"No desespero de tentar sobreviver politicamente, faz jogadas cada vez mais ousadas para adular e incendiar suas hordas e milícias digitais", escreve o colunista Marco Aurélio Carvalho. "O 'presidente atleta' joga contra o seu próprio time, e joga contra um país inteiro"
Por Marco Aurélio de Carvalho
Quando as pistas levaram aos milicianos em seu quintal, ele
culpou os investigadores. Quando os radares mapearam fogo na Amazônia,
ele atacou os cientistas. Teve a ousadia de culpar o IBGE pelo
desemprego, e parece convicto de que a mídia só inventa ou cria
“problemas”.
Como o atleta que se diz ser, acha-se imune a uma doença que derrubou
mais de 20 de seus assessores diretos, e que está presente em 185
países, onde contaminou mais de 2 milhões de pessoas e matou quase 150
mil em todo o mundo.
Doença que pode, em breve, levar o nosso sistema de saúde ao colapso, aprofundando o drama de milhares de famílias brasileiras.
O que vimos até agora é alguém com fôlego de atleta para armar
confusões e para levantar cortinas de fumaça a fim de esconder suas
próprias incapacidades.
Mais por falta de repertório do que por estratégia, Bolsonaro habituou-se a resolver um conflito criando outro.
Cansamos desse filme. Só que ele atravessou um novo limite quando foi
ao ar para convocar os brasileiros a ir para a rua, contrariando o que a
ciência, a religião e a política estão pregando. Em um raro momento em
que “poderes” tão diversos repetem o mesmo refrão, “fique em casa!”, ele
diz exatamente o contrário.
Desinforma, confunde, atrapalha e coloca vidas em risco.
O fato é que nosso “presidente atleta” não tem força e nem estatura
para carregar sua faixa. Com a coluna envergada, só consegue olhar para
baixo, nos porões onde estão seus defensores mais aguerridos.
Do “gabinete do ódio”, Bolsonaro organiza e alimenta a oposição do
seu próprio Governo. Algo nunca visto antes na história do país.
Sem diretrizes de curto prazo para que o turbilhão de medidas
preventivas no campo da saúde pública tivesse também efeito na economia,
o Presidente preferiu atirar contra as medidas sanitárias, esgarçando
um raro movimento de unidade nacional.
Depois de quase duas semanas de um enorme esforço coletivo,
preventivo, de isolamento social horizontal, o Presidente da República
dispara um pronunciamento irresponsável para a nação atropelando as
recomendações médicas e de saúde praticadas em escala global sob a
coordenação da Organização Mundial da Saúde, e até então vigentes em
parte significativa do mundo e em todo o nosso País.
Um convite a um perigoso, real e iminente risco de contaminação por um vírus mortal e muito pouco conhecido.
Logo após, recua e dá, uma vez mais, sinais confusos e contraditórios.
Em novos pronunciamentos em rede nacional, dá seta para esquerda, mas vira para a direita.
Em eventos com grande aglomeração de pessoas, Bolsonaro enfrenta e
desrespeita todas as recomendações do seu próprio Ministro da Saúde,
dando, assim, mais um péssimo exemplo para a nação que deveria dirigir.
A propósito, com o objetivo de implementar uma profunda agenda de
retrocessos em direitos e garantias individuais, seu Governo investiu em
uma nova crise , inaugurando a “novela” da demissão do Ministro Luiz
Henrique Mandetta. Práticas diversionistas conhecidas e recorrentes.
Bolsonaro pode até estar imune a este vírus, já que não se tem
conhecimento efetivo a respeito de seu estado real de saúde e de sua
eventual contaminação, mas deve saber quais são suas inúmeras e variadas
vulnerabilidades. Em 30 dias, por determinação da Câmara dos Deputados,
o país conhecerá o resultado dos seus exames , e a sua situação pode
ficar ainda mais delicada.
No desespero de tentar sobreviver politicamente, faz jogadas cada vez
mais ousadas para adular e incendiar suas hordas e milícias digitais.
Chegou a facilitar perigosamente “o jogo para o adversário”,
recomendando o afrouxamento das medidas de isolamento social. O
“presidente atleta” joga contra o seu próprio time, e joga contra um
país inteiro.
Na corda bamba, o “craque” da equipe, Ministro Mandetta, prepara-se para abandonar o campo e o jogo.
Embora tenha militado contra o revolucionário programa “Mais
Médicos”, contra a “Farmácia popular”, contra o processo de
financiamento da “Atenção básica” e contra o importante programa de
saúde mental (antimanicomial) até então vigente, o fato é que não se
pode deixar de reconhecer o importante papel do Ministro Mandetta e de
sua equipe na luta árdua contra a pandemia que assola o Brasil e o
mundo.
A boa notícia é que o Supremo Tribunal Federal , por maioria de votos
e em sessão histórica por videoconferência, permitiu que Estados e
Municípios definam suas próprias regras para isolamento.
No dizer do Ministro Gilmar Mendes, “Bolsonaro pode até demitir o
Ministro da Saúde, mas não dispõe de poder para eventualmente exercer
uma política pública de caráter genocida”.
Sábias, cirúrgicas e tranquilizadoras palavras.
A disputa política leviana, irresponsável e inútil que vem travando
com os Governadores dos Estados da federação e com alguns de seus
colaboradores mais próximos tem como pano de fundo a insensibilidade
social, a miopia e a inércia da área econômica.
Governos diversos estão adotando medidas robustas para mitigar os
efeitos da epidemia covid-19. A OCDE (Organização para Cooperação e
Desenvolvimento Econômico) em carta para diversos chefes de Estado,
conclamou as lideranças para uma atuação conjunta com "a ambição do
“Plano Marshall” (plano de reconstrução da Europa depois da Segunda
Guerra) e com a visão do “New Deal”, programa de combate aos efeitos da
recessão dos anos 1930 nos EUA”.
É verdade que a ciência neste momento não reúne domínio completo
sobre a ameaça, de modo a poder subsidiar integralmente os governantes.
Mas é verdade também que só ela pode encontrar os melhores caminhos e as
melhores alternativas para este gigantesco problema.
Dúvidas exigem exame racional e, sobretudo, serenidade. O que existe
de experiências e conhecimentos acumulados no combate às mazelas
sanitárias foi suficiente para embasar as decisões políticas em todos os
países, a saber: a velocidade e o alto grau de transmissão do vírus,
sua letalidade e, por fim, um fator colateral complexo, que é a
sobrecarga do aparato de saúde, público e privado.
Aqui não se trata de possibilidades, mas sim de realidade. “Não quero
saber de debate entre especialistas. O que me interessa são os fatos. E
os fatos mostram que só os países que impuseram distanciamento social e
testaram maciçamente sua população, tiveram sucesso no combate à
pandemia”, advertiu o virologista Paolo Zanotto, da Universidade de São
Paulo em entrevista recente para a imprensa.
Planos improvisados e medidas erráticas evidenciam que a humanidade
não estava realmente preparada para esta calamidade global. Pegos de
surpresa, mesmo assim, chefes de Estado da maior parte dos países
assumiram as recomendações técnico-científicas dos especialistas em
saúde pública.
Como a pandemia do Corona vírus é, de fato, “o terceiro e maior
choque econômico do século 21”, resta esperar das lideranças políticas
aquilo que no futebol se chama de “o fator craque”: que assumam as
rédeas de uma partida difícil, desfavorável, e vençam o jogo com
habilidade, liderança e espírito de equipe.
Outras lideranças mundiais abraçaram o desafio e fizeram o que lhes
era possível, deixando a lição de que a vida humana e a economia podem
andar juntas. Nestes tempos de emergência, é preciso cuidar da saúde
pública tanto quanto é preciso salvar empregos e manter as empresas
vivas. A escolha de um, compromete os três.
Preservar a vida, mantendo empregos e a vitalidade das empresas...
Nesta ordem, concomitante e paralelamente. Eis o grande desafio.
A ação política responsável é algo escasso nestes tempos. A
advertência de Abraham Lincoln baliza as decisões, ou as omissões do
presente. “Você não consegue escapar da responsabilidade de amanhã
esquivando-se dela hoje”.
Durante as eleições, Bolsonaro fugiu dos debates para não enfrentar
questionamentos; no governo, repele com ataques as perguntas que não
quer ou não sabe responder. Do amanhã, não poderá fugir.
Governar com o “sentimento das redes sociais”, fabricando fatos e
destilando ódio, não haverá de colaborar com o enfrentamento dos
desafios que se apresentam.
Em quaisquer cenários, pode-se afirmar com segurança que Bolsonaro sairá ainda menor do que entrou...
Um verdadeiro neutrino !!!
Fonte Brasil 247
SEM VACINA CONTRA CORONAVÍRUS, MUNDO DEVE TER QUARENTENA PROLONGADA OU ALTERNADA ATÉ 2022, DIZ ESTUDO.
"Só se resolve mais rápido com vacina, tratamento novo e aumento de
capacidade de saúde", disse o biólogo e pesquisador Átila Iamarino, ao
comentar o estudo assinado por pesquisadores da Universidade Harvard,
nos EUA