"Aqui, matar índio, preto, pobre, LGBT+, morador de rua, presidiário
nunca foi problema. Tudo é naturalizado como 'normal', ou 'porque Deus
quis assim...' E a certeza na justiça seletiva", diz o colunista Robson
Sávio Reis Souza. "Com o bolsonarismo", diz ele, "os nazibrasileiros
atuam sem nenhum pudor. Sentem-se protegidos e motivados"
Por Robson Sávio Reis Souza, é Doutor em Ciências Sociais e pós-doutor em Direitos Humanos
Leio as manchetes: “Empresário sugere dar tiro no governador
de AL para encerrar isolamento”. “Vai morrer gente? Vai morrer gente,
diz Bolsonaro”. “No meu caso particular, pelo meu histórico de atleta,
caso fosse contaminado pelo vírus, não precisaria me preocupar”. “Bolsonaro publica vídeo de pastor que o aponta como o escolhido de Deus
para governar o Brasil”. “12 mil mortos é pouco para histeria, reafirma
empresário”. “Bolsonaristas debocham da epidemia enquanto pessoas
morrem”. “Madero, Havan, Girafas: empresários criticam medidas de
combate à pandemia”. “Embalada por Bolsonaro, carreata antiquarentena
teve carrões de luxo e bandeiras do Brasil”. “Bolsonaristas pedem
intervenção militar para acabar com a quarentena”.
Salvacionismo, racismo, militarismo, messianismo, antiliberalismo,
exaltação da violência e da morte, sectarismo, arianismo são
características do nazismo e destes discursos acima.
Você já viu manchetes como essas em alguma parte do mundo? Se não, é bom refletir...
O Brasil, historicamente, é um dos países mais violentos do mundo.
Uma das maiores fake news que aprendemos nos "bancos escolares" é que
o Brasil e seu povo são pacíficos. O povo, mais ou menos, porque a
violência está espraiada em todos os cantos. E ser vítima da violência
estrutural não justifica o uso da violência como forma de opressão
àquele(a) que está numa condição "inferior".
Em relação às elites, já comentei várias vezes: são e sempre foram de mentalidade escravocrata, salvo exceções.
Aqui, matar índio, preto, pobre, LGBT+, morador de rua, presidiário
nunca foi problema. Tudo é naturalizado como "normal", ou "porque Deus
quis assim..." E a certeza na justiça seletiva.
Voltemos ao período do nazismo. Este país foi um dos que abrigou
muitos nazistas, mesmo sendo este fato histórico escondido e negado
pelos "autores da história oficial". Gente que sempre considerou pobres,
pretos, etc como "raça inferior" e cujo pensamento se associava
facilmente ao modus operandi das elites de mentalidade e práticas escravocratas destas plagas.
Portanto, aqui havia solo fértil para esse tipo de gente e ideologia.
Em vários momentos da história, os nazistas enrustidos à brasileira mostraram sua cara.
Entre 1928 a 1938, uma Seção Brasileira do Partido Nazista funcionou sem ser incomodada pelo governo de Getúlio Vargas.
Durante a ditadura, gente com a mentalidade nazi se associou à
chamada "linha dura" para patrocinar e financiar todo tipo de
arbitrariedade.
Depois da chamada "abertura democrática", um pacto entre elites - que
não puniu os perpetradores de inúmeras violações aos direitos humanos
-, os nazibrasileiros, já incorporados aos segmentos sanguinários da
nossa sociedade, voltaram para dentro do armário. Mas, lá estavam...
Quem são e onde estão? Há uma turma “acima de qualquer suspeita”. São
"gente fina", "gente de bem", "bons cristãos", "fazedores de obras
caritativas"; líderes de entidades "beneméritas e filantrópicas",
frequentadores das "altas rodas sociais". E há outros totalmente
despudorados, que pregam a morte e o assassinato de qualquer opositor
com desfaçatez, ainda mais em tempos de redes sociais.
A partir de 2013, os nazibrasileiros foram lentamente mostrando,
novamente, sua cara. (Lembremos, por exemplo, de algumas capas de certas
revistas semanais...).
Com o bolsonarismo atuam sem nenhum pudor. Sentem-se protegidos e
motivados. Afinal, olham no Planalto e têm o exemplo do "padrinho": um
exaltador da tortura, da violência e da morte. Estão confortados e
consolados.
*Robson Sávio Reis Souza é Doutor em Ciências Sociais e pós-doutor em Direitos Humanos
"Impediram ambulância de passar, fizeram buzinaço em frente a hospital,
ofendem médicos nas redes. Descontrolado, o gado está descontrolado."
(Marilice de Matos).