de manter uma máscara no rosto, ele está semeando a morte
entre uma legião de coitados que acreditou na mamadeira de piroca.
Afinal, se o “mito” diz que é assim, é porque ele está, de
novo, enfrentando com sua ironia o “mimimi” dos que o perseguem.
Nas cidadezinhas pelo interior do País, os relatos são de que a
Covid-19 é assunto distante. Infelizmente, assim ocorre também nas
grandes cidades, onde se discute em bares como o presidente é
corajoso, engraçado, “macho”… Afinal, esse vírus é invenção
de quem quer derrubá-lo.
A questão urbana no cenário apocalíptico
A confusão entre política de Estado e o jogo partidário-eleitoral
se estabelece de vez. O político que visa a reeleição e não
perder o poder se sobrepõe ao Estadista que deveria emergir, o
Ministro das Relações Exteriores defende seu chefe, cujo filho
busca uma guerra com a China e assim vai. Para piorar, loucos
alucinados como os pastores Silas Malafaia e Edir Macedo, que há
décadas se enriqueceram às custas da crença dessa população
manipulada, semeiam a morte nas suas igrejas ao dizer que o vírus é
coisa de Satanás, mantendo os cultos que aglomeram diariamente
milhares de pessoas e dizendo que as orações irão salvá-los,
provocando, assim, possíveis contaminações em massa.
É nesse cenário trágico que a questão urbana surge em toda sua
plenitude. Seguindo dessa maneira, o vírus vai chegar, e rápido,
nas populações onde a família toda vive em cômodos apertados,
inclusive os avós idosos, com alta densidade populacional, grudados
aos vizinhos e sem saneamento. Com quase metade da mão de obra ativa
brasileira trabalhando na informalidade, falamos de uma população
que não tem escolha senão ir ao trabalho para poder sobreviver. De
pessoas que, quando a escola dos filhos para, não têm o que fazer
porque não podem parar. Nesse momento,
as orientações básicas de “ficar em casa” e “lavar as mãos”
todo o tempo tomam uma outra dimensão. E o estrago sobre a população
mais idosa será irreparável.
Para piorar, as classes médias e altas de extrema-direita – elas
também seguidoras do mito e da matilha
bolsonarista – não dão conta da gravidade da questão e mantém a
exigência de trabalho em cima de seus empregados. Há notícias
seguras de que o setor da construção civil não mandou parar as
obras, levando (e expondo) milhares de trabalhadores aos canteiros,
nos ônibus e metrôs. Guedes anunciou até verbas para o setor, para
conter a crise do coronavírus, do mesmo modo, empregadas domésticas
continuam sendo exigidas nas casas onde trabalham. O Brasil não
para, porque na visão dessa gente ele não pode parar, ou melhor,
seus bolsos não podem esvaziar e que se danem os que morram com
isso.
Assim, a previsão do Coronavírus no Brasil já não seria das
melhores por conta do fato de que temos milhões e milhões de
pessoas que ainda vivem em bairros precários e densos em condições
de habitação indignas. Uma política de Estado forte e organizada,
apoiada no SUS e na boa informação, no amparo aos trabalhadores
autônomos informais, talvez amenizasse o desastre, o problema é que
o próprio presidente do país faz exatamente o contrário. Ou
melhor, atrapalha qualquer ação mais organizada, até algumas
atitudes minimamente sensatas que seu ministro da saúde “teime”
em tomar.
É um crime contra a humanidade. Algo que parece ser um “pouco”
mais grave que “pedaladas fiscais”. Espero que um dia Bolsonaro
seja entregue às cortes internacionais, assim como se fez com tantos
criminosos de guerra que atentaram contra a humanidade.
Fonte Outras Palavras
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ESTE LOUCO TEM QUE SER INTERDITADO. SOCORRO! PRENDAM ESTE CANALHA!
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