Boicotar empresas por razões políticas, disse ao Congresso em Foco o advogado Antônio Rodrigo Machado, é algo inteiramente de acordo com a legislação em vigor. “Todo o consumidor tem o direito de expressar sua opinião, assim como todas as empresas também podem, desde que fora do período eleitoral. São movimentações democráticas lícitas”.
Por Sylvio Costa, no Congresso em Foco
O que há em comum entre as redes de varejo Centauro, Havan e
Riachuelo, as academias Bio Ritmo e Smart Fit e as cadeias de
restaurantes Coco Bambu e Madero?
Todas essas empresas, assim como outras tantas (veja a lista no final
do texto), têm como controladores ou sócios empresários que apoiam o
presidente Jair Bolsonaro. Vários deles estão bastante engajados na
convocação para as manifestações de 15 de março. A maioria pertence ao
grupo Brasil 200, plataforma constituída por empresários e profissionais
liberais que apoiaram Bolsonaro na eleição presidencial.
Alguns se tornaram influencers e colecionam seguidores na maior e
mais poderosa mídia dos tempos atuais, que é aquela formada pelas redes
sociais. Uns se tornaram até próximos da família Bolsonaro, que tende a
ser fechada a recém-chegados.
Mas nem tudo são flores para quem se acercou do poder. As mesmas
mídias sociais que deram visibilidade ao ex-deputado autodenominado
“mito” e ao seu ideário de extrema-direita são usadas agora por
consumidores que resolveram aderir ao boicote. A empresa Smart Fit foi
uma das primeiras vítimas.
Sócio das academias Smart Fit e Bio Ritmo e um dos líderes do Brasil
200, o empresário paulista Edgard Corona paga o preço de ter
compartilhado no WhatsApp vídeos de ataques ao presidente da Câmara dos
Deputados, Rodrigo Maia. Conforme revelou a jornalista Mônica Bergamo,
da Folha de S.Paulo, Corona, além de compartilhar, defendeu o
impulsionamento dos vídeos.
Embora seja o maior responsável pela aprovação da reforma da
Previdência e de outras pautas importantes para o governo, Maia é alvo
constante da desconfiança dos bolsonaristas, talvez por ter se
transformado no principal contrapeso às vociferações da família
Bolsonaro contra princípios democráticos, jornalistas , ambientalistas ,
indígenas , juristas , para ficar apenas em alguns exemplos.
Como publicou o jornal inglês The Guardian,primeiro veículo
jornalístico a noticiar o boicote, a coisa começou em um grupo fechado
do Facebook, com 320 mil membros, voltado para a população LGBT . “Estou
tentando combater um sentimento de impotência”, explicou ao jornal o
autor da iniciativa, o professor de Jornalismo Edwin Carvalho. “Sou
professor universitário, jornalista e gay. Sou tudo que Bolsonaro mais
detesta no mundo”.
Perdendo clientes em razão do posicionamento político do seu
fundador, a Smart Fit enviou ao jornal britânico mensagem na qual
ressaltou que é favorável à causa LGBT+, não apoia políticos nem
partidos e sua “missão é possibilitar o acesso democrático ao fitness de
alto padrão”.
Quem também começou a colher críticas foi o paranaense Junior Durski.
Dono da rede Madero, gravou um vídeo declarando apoio aos atos do dia
15: “Estou 100% com o presidente Jair Bolsonaro, em quem eu tenho muito
orgulho de ter votado, de ter trabalhado na campanha, de ter ido para a
rua todas as vezes em que tivemos que ir e que vamos de novo para as
ruas neste 15 de março”. Veja o vídeo.
Resultado: na sexta-feira (6), a hashtag #MaderoNuncaMais tornou-se
um dos temas mais comentados do Twitter brasileiro. Mobilizações
semelhantes têm sido feitas contra outras empresas cujos proprietários
continuam a apoiar Bolsonaro, sobretudo aqueles engajados na organização
das manifestações de 15 de março. Os atos e o envolvimento de membros
do governo em sua preparação geraram grave crise política ainda durante o
Carnaval , em razão da percepção geral de que o Palácio do Planalto
incentiva uma articulação divulgada por ativistas que fazem defesa
declarada do fechamento do Congresso Nacional e do STF e da volta da
ditadura militar. Quase todas as forças políticas e até o habitualmente
discreto ministro Celso de Mello condenaram o comportamento de Jair
Bolsonaro. Apesar disso, no sábado (7), ele preferiu tornar público o
apoio ao ato, também conhecido como “Dia do Foda-se” , que até então ele
negava apoiar, alegando que a manifestação é a favor do governo, não
contra o Parlamento e a democracia.
Boicotar empresas por razões políticas, disse ao Congresso em Foco o
advogado Antônio Rodrigo Machado, é algo inteiramente de acordo com a
legislação em vigor. “Todo o consumidor tem o direito de expressar sua
opinião, assim como todas as empresas também podem, desde que fora do
período eleitoral. São movimentações democráticas lícitas”.
Veja quais são as empresas ligadas a Bolsonaro (e os sócios que defendem o presidente e/ou os atos do dia 15)
Ampla Projetos (consultoria financeira) – Dilermando Garcia Ribeiro Júnior
Bemisa (mineração) – Marcelo Pessoa
Beauty’in (beleza) – Cris Arcangeli
Bio Ritmo (academia de ginástica) – Edgard Corona
Cae Fisio (fisioterapia) – Caê
Centauro (artigos esportivos) – Sebastião Bonfim
Coco Bambu (restaurante) – Afrânio Barreira
FKO Empreendimentos (setor imobiliário) – Otávio Fakhoury
Galápagos (setor financeiro) – Marcelo Pessoa
Gazeta do Povo (mídia) – Guilherme Cunha Pereira
Gocil (segurança) – Washington Cinel
Havan (comércio de varejo) – Luciano Hang
Madero (restaurante) – Junior Durski
Madetec (móveis) – Luciano Morassutti
Mauá Investimentos (setor financeiro) – Otávio Fakhoury
Polishop (varejo, mídia e e-commerce) – João Apolinário
Riachuelo (comércio de varejo) – Flávio Rocha
Smart Fit (academia de ginástica) – Edgard Corona
Fonte Outras Mídias